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Dona do próprio nariz

Bruno Leuzinger - 11 fev 2016
Helena Rizzo: na infância, a futura chef brincava de comidinha, mas queria era ser bailarina e caixa de supermercado
Bruno Leuzinger - 11 fev 2016
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Helena Rizzo sempre foi “um pouco impulsiva”. É ela mesma quem se define, ao responder sobre o ensaio sensual que fez para a revista Trip. O ano era 1999, e Helena, uma modelo gaúcha de 20 anos vivendo em São Paulo e ainda dando os primeiros passos na gastronomia. Seminua, com o sorriso luminoso, ela embelezou as páginas da edição de abril da revista. “Foi uma decisão médio pensada”, ela admite, rindo. “Nessa fase eu não pensava tanto assim em tudo. Quando me convidaram, fui lá e fiz. Depois me arrependi um pouquinho. A família não gostou. Minha avó queria comprar todas as revistas da banca. Hoje eu acho engraçado…”

A melhor chef de cozinha do planeta (eleita pela revista britânica Restaurant em 2014) nasceu e cresceu em Porto Alegre. Gostava de brincar de comidinha quando criança, mas tinha outros planos para o futuro. “Eu queria ser bailarina, depois caixa de supermercado!”, revela, com divertida nostalgia. “Adorava ir ao supermercado com a minha mãe, e achava o máximo aquela moça atrás do balcão, passando tudo naquela maquininha.”

Bonita e talentosa, Helena tinha pressa de ser dona do próprio nariz. Começou a trabalhar como modelo no último ano do colégio, levada a uma agência por uma amiga. Flertou também com a ideia de ser arquiteta, entrou na PUC-RS, mas viu que conciliar a moda e os estudos seria bem difícil. “Eu sonhava em ser independente, ganhar meu dindim e conhecer o mundo.” Com isso em mente, ela largou a faculdade e se mudou para São Paulo.

Foi uma decisão que mudou sua vida para sempre – mas o mundo da moda seria, para ela, mais um meio do que um fim. “Foi uma fase de muitas festas, amizades e diversão”, lembra Helena, hoje aos 37 anos. “Tenho boas recordações dessa época. Mas não sinto saudades, não. Talvez por ter vivido este momento intensamente.” Ela adorava a vida paulistana: fazia trabalhos como modelo e, no tempo livre, dava vazão à paixão pela gastronomia, estagiando na cozinha de restaurantes. Seu primeiro emprego foi no Gero Caffè do Shopping Iguatemi.

Conexão catalã

“Uma estrela sobe em São Paulo. Uma supernova, fulgurando num restaurante novo, o Na Mata Café. Ela se chama Helena Rizzo e, aos 21 anos, é a responsável pela cozinha da casa, aberta no final de março.” Com um texto entusiasmado na Folha de S. Paulo, o crítico Josimar Melo saudou a estreia da chef à frente de um restaurante, em 2000. Helena pilotou o Na Mata por dois anos. Saiu para estagiar na Itália e, após seis meses, foi encontrar uns amigos em Barcelona. “Me apaixonei pela cidade e botei na cabeça que queria voltar para lá o mais rápido possível.”

Após uma temporada juntando dinheiro no Brasil, ela logo voltou para a Europa. Nos anos seguintes, ralou em um punhado de restaurantes até conseguir emprego no El Celler de Can Roca, em Girona, na Catalunha. “Quando consegui, foi maravilhoso. Sem dúvida, de todos os lugares onde trabalhei, foi onde aprendi mais.” Comandada pelos irmãos Joan, Jordi e Josep Roca, a casa de comida de vanguarda é um dos endereços gastronômicos mais hypados do mundo, apontado em 2015 como o melhor do planeta (também pela revista Restaurant).

Na labuta, no El Celler de Can Roca, Helena conheceu o catalão Daniel Redondo, seu colega de cozinha. Apaixonaram-se. Quando ela retornou para São Paulo, ele veio junto, para ficar. E o convite de Fernanda Lima, amiga dela dos tempos de modelo, foi a senha para o casal levar a parceria (de novo) para a cozinha. Em 2006, Helena e Daniel se tornaram sócios e chefs do restaurante Maní, aberto naquele ano no Jardim Paulistano.

Largar a faculdade, se mudar para São Paulo, usar a carreira de modelo para viabilizar sonhos e viagens, encasquetar com a ideia da Catalunha, fincar os pés na cozinha dos irmãos Roca… As escolhas de vida de Helena culminaram no Maní. Ali, a carreira e a criatividade da chef decolaram. Aplicando técnicas contemporâneas a ingredientes locais, ela desbravou novas e delicadas fronteiras da brasilidade gastronômica, na forma de criações como o nhoque de mandioquinha e araruta com dashi de tucupi e o ceviche de caju com raspadinha de cachaça.

Reviravoltas

Os últimos dois anos foram intensos, uma montanha-russa emocional. Em 2014, Helena recebeu em Londres o prêmio de melhor chef do sexo feminino do planeta. Naquele ano, tomou a decisão mais difícil de sua vida: separar-se de Daniel. O fim do casamento de dez anos não foi o fim da parceria: ambos seguem à frente do Maní. Helena engatou em um relacionamento com o músico Bruno Kayapy – e, em outubro de 2015, deu à luz sua primeira filha, Manoela. “A maternidade muda tudo! É um amor tão forte! Eu queria ser mãe, só não sabia o momento em que aconteceria. Está sendo lindo, a melhor coisa da vida!”

Mesmo com o barrigão, Helena trabalhou até o finzinho da gravidez, um turno por dia. Durante a licença-maternidade, se refugiou com a filha em Porto Alegre (onde a família ainda vive) e teve a alegria de gerar outro “filho”: um livro celebrando os dez anos do Maní, lançado em dezembro de 2015. A chef se envolveu com a produção, escreveu receitas, desenhou ilustrações… Na segunda quinzena de janeiro, ela começou a retomar, pouco a pouco, as atividades do restaurante.

Há três anos, o Maní figura entre os 50 melhores do mundo, mas Helena evita se deslumbrar. “Tenho muito orgulho de termos conquistado todos estes prêmios. Mas não mudamos nossa maneira de ser e de agir por causa deles”, explica. “Cada dia é um dia. A boa comida e o bom serviço dependem de muitos fatores. Os ingredientes que chegam naquele dia, a disposição da equipe, os clientes, os pedidos. Fazer o ‘nosso’ melhor todos os dias é o grande desafio.”

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