Numa palestra no TEDx São Paulo em setembro passado, o ex-diretor de redação do HuffPost Brasil, Ricardo Anderáos, 53, citou um estudo da Universidade Yale que concluiu que há mais de 3 trilhões de árvores no mundo. “Isso significa que, para cada ser humano, há 422 árvores. Mas derrubamos mais de 15,3 bilhões delas todo ano, ou seja, cada um de nós perde duas árvores a por ano. Como reverter isso?”
Ele não estava discursando como jornalista, mas como criador do empreendimento ambiental Viva Floresta, que tem sede em Ilhabela, no litoral de São Paulo (mais de 80% do território do município é reserva de Mata Atlântica). Hoje, a empresa produz e vende mudas de árvores nativas, fornece um banco de dados com os nomes e características dessas plantas para donos de viveiros e mantém um aplicativo que possibilita que qualquer pessoa interessada catalogue uma árvore ou local de plantio na Grande São Paulo. A história da empresa começou em 2001, dois anos depois da mudança de Ricardo e de sua mulher, Gisela Testa, 50, para Ilhabela. Ele fala a respeito:
“Não queríamos criar nossos filhos em São Paulo. Hoje, moramos no paraíso, tem cachoeira no quintal de casa. Mas o paraíso também tem problemas”
O Viva Floresta nasceu dentro do ilhabela.org, ONG ambientalista cujo primeiro projeto foi regularizar trilhas de ecoturismo no Parque Estadual de Ilhabela. Para isso, Ricardo e Gisela conseguiram um patrocínio de 30 000 reais da Natura. “Queríamos defender o lugar”, ele conta.
Uma dessas trilhas leva ao Pico do Baepi, que fica a mais de 1 000 metros de altitude e de onde é possível ver uma cadeia de montanhas, o canal de São Sebastião e a Serra do Mar. “Para chegar lá, são quatro horas de caminhada. Nosso trabalho foi colocar degraus e placas e treinar jovens locais para atuar como guias”, conta. A partir desse projeto nasceu a ideia de replantar vegetação na