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Mudanças climáticas — uma ameaça à agricultura e à segurança alimentar

Gabriella Sandoval - 12 jan 2016 Gabriella Sandoval - 12 jan 2016
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O aquecimento global tem causado impactos significativos sobre a agricultura em todo o mundo. Secas, chuvas torrenciais e geadas fora de hora são capazes de arruinar plantações, afetando diretamente a produção de alimentos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) estima que será necessário aumentar em 60% a produção no campo em 2050, mas reconhece que as mudanças climáticas podem colocar essa meta em risco. Os últimos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla original) apontam que, se os níveis de emissão de carbono não forem reduzidos, a temperatura pode aumentar de 2,6º C a 4,8º C até 2100.

“Simulações do impacto da mudança do clima indicam que a agricultura é vulnerável a temperaturas mais elevadas”, afirma a brasileira Thelma Krug, vice-presidente do IPCC. “Se não forem tomadas medidas de mitigação adicionais, o setor será significativamente impactado.”

Agricultura em perigo

Dados do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (órgão científico criado pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente) indicam que o Brasil poderá perder cerca de 11 milhões de hectares de terras agriculturáveis por causa das alterações climáticas até 2030. Só a região Sul, hoje considerada uma potência agrícola, representa quase metade dessa área. “O aquecimento global é capaz de causar perdas na produção, migração de culturas ou mesmo a mudança do perfil de uma produção regional”, diz o engenheiro agrônomo Hilton Silveira Pinto, professor da Universidade de Campinas.

Um dos estudos conduzidos por Silveira Pinto e pelo pesquisador Eduardo Assad, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mostra que se nada for feito para adaptar as culturas e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, áreas que atualmente são as maiores produtoras de grãos podem não estar mais aptas ao plantio antes mesmo do final do século. A mandioca, por exemplo, desapareceria do semi-árido, enquanto o café migraria para a região Sul do país diante das poucas condições de sobrevivência no Sudeste.

Um relatório do IPCC divulgado em 2014 já alertava para essa ameaça. Segundo o documento, a combinação do aumento da temperatura média e a escassez de recursos hídricos diminuiria consideravelmente o cultivo do café – especialmente da variação arábica – em São Paulo e Minas Gerais, principais estados produtores. “Entre 1998 e 2008, somente o Estado de São Paulo perdeu 35% de área cultivada com café arábica”, diz Silveira Pinto. “Essas áreas foram ocupadas por plantas mais tolerantes ao calor, como seringueira e cana-de-açúcar.” O estudo Aquecimento Global e a Nova Geografia da Produção Agrícola no Brasil aponta outras culturas, como soja, milho, arroz, feijão, algodão e girassol, que correm risco de uma perda significativa de produção.

Atenuar as mudanças climáticas – e, ao mesmo tempo adaptar-se a elas – exige um grande esforço global, que inicia pela conscientização. No caso da agricultura, reduzir as emissões de gases de efeito estufa significa não só contribuir com o meio ambiente, como também garantir a segurança alimentar de bilhões de pessoas.

Por isso, todo o setor agrícola precisa trabalhar para mitigar e adaptar-se aos desafios complexos impostos pelas alterações climáticas. Nesse sentido, recentemente a Monsanto anunciou planos para tornar suas operações carbono neutro até 2021 em suas unidades de sementes e defensivos agrícolas, bem como por meio da colaboração com os agricultores.

Na opinião de especialistas, essa é uma das medidas que podem gerar um desenvolvimento sustentável no campo, assim como o aumento da produção por área, a diversificação da oferta interna de alimentos, a busca por sistemas inteligentes de irrigação, o mapeamento dos impactos das mudanças climáticas, o uso da ciência de dados na agricultura e o melhoramento genético de variedades mais tolerantes às intempéries climáticas, como a seca, o frio ou condições de inundação, por exemplo.

A busca de soluções para condições de deficiência hídrica pode ser alcançada com o plantio de espécies com raízes mais profundas e de plantas geneticamente modificadas. A medida vem ajudando a reduzir perdas em plantações de milho e soja. “Fizemos um levantamento de custos e concluímos que a produção de uma única planta com essas características por meio de melhoramento genético leva cerca de 10 anos, ao custo de 1 milhão de dólares por ano. Tudo isso para se chegar a uma única planta tolerante a condições de deficiência hídrica, que deverá ser multiplicada posteriormente”, afirma Silveira Pinto. “O investimento é alto, mas o desenvolvimento de cultivares tolerantes ao calor e à seca é uma das melhores formas de garantir safras adaptadas às mudanças climáticas.”

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