O paulista André Monteiro, 35, é um entusiasta do empreendedorismo e não esconde a sua vontade de mudar o mundo com o que faz. Sua rotina envolve viagens de pesquisa a Israel e outros países, contato e discussões com investidores do Vale do Silício para manter informados e conectados os 15 mil membros da rede +Innovators, fundada por Bedy Yang e da qual André é sócio e CEO. A empresa (que também é chamada Brazil Innovators) é uma rede global que capacita talentos focados em alta disrupção. Até o final desta matéria, ele vai te convencer a empreender.
A trajetória de André começou cedo, aos 16 anos, quando descobriu que a inquietação para criar era maior do que a vontade de ser empregado. “Sempre tive uma curiosidade muito grande em fazer coisas, montar e vender. Quando comecei a buscar o que queria, pensei em Medicina, mas na hora de fazer o exercício de me ver lá na frente, e sempre me via como o dono de uma clínica ou de um hospital”, conta.
Ele acabou cursando Administração e Negócios na Universidade Federal do Paraná. Já formado, ganhou experiência como consultor júnior na universidade e investiu em diferentes projetos. Em 2007, criou junto com o amigo Bruno Medeiros a startup Compra3, então um portal pioneiro em e-commerce que tinha um modelo progressivo de reembolso usando o conceito de inteligência coletiva. A empresa ganhou destaque na Time, no New York Times e na Venture Beat, sendo considerada uma das inovações mais interessantes do setor.
Em 2012, a visibilidade conquistada com a Compra3 transformou-se em um convite inesperado para ser co-autor do livro Growth in a Difficult Decade, assinado ao lado de nomes como Donald Trump, Howard Schultz, do Starbucks, e Reid Hoffman, do LinkedIn. No livro, André conta como driblou os desafios de empreender no mercado brasileiro.
Um ano antes, em 2011, ele havia sido convidado por Bedy Yang para participar da rede +Innovators, da qual se tornaria sócio e CEO. Na incubadora de talentos, André capacita empreendedores brasileiros em diversos programas de incentivo a inovação. Um deles, o Tech Mission, é uma imersão e capacitação na qual empreendedores à frente de projetos com potencial ganham mentoria no Vale do Silício durante sete dias. Ele fala a respeito: “Na +Innovators tentamos separar por níveis para conseguir ajudar empreendedores em várias etapas. No Tech Mission, combinamos todos os programas, avaliamos mais de duzentas empresas até chegar em um nicho de dez, as com mais potencial”.
Ele afirma que este é o projeto que mais toma tempo, que é menos rentável mas que é muito recompensador: “Sempre fico surpreso quando fazemos essa composição. Não é só o cara que tem negócio de potencial multibilionário. Temos o cara que tem um diferencial intelectual gigante ou uma persistência fora do comum, até outro com uma criatividade absurda, mestrado em inteligência artificial e também quem não fez faculdade”.
Já o Imagine é um programa de inovação aberta com o objetivo de desenvolver soluções inteligentes para problemas reais do país, e tem duração média de três meses. Há ainda o PitchPrep, que treina e prepara empreendedores para fazerem boas apresentações a possíveis investidores, e o Innovators Day, que é o evento anual da rede +Innovators no qual reúnem-se cerca de 600 participantes entre inovadores globais e os participantes dos programas da rede, para se fortalecerem e eventualmente fecharem negócios. Juntos, os programas já atenderam mais de quatro mil startups nacionais.
Números da +Innovators
60 eventos realizados
4000 mil startups atendidas
15 000 membros
300 investidores
500 mentores
+R$170milhões (+70% capital internacional) em recursos captados para startups
A rede se sustenta através do programa de filiação anual. Os membros pagam 599 reais e em troca recebem convites para 17 edições do evento BRNewTech (o último deste ano aconteceu ontem), além de outros eventos especiais, acesso a rede de associados, produtos ou serviços com descontos especiais e conteúdo de palestrantes e empreendedores.
André conta sobre como a sua experiência como empreendedor o ensinou a lidar com o fracasso, e o quanto isso está intimamente ligado à vida de quem trabalha com inovação e busca a disrupção:
“Aprendi a errar em vários projetos. Inovação é tentativa e erro. O segredo é transformar a curva de fracassos em curva de aprendizado. Isso muda a relação com o fracasso”
Ele conta que uma de suas principais questões hoje, à frente da +Innovatores, é como solucionar problemas que são gerais para todos os participantes da rede. “Como evoluir junto com os empreendedores, como colocá-los um passo acima. Acho horrível pensar que a informação está mais disponível do que nunca e as pessoas ainda não conseguem fazer esse filtro para chegar no próximo nível mais rápido”, diz.
COMO FAZER A INOVAÇÃO ACONTECER
Com uma visão um tanto privilegiada do ecosssitema empreendedor brasileiro e mundial, André acredita que para se cobrar ideias mais inovadoras, é necessário antes criar um ambiente. “Temos duas fases. Em uma delas precisamos discutir uma inovação mais disruptiva, sobre carros, drones e como máquinas vão substituir o homem em várias coisas no futuro. Mas, antes disso, tem uma questão que é cultural”, afirma. “Para o Brasil chegar em um novo patamar de inovação, precisa adotar algumas práticas e algumas visões. Principalmente uma visão de médio e longo prazo. Estamos falando sobre como estimular a inovação dentro de esferas governamentais ou até mesmo privadas.”
