Os dois últimos anos foram de mudança para Isabella Prata, fundadora e diretora do Instituto Escola São Paulo, que se dedica a cursos especializados em economia criativa. Inovadora no segmento, a Escola sempre procura trazer cursos atrativos para quem quer se profissionalizar em diversas áreas da economia criativa como música, fotografia, arte, moda, cinema, comunicação e marketing. Resultado das mudanças é que, hoje, a empresa é menor do que já foi e isso é um ganho — de qualidade de vida e de perspectiva para a empreendedora.
A Escola São Paulo abriu as portas em 2006 de maneira despretensiosa, mas já com o conceito de oferecer cursos livres ligados à economia criativa. Com a procura aumentando, os cursos ganharam corpo, mais professores e adeptos. O negócio expandiu-se rapidamente e, na avaliação da fundadora, de 2009 em diante a Escola passou a chamar muita atenção, ganhando destaque em jornais e na televisão. Nessa época, ela buscou uma empresa de consultoria, que a incentivou a expandir o negócio.
Resultado desse processo, em 2013 Isabella abria a segunda unidade da Escola São Paulo, uma casa na rua Augusta, distante alguns quarteirões da sede. Cheia de garbo, a nova unidade abriu com a estilista Gloria Coelho como professora convidada da instituição. Vieram também cursos maiores, como o Intensivo de Moda, que tinha também os estilistas Pedro Lourenço e Lorenzo Merlino no time. Tudo parecia bem, mas Isabella conta que ao longo do ano seguinte, 2014, ela começou a se sentir um pouco sufocada:
“Há um ano e meio olhei o mundo ao meu redor e não estava satisfeita. Tinha uma grande empresa para administrar e não podia mais ter um modo de vida que gostava. Virei uma administradora de prédios”
A constatação a levou a decidir, no primeiro semestre deste ano, pela primeira grande mudança na administração da Escola São Paulo: fechar o segundo prédio e manter apenas a sede. “Eu não tinha mais tempo para fazer o desenvolvimento de pesquisa para novos cursos nem espaço na agenda para compartilhar com as pessoas”, conta Isabella sobre o porquê de escolher encolher o negócio em vez de expandir cada vez mais, como incentivava a consultoria que ela contratara anos antes.
QUANDO DIMINUIR É A MELHOR MANEIRA DE CRESCER
Era hora de olhar para dentro. A mudança de atitude no negócio que criou e a vontade de gostar do que via no mundo ao seu redor fizeram a fundadora da Escola ir atrás de outros movimentos que a complementassem. Vegetariana já há doze anos, Isabella agora está terminando o mestrado em Ciências e Economia na Schumacher College, escola na Inglaterra conhecida por trabalhar com sustentabilidade e no último mês de setembro passou por Alemanha, Rússia e Inglaterra, onde aproveitou para estudar.
O respiro deu frutos. Tudo culminou no desenvolvimento de novos cursos para a Escola São Paulo, como o de Empreendedorismo Consciente e Bem Estar, que ela própria ministra ao lado de Beatriz Aquino, coordenadora de conteúdo da instituição e Júlia Cavalcante, que comanda o departamento financeiro.
Em um vídeo, Isabella conta o que os alunos vão encontrar no curso e afirma que empreendedorismo consciente e bem-estar têm muito a ver um com o outro. “Economistas do mundo todo têm publicado ensaios sobre a urgência de se mudar esses paradigmas, dissertando sobre algumas questões como aumentar a qualidade de vida não pode impactar nos limites físicos do planeta (…). A gente precisa buscar novas formas de desenvolvimento e eu acredito que um dos caminhos é constituir empresas colaborativamente, principalmente considerando a relevância de se dar valor as questões locais, evitando esses impactos sociais negativos”, ela diz.
Esta é também uma filosofia da Escola São Paulo, que recebeu este nome justamente por trazer em seu DNA cursos que estimulassem os alunos a pensar na cidade de outra forma e transformarem o que está ao seu redor. A própria Escola desenvolve, desde 2003, um projeto chamado LAB SP, que costuma fazer intervenções na cidade de São Paulo e especialmente na rua Augusta, onde fica a sede do instituto (no número 2 239). O intuito dessas ações é incentivar que mais pessoas, ideias, projetos e movimentos se apoderem do espaço urbano de forma colaborativa e sustentável, tirando sempre que possível o aluno de dentro da sala de aula.
A EXPANSÃO PODE SER VIRTUAL
Com o processo de fechamento do segundo prédio da Escola São Paulo, as movimentação na internet tornou-se naturalmente mais forte. Segundo Beatriz Aquino, desde 2011, a instituição percebeu a necessidade de investir em cursos online. Ainda mais depois de perceber que 40% dos alunos eram (e são) de outros estados. Essa projeto começou com vídeo-aulas, que davam um gostinho do que era estudar por lá. Com o sucesso dessas aulas virtuais, com destaque para a de Coolhunting, que prepara os estudantes para trabalhar com novas tendências de mercado, a Escola passou a trabalhar mais forte na produção de conteúdo especialmente para a web, a partir de 2012.
