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Conheça a Teslabit, uma startup que quer reduzir o consumo energético nas indústrias

​Stephanie Hering - 10 mar 2016 Rodrigo Paiva, Oswaldo Redig e Fernando Lapa, os sócios da Teslabit.
Rodrigo Paiva, Oswaldo Redig e Fernando Lapa, os sócios da Teslabit.
​Stephanie Hering - 10 mar 2016
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Para Rodrigo Paiva, 32, sua vida como empreendedor pode ser comparada à do time de coração, o Santa Cruz. O clube desceu até a série D do Campeonato Brasileiro e, em menos de nove anos, voltou à série A. Segundo ele, suas experiências não chegaram até uma série D da vida, mas renderam alguns prejuízos — entre eles, a perda de duas amizades — e muitas lições. Com licenciatura em Computação e atualmente mestrando em Engenharia da Computação, o recifense já tentou ser engenheiro elétrico, eletrotécnico, produtor musical, produtor de eventos e consultor de segurança. Atualmente, é cofundador e engenheiro de software da Teslabit, startup que facilita a gestão energética das indústrias, visando reduzir seu consumo.

“Sempre tive vida dupla e tentei empreender. Criei minha primeira empresa aos 22 anos e desde então, não parei mais de tentar”, conta. Além da Teslabit, Rodrigo foi responsável por outros projetos que infelizmente, não decolaram. Um deles é o Indk.me, uma plataforma de indicação de talentos, baseada no ciclo de amizades. Ele criou a ideia com primo e a partir da experiência com o Indk.me, conheceu possíveis investidores. Contudo, as competências dos sócios não foram suficientes para viabilizar o projeto. “Não tínhamos conhecimento o suficiente do mercado e não soubemos acertar o modelo de negócio, algo que é comum quando se pensa em empreender”, diz.

NADANDO NA MARÉ BAIXA

A partir do insucesso da Indik.me, notou que seu time possuía um grande conhecimento na área farmacêutica e da saúde. Foi aí que nasceu a PickCells, um projeto existente até hoje, focado no diagnóstico de doenças. Em 2011, Rodrigo ainda trabalhava como consultor de segurança (profissão que exerceu durante anos) e tocava a PickCells paralelamente. Em um encontro com seu primeiro chefe, Oswaldo Redig, 44, formado em administração, Rodrigo teve a ideia de criar algo para economizar o gasto energético nas empresas. Como já estava com um projeto no mestrado de cidades inteligentes, o Synaptic City, resolveu adaptar o rascunho para grandes companhias. Os dois se uniram a Fernando Lapa, 49, engenheiro mecânico que já tinha certa bagagem em instalações elétricas. Estava aí o início da Teslabit.

O conceito era simples: instalar sensores inteligentes não intrusivos nos quadros de energia da empresa e transmitir pela nuvem, os dados de consumo. Isso permitiria às empresas entender onde e como estão gastando mais, facilitando a gestão energética — e, automaticamente, reduzindo a conta de luz.

Mas Rodrigo experimentou alguns entraves na hora de transformar sua ideia em realidade. De 2013 para 2014, Rodrigo e seus dois sócios, viram que o sensor que imaginavam teria um custo muito mais alto do que imaginavam e tentaram reduzir o valor em relação ao mercado. Para efeito de comparação, ele afirma que um medidor similar ao utilizado pela Teslabit custa cerca de 1.500 reais em empresas como Siemens e Scheneider Eletric. Seria preciso mais pesquisa e testes para conseguir desenvolver um produto igualmente eficiente, mas mais barato.