A inspiração mais forte para André vem de Israel, graças a uma viagem que fez para lá no início deste ano. “Lá tem o deserto, a guerra, um monte de problema. Como gerar inovação neste ambiente? Há uma cadeia de ações, você não sonha o impossível. Em dez anos, você não tem que pensar em empresas bilionárias, mas em como construir empresas milionárias”, conta.
Para ele, a solução está na educação, de base, e aquela voltada à inovação e ao empreendedorismo. No seu entender, capacitar pessoas de renda baixa para programar, como é feito em cidades como Austin e Nova York, aumenta o poder aquisitivo das pessoas ao mesmo tempo em que as empresas elevam o nível de seus colaboradores. “Não vemos isso no Brasil, mas vejo o quanto faria diferença na minha vida eu saber programar”, afirma. Ele acredita que é necessária essa mudança de base, da escola, dos governos e das próprias pessoas, para que os filhos se encaixem nesse futuro. André ataca sem medo o que considera ser o mito da falta de dinheiro. Para ele, isso não é desculpa:
“É uma visão simplista falar que sempre está faltando capital. É a educação que ajuda a criar o ambiente e é isso que falta no Brasil”
Ele conta que por muito tempo os empreendedores tiveram um discurso de ‘quando eu tiver capital, consigo fazer qualquer coisa, compro tudo’, mas que não é bem essa a realidade: “Só com educação de base a gente consegue começar a pensar no futuro. E o que vejo acontecer agora é bem interessante: empreendedores que tiveram sucesso voltando para o mercado para ajudar novos empreendedores. Um ciclo mais maduro do que os que acompanhei nos últimos 20 anos. Acho que é o primeiro sinal na mudança da cultura de inovação do Brasil.”
ERROS QUE O EMPREENDEDOR BRASILEIRO COMETE
A proximidade com tantos projetos no Tech Mission faz com que os olhos de André brilhem na hora de falar sobre o potencial nacional. “Perto de outros mercados, o brasileiro é muito persistente, mas precisa ser ainda mais. Muitos empreendedores excepcionais faliram e voltaram para o mercado, fizeram carreira em empresa porque não conseguiram encontrar uma nova motivação para persistir. Nosso trabalho é criar algum sucesso depois de vários fracassos”, diz. Um ponto mencionado por ele é a insegurança para se jogar: “Lá fora vemos como eles arriscam mais e vão para frente. O brasileiro é mais tímido, o medo de quebrar o faz crescer mais organicamente e testar mais”.
Além dessa certa timidez, André acha que uma falha dos empreendedores brasileiros é acreditar em copy-cats (startups que reproduzem, em outro mercado, uma startup de sucesso já existente). “Quando vejo essas cópias de coisas dos Estados Unidos penso: ‘qual é a chance de isso dar certo? Mínima’. Mas o cara está tentando fazer algo diferente, algo muito novo. O ambiente lá fora suporta, mas o Brasil não tem o mesmo ambiente. É difícil fazer um Facebook aqui, você tem que sair criando de cara, aí as coisas ficam menos inovadoras. Mais quadradas, menos audaciosas.”
Apesar das críticas, o tom da conversa é sempre otimista. Sua visão de disrupção é: “solucionar um problema de forma diferente, mais barata, inédita, melhor”. Ele diz que o importante não é querer criar de um dia para o outro o novo iPad pois não é com isso que a +Innovatores trabalha e não é isso que o país precisa:
“Queremos ideias que gerem sustentação, crescimento econômico e empresas sólidas, resolvendo problemas e com um grande potencial competitivo. A disrupção surge do quanto você inova ao fazer isso”
André percebe que a comunidade empreendedora brasileira está cada vez mais conectada, com focos de inovação não mais concentrados apenas na capital paulista. Ele mora em São Paulo com a mulher Gabriela e o cachorro Blue e, para atuar na +Innovators, divide-se em dois escritórios: um no espaço CUBO, do Itaú, e outro a Casa H, um coworking próximo à Avenida Rebouças, onde compartilha o espaço com mais três startups.
“Antes tudo acontecia em São Paulo e muito ainda acontece porque hoje você tem os fundos de investimento de grandes empresas aqui. O que a gente tem visto é que outros ecossistemas locais estão se desenvolvendo muito rápido, então eles não precisam mais vir até aqui”, diz.
Tento tirar de André algo a respeito de suas preferências pessoais, vontades e ambições para o futuro. Quando ele fala dos empreendedores e projetos que o entusiasmam, no fundo também fala de si. Pergunto se o papel de coach é algo no qual ele se vê. André para a batucada na mesa, olha para os lados e sorri. “É meio uma troca, sempre de empreendedor para empreendedor e é difícil ter um desprendimento nesse sentido. Para mim, é mais sobre trocar experiências e conseguir fazer. Se a ideia de coach se encaixar nisso, então é isso.”
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