“Não tem como fugir do online, né? O nosso foco hoje é no online. Nós queremos deixar de ministrar tantas aulas na nossa sede. Hoje temos cerca de mil alunos inscritos nos diversos cursos”, conta Isabella. Beatriz emenda: “Temos bastante interesse e os cursos online são importantes porque quebram essa barreira geográfica”. Muito antes de os cursos na web existirem, Beatriz foi uma dessas alunas, que deixou a cidade natal, em São José dos Campos para vir à capital paulista estudar Administração. Matriculou-se na Escola São Paulo para fazer um curso de cinema e se apaixonou. Acabou conseguindo uma vaga na instituição e está há dois anos trabalhando lá.
Com as mudanças recentes, a empreendedora tem evitado falar em números exatos, mas afirma que, na época de maior giro a Escola chegou a atender quase 30 mil alunos. Uma reportagem sobre a instituição apontava, em 2011, 5 mil inscritos em um semestre, distribuídos em 294 diferentes cursos. Hoje a oferta é menor: há 15 cursos online, 16 palestras para assistir no site e 16 cursos abertos para este semestre, além de seis talks gratuitos e mais 13 cursos para o verão de 2016.
Há uma variação nos preços, que vão de 870 a 2.400 reais, dependendo do curso. A maioria deles tem duração de duas semanas e os professores estão no hall de experts em suas áreas de atuação: o músico Dado Villa Lobos, o estilista Alexandre Herchcovitch, a jornalista Bia Granja e a também estilista Rita Comparato estão entre os confirmados para o próximo semestre. Já ministraram aulas por lá a cineasta Lina Chamie, a holandesa e coolhunting Li Edelkoort e o fotógrafo Bob Wolfenson, entre muitos outros.
Após as mudanças e o enxugamento, a Escola São Paulo deverá fechar 2015 com cerca de três mil alunos atendidos. É menos, mas é melhor. Isabella também conta que, além dos alunos regulares, a Escola trabalha com muitas empresas, dando aulas de reciclagem para profissionais.
UM LUGAR ESSENCIALMENTE ABERTO
Para quem quiser conhecer a Escola São Paulo sem gastar, uma das opções é participar dos “talks”, que são conversas sobre diversos temas atuais, que têm acesso livre e duração de cerca de 40 minutos. O navegador Amyr Klink e a cantora Marina Lima foram alguns dos convidados. No site estão disponíveis algumas delas, como as com o curador suíço mundialmente conhecido Hans-Ulrich Obrist, que também fez uma entrevista com o rapper Criolo, Anna e Camila Haddad e com o ex-baterista d’O Rappa, Marcelo Yukka.
Outra opção é simplesmente ir ao local, que é aberto à comunidade. Além de uma biblioteca, a Escola São Paulo também tem um café que ganhou destaque no Guia da Folha como um espaço agradável de trabalho. Muito utilizado pelos alunos, o café estava cheio no dia em que conversei com Isabella. Logo atrás de nós acontecia uma reunião de alunos que discutiam um novo negócio nascido em uma das aulas da Escola. Mais tarde haveria mais uma, dessa vez com novos empreendedores para trocar experiências.
A Escola São Paulo também abre espaço para startups e pequenas empresas que queiram utilizar o local para trabalhar e alugar as salas para o chamado Co.Space, ou espaço colaborativo, lugar de convivência, para troca de experiências e networking. As salas custam 40 reais o m². Daí, vale completar o espaço físico da Escola, que tem quatro salas de aula, um terraço e o pátio, além das já citadas biblioteca e café.
O espírito da Escola São Paulo vem de sua fundadora e diretora, Isabella Prata. Despojada, curiosa e antes de tudo uma pessoa inquieta, ela abandonou o curso de Comunicação Visual, mas acabou entrando no mundo das artes e passou a desenvolver projetos para a área. Na década de 1980, iniciou sua carreira trazendo exposições de vários artistas pela primeira vez ao Brasil, como Mathew Barney e Félix Gonzales.
Conhecida por ser uma detectora de tendências, nos idos de 2000 passou a fazer espaços pop-ups que integravam economia, artes plásticas, moda, gastronomia, tudo de uma vez só. Já trabalhou com o chef Alex Atala, o cineasta Karim Ainouz, e abria espaço para jovens talentos, como Céu, Otto, o DJ Marky e a designer de joias Ara Vartanian, entre outros. Mais de 100 projetos passaram por sua organização, criação e produção:
“Sempre trabalhei com a multiplicidade. Nunca vi as coisas de forma segmentada. Acredito no valor educativo dos projetos que se dão em espaço públicos e busco fazê-los gratuitos”
Isabella prossegue: “A obra de arte só existe quando existe o espectador. E a arte ajuda as pessoas a construir ética, melhores relacionamentos e na aceitação do novo”. Depois de 40 minutos de conversa, ela se diz cansada, pergunta se quero saber de alguma coisa e emenda, educada: “Quer uma cerveja? Hoje é sexta, né?” e me oferece uma Heineken, uma das parceiras da Escola São Paulo.
Os sócios Daniel De Tomazo e Felipe Senise falam do desejo de difundir a cultura do pensamento estratégico e da abertura dos cursos para que os alunos errem e recebam feedbacks abertamente.