O passo seguinte foi procurar um investidor. Por meio de uma das empresas de um dos sócios, conseguiram captar 500 mil reais de um fundo de investimento em pesquisas. A verba foi crucial no desenvolvimento do negócio e permitiu que se viabilizassem equipe, laboratório, componentes, aluguel e outros custos administrativos. Apesar do empurrão positivo, por contrato o investimento não poderia ser utilizado para remunerar os sócios. Rodrigo conta:

“Foi uma época bem complicada, porque eu trabalhava em jornada dupla e dedicava boa parte do dia à Teslabit”

Mas os problemas estavam longe do fim. Nos dois primeiros anos de operação, a Teslabit também teve problemas com a arquitetura do sensor. Isso porque a equipe tentou desenvolver a placa no Brasil mas, depois de diversas tentativas, percebeu que não existem muitas fábricas de componentes eletrônicos no país e que faltariam peças. Foi quando em meados de 2013, Rodrigo e seus sócios decidiram tornar o sensor mais simples e usar um microcomputador acoplado a um medidor inteligente, ambos fabricados em Taiwan. Em agosto de 2014, enfim, surgiu o software que converte as medições em gráficos e dados de consumo, expostos, segundo Rodrigo, de maneira prática e que permite a leitura por leigos.

O caminho da Teslabit: o sensor capta o consumo, passa para um transformador que lê as correntes e, por sua vez, transmite as informações para a nuvem, até chegar no dashboard de controle.

O caminho da Teslabit: o sensor capta o consumo, passa para um transformador que lê as correntes e, por sua vez, transmite as informações para a nuvem, até chegar no dashboard de controle.

Nove meses depois, o produto foi lançado oficialmente no mercado brasileiro. Com sede em Recife, a empresa oferece uma plataforma de entrada que tem custo fixo de 880 reais por sensor instalado. O software é embarcado com o aparelho e não tem mensalidade.

Rodrigo conta que o único pré-requisito é que o cliente possua uma conta de luz com o valor mínimo de 10 mil reais por mês, ou seja, a Teslabit foca essencialmente nas grandes empresas e na indústria. Os sócios da staturp estimam, desde que começaram a operação, uma economia de até 40% no gasto energético de seus clientes, o que pode representar algumas dezenas de milhares de reais, dependendo do cliente. “Sabemos que aproximadamente 23% do desperdício nacional de energia elétrica provém das indústrias. Se economizássemos isso, não precisaríamos construir usinas como Belo Monte, Santo Antônio e Jirau”, diz o cofundador da Teslabit.

Para Paiva, o diferencial de seu produto está na informação, pois a plataforma oferece em tempo real gráficos de correntes e tensão, verifica se há balanceamento entre as cargas e ainda faz previsões de consumo mensal: Nossa ferramenta é uma aliada das companhias. Com base no nosso sistema, é possível fazer campanhas de consumo ou saber ainda se a medição foi feita de forma incorreta”. De acordo com o empreendedor, o equipamento da Teslabit é capaz de estimar o consumo mensal de uma empresa com base nas medições instantâneas do quadro de energia. E pode, inclusive, confrontar seus dados com os valores cobrados pelas companhias elétricas. “Já verificamos casos em que havia discrepância de 6% a 8%”, diz Rodrigo.

A Teslabit é capaz de estimar o consumo mensal de uma empresa com base nas medições momentâneas do quadro de energia.

Os sensores da Teslabit são capazes de estimar o consumo mensal de uma empresa com base nas medições momentâneas do quadro de energia, tudo isso visível num dashboard amigável.

Atualmente a empresa possui quatro clientes: uma universidade pública em Pernambuco, que recebeu o primeiro protótipo e agora está em processo de licitação; um centro de especialização odontológico, um posto de gasolina e um condomínio residencial. A Teslabit espera chegar a 50 clientes até o fim de junho deste ano, e quer duplicar essa previsão até dezembro. O impulso para esse crescimento, segundo Rodrigo, é processo de aceleração, feito pela Jump Brasil e finalizado no início de 2016:

“A aceleração é uma etapa muito importante na construção de um empreendimento. Não só para ter contato com investidores, mas também ganhar visibilidade”

Outra grande expectativa pós-aceleração para a Teslabit é a possibilidade de escalar as vendas. “O software já é 100% automatizado para escalar por ter servidores embarcados na nuvem da Amazon. Se tivermos um aumento significativo, os servidores se replicam automaticamente. Isso foi algo que já tínhamos pensado desde o início”, afirma Rodrigo.

