Consumir de forma responsável e consciente é mais do que uma escolha, é praticamente uma batalha. Especialmente para quem segue a linha de alimentação vegana (sem nenhum componente de origem animal) e busca consumir produtos cruelty-free, ou seja, não testados em animais. Num cenário em que o processo de fabricação de muitos itens ainda não é totalmente claro para o consumidor, quem quer praticar a compra consciente muitas vezes precisa garimpar pela internet e por lojas físicas atrás dessas alternativas. Para atender este nicho de mercado, a jovem empreendedora Samyra Cunha, 26, e dois amigos, Andrew Ricardo Pedro, 27, e Luis Bernardinelli, 24, chegaram ao conceito do que seria a VeggieBox.
Com o mote “viva seus valores”, a VeggieBox é um clube de assinaturas que oferece curadoria e entrega de uma caixa mensal com produtos cosméticos e alimentícios veganos. Tudo sem nenhum componente de origem animal, sem ser testado nos bichinhos. A ideia surgiu em um bate-papo sobre as dificuldades de encontrar esses produtos, principalmente na área de cosméticos. Samyra conta:
“Tenho amigos veganos, vegetarianos e simpatizantes da causa. Percebi que, quando eles compravam, muitas vezes os itens vinham dos Estados Unidos, Canadá ou Europa. A carência nesse segmento é muito grande”
Ela se inspirou em iniciativas existentes. Uma delas, o clube de assinatura de beleza brasileiro GlamBox, de cosméticos, e a outra, o americano Vegan Cuts, que entrega exclusivamente produtos veganos. Ambos utilizam o esquema de assinaturas. Para viabilizar a proposta da VeggieBox, foi lançado um crowdfunding na plataforma Kickante, em novembro de 2014, que ficou no ar durante três meses. “Era possível doar a partir de um real. Nossa meta de 15 mil reais foi ultrapassada, chegando a 18 mil reais”, conta Samyra.
A pulverização do chamado pelas mídias sociais e em alguns veículos de comunicação importantes no segmento teve papel fundamental no sucesso do financiamento coletivo. “Saímos no Catraca Livre, no Ciclo Vivo, no Vista-se, além de ter contado com o apoio de blogueiros da área, que abraçaram a causa”, lembra ela. Três meses depois, em fevereiro de 2014, o clube de compras começou a funcionar.
DEU CERTO PORQUE AS PESSOAS QUISERAM ASSIM
A cada mês, os assinantes recebem uma caixa, pelo correio, com produtos diversos que são escolhidos especificamente para cada edição. Há duas opções de assinatura: o box de cosméticos, que leva de quatro a sete produtos full-size e miniaturas, como shampoos, cremes hidratantes e esmaltes; e a opção snack, com seis a nove itens alimentícios, como pipoca fitness, chocolates, chips de proteína etc. As assinaturas custam 89,90 (no plano mensal) ou (239,99) no trimestral. A VeggieBox tem cerca de 900 assinantes do box de beleza e 300 para o de alimentos.
Samyra se formou em 2013 em jornalismo pela Metodista, e trabalhava até então em assessoria de imprensa. Em fevereiro deste ano, com a intensificação da demanda, ela decidiu sair da área e se dedicar totalmente à empresa. Andrew é formado em marketing pela FMU (2012), e Luis é projetista com técnico em Projetos pela ETE de São Bernardo (2012), ambos também se dedicam exclusivamente à VeggieBox.
Samyra e os sócios planejam abrir lojas físicas futuramente. Um dos projetos atuais da empresa é o Veggie do Bem, no qual parte do dinheiro das vendas dos links promocionais vai para ONG’s que cuidam de animais, como a Catland, Adote um Gatinho e a ABPA-Bahia. O site também tem um blog, que dá dicas de alimentação, receitas e comportamento.
“Um dos nossos diferenciais é sempre enviarmos um acessório próprio, com o nosso logo. Já oferecemos toalha para rosto, squeeze, espelhinho. Além disso, também enviamos uma revista que nós mesmos produzimos”, conta Samyra. “Isso faz com que as clientes fiquem ansiosas para saber qual item irá nos boxes, além dos produtos que são sortidos.”
Inicialmente, a empresa contou com ajuda de blogueiras do nicho vegano e vegetariano para fazer a curadoria dos produtos, como Eliana Castro, do blog Beleza Vegana. Os principais parceiros que fornecem os snacks são a Quero Poc e a Mãe Terra. Dos produtos cosméticos, a Feito Brasil, a Cativa Natureza e a Bioart. A Alva também é uma das empresas parceiras. “E nós trabalhamos muito com saboarias, que são produtores de sabonetes artesanais, como a NatiEmporium e a Sal da Terra. Eles produzem outros produtos, como shampoo e maquiagens, todos feitos com componentes naturais”, diz Samyra. Ela conta que é muito comum as pessoas consumirem produtos com ingredientes de origem animal sem saber. “A NatiEmporium tem uma máscara de cílios que não vai cera de abelha, por exemplo, componente que acompanha quase todas as marcas industriais”, diz.
NÃO É FÁCIL SER VEGANO
A empreendedora admite que buscar um estilo de vida mais saudável e com mais consciência em relação aos animais não é tarefa fácil. “Ainda não sou vegetariana, mas estou tentando. Com a VeggieBox, me tornei mais consciente e agora tenho essa vontade. Inclusive, aderi à campanha Segunda Sem Carne, e também não consumo carne às quartas”, conta. No entender dela, a mídia tem muito impacto na falta de consciência das pessoas. “Há muitas reportagens sobre uma busca pela vida mais saudável, as pessoas estão fazendo mais exercícios e procurando comer melhor, mas pouco se fala sobre crueldade animal ou vegetarianismo”, diz.
Além de pessoas com essas restrições no consumo, o público-alvo da VeggieBox também engloba quem está preocupado com o contato com componentes químicos que podem ser prejudiciais à saúde. Para Samyra, o principal problema está na “total falta de conhecimento” de como alguns processos industriais funcionam, de como impactam no meio ambiente e até mesmo a economia dos países que os produzem.
“No passado, se me oferecessem uma sombra mineral para os olhos e uma superpigmentada, fabricada nos moldes tradicionais, eu iria na superpigmentada, pensando apenas no resultado final, acharia que a mineral não seria tão boa”, conta. Para ela, é preciso desconstruir preconceitos. “É como no ballet, todos acham a dança linda, mas ninguém vê o pé da bailarina quando termina, cheio de feridas e calos. Podemos transferir esse pensamento para o dia a dia, você não pensa em toda dor que pode existir por trás da beleza. As pessoas não pensam em tudo o que aconteceu para que aquele batom maravilhoso fosse fabricado”, diz, de batom vermelho vegano. É possível.
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