Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
CORPORATE VENTURE
O que acham que é: Algum tipo de ação interna de uma corporação.
O que realmente é: Corporate Venture é a expressão utilizada para caracterizar o investimento de empresas (geralmente de grande porte) em negócios nascentes, ou seja, grandes negócios se tornando investidores e futuros compradores de startups. “No Corporate Venture você tem um capitalista que aporta em uma empresa que precisa de financiamento e, em vez de dinheiro, essa empresa tem, em troca, participação nos lucros ou direito de voto”, diz Samy Dana, professor de finanças da Faculdade Getúlio Vargas (FGV). De acordo com Marcos Hashimoto, professor da FIA e do Mestrado em Administração da Faculdade Campo Limpo Paulista, diretor da Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Pequenas Empresas e co-fundador da Polifonia Escola Livre de Protagonismo Criativo, “essa parte, em que as empresas assumem o papel de investidoras procurando negócios emergentes dentro de suas estratégias corporativas, e colocando dinheiro nelas comprando parte de suas ações é a mais conhecida e especificamente denominada Corporate Venture Capital (CVC)”. Ele diz que o conceito é bem mais amplo e que há empresas que não investem nas startups, mas as ajudam de alguma forma, seja cedendo espaço, colocando sua marca ou até colocando à disposição seus canais de distribuição. Essas são formas do tipo Corporate Venture Externo (CVE). Há, ainda, o Corporate Venture Interno (CVI), que investe em ideias de funcionários. “Um funcionário tem uma ideia de um novo produto ou negócio. A empresa ajuda dando equipe, estrutura, orçamento e faz o novo negócio decolar. Aí faz um ‘spin-off’, ou seja, cria uma nova empresa dentro do grupo, que nasceu lá dentro, nas mãos de um funcionário”, fala. Segundo o professor, o Corporate Venture Externo também tem esse movimento, mas é chamado de ‘spin-in’: uma empresa que nasce fora, nas mãos de um empreendedor, recebe aporte de capital ou ajuda de uma empresa grande em troca de ações da empresa nascente. Quando a empresa cresce e se desenvolve, faz o ‘spin-in’, e a nova empresa passa a fazer parte do ‘guarda-chuva’ da grande empresa, faz parte do grupo (ou holding). Aqui no Draft, recentemente falamos sobre Corporate Venture neste texto, com foco em algumas corporações e seus projetos de CV.
Quem inventou: Hashimoto diz que o conceito é bastante antigo e foi criado pelas empresas, que foram estudadas pela academia que, por sua vez, gerou estudos estruturados sobre o tema divulgando assim o conceito. “Não dá para precisar, pois não é uma metodologia, ferramenta ou produto, é um conceito. Quem cria conceitos?”, diz o professor da FIA.
Para que serve: Para favorecer a inovação (como ponto fundamental), o aumento da produção com investimentos relativamente baixos, o conhecimento (e prática) de modelos de empreendedorismo e economia criativa, e a renovação de processos ultrapassados. Em todos os casos (CVC, o CVE e o CVI), o propósito central é a criação de novos negócios, isolados da organização, a partir de ideias baseadas em oportunidades identificadas. “O Corporate Venture permite que a empresa não precise reinventar a roda, ou seja, não tenha que mudar nada na sua estrutura, pois sabe que tem um monte de empreendedor fora que pode fazer coisas interessantes para ela, ou está disposto a tocar projetos de seu interesse que seriam impossíveis lá dentro”, diz Hashimoto. Há também benefícios para as startups — acesso a clientes e parcerias só possíveis no ambiente corporativo e à expertise dessas empresas — e para o mercado, já que gera vagas de empregos e atrai investimentos e operações de mais multinacionais.
Quem usa: Basicamente, corporações. Alguns exemplos são Grupo Bandeirantes, Votorantim Novos Negócios, Telefonica, Google, Buscapé, GRSA, Bradesco, Odebrecht, 3M, Natura, Intel, bancos Itaú e Bradesco. O professor Hashimoto diz que a Polifonia, por meio da parceria com a THNK holandesa, implementa um programa de capacitação de profissionais nas tecnologias usadas para inovação para que mais empresas adotem o conceito de inovação corporativa. “Isso pode ser por meio do Corporate Venture Interno ou por meio da criação de uma cultura interna em favor da inovação. Acreditamos que o caminho mais fácil para que uma empresa adote este modelo seja por meio das CVIs”, diz.
Efeitos colaterais: Carlos Arruda, coordenador da área de inovação corporativa da Fundação Dom Cabral, diz que no do CV Capital os efeitos colaterais e os riscos são os mesmos de um venture capital, como a perda do valor investido. “No caso do CV Interno, além do risco financeiro há o risco de exposição da empresa”, fala. De acordo com Hashimoto, um dos efeitos é a dificuldade da empresa nascente se incorporar à estrutura da empresa-mãe. “A adaptação acaba matando algumas das características organizacionais que davam liberdade criativa à startup. Mas este é o preço pago para que o negócio novo possa escalar através da estrutura já instalada da corporação”, diz. Outro efeito colateral, segundo o professor, são os fracassos. “O investidor sabe está assumindo um risco alto e está disposto a perder dinheiro com alguns negócios. A corporação, por outro lado, não está preparada para isso, pois lá o erro é muito pouco tolerado e frequentemente é penalizado”.
Quem é contra: Arruda diz que talvez muitas empresas não acreditem na eficácia do CV. “Mas eu não diria que sejam propriamente contra. Outro ponto é que há alguma preocupação com CV por parte do governo quando as empresas investidas são nacionais e as investidoras são multinacionais. Há questões legais de fomento que devem ser observadas”, fala.
Para saber mais:
1) Leia, na Harvard Business Review, o texto Corporate Venturing, um apanhado sobre o tema com exemplo de corporações no mundo todo.
2) Assista, no YouTube, ao vídeo do evento Corporate Venture in Brasil, que aconteceu ano passado e foi organizado pela Apex-Brasil.
3) Leia, na Business Insider, o texto Why Corporate Venture Capital Deals Are Small que compara o investimento de VCs independentes com o de Corporate Venture (a metade) e explica o por quê.
4) Leia, na Inc., What’s Really Driving the Boom in Corporate VC Firms, que afirma que praticamente toda corporação tem um braço de CV.