Com a operação focada no Nordeste, a expansão para outros estados e até mesmo internacional agora passa a ser um sonho não tão distante dos três sócios. “Já estamos prospectando em outros locais, inclusive nos Estados Unidos, país que neste momento, tem uma grande meta de redução de carbono imposta para a indústria.”

Dentre os outros planos para o novo momento da Teslabit, Rodrigo destaca um possível modelo intermediário de instalação e uma nova versão do software, que será lançada ainda em 2016 a partir de feedbacks. A proposta é que a plataforma torne o usuário cada vez mais independente. “Não queremos nos tornar uma consultoria ou fornecer as análises. Acreditamos que se a economia de energia se tornar não apenas uma meta, mas um hábito, ela será incorporada como qualquer outra tarefa no dia a dia de uma empresa”, diz, vislumbrando o futuro.

DESISTIR TAMBÉM É PRECISO

Quando olha para trás, Rodrigo vê os erros que cometeu. Um deles, a inexperiência, resultou na dissolução de duas amizades, depois que Rodrigo os chamou para ser sócios em numa das empresas que faliu. Segundo ele, a sociedade (e a amizade) acabou porque “todos tinham o mesmo perfil, motivado e empolgado”, mas faltava organização e, quando algo dava errado, um queria colocar a responsabilidade do erro no outro, o que desgastou e inviabilizou a relação entre eles. Ele conta:

“É muito pior começar uma sociedade com amigos e isso terminar mal. Vivi isso e foi uma experiência traumatizante”

O tempo passou e, por acaso, no início deste ano Rodrigo reencontrou um desses amigos. Mais maduros, feridas curadas, conseguiram voltar a se falar. Mas, em relação ao episódio como um todo e ao outro amigo, ele se diz arrependido.

Rodrigo acredita que o modelo que vive atualmente, no qual foi possível “conhecer pessoas novas, formar uma sociedade e depois se tornar um grande amigo”, é bem melhor. Sua vida de empreendedor, como vimos, é marcada por uma série de impedimentos e falhas. Entretanto, para ele, o bom momento da Teslabit é resultado justamente desses cartões vermelhos.

Entre outras lições, ele diz ter aprendido que neste universo não há espaço para o orgulho, que é preciso saber dar o braço a torcer e focar na execução, e completa:

“É preciso saber desistir. Especialmente quando somos jovens e insistimos em algo que não está dando certo”

O torcedor ávido do Santa Cruz conta que desde criança foi sempre muito aéreo e que, no entanto, as tentativas fracassadas de empreender também o ajudaram a ter mais foco. “Falta mais decisão nas empresas. Alguém dizendo ‘vamos fazer’ ou ‘vamos arrumar alguém que possa nos ajudar'”.

Com dez anos de experiência empreendendo, ele acredita ainda que não existe regra para criar um negócio, porém, observa que seus últimos projetos só caminharam graças ao apoio de outras pessoas com conhecimentos adicionais ao dele, e diz: “Procure sócios que te complementem. Engana-se quem diz que é 100% completo. Devemos unir forças”. É com a expertise em tecnologia de Rodrigo, o lado executivo de Oswaldo e o “olhar visionário” de Fernando que a Teslabit espera somar a energia necessária para continuar em frente.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Teslabit
  • O que faz: Software de gestão de consumo elétrico para grandes empresas
  • Sócio(s): Rodrigo Paiva, Oswaldo Redig e Fernando Lapa
  • Funcionários: 8
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2015
  • Investimento inicial: R$ 500.000
  • Faturamento: NI
  • Contato: http://www.teslabit.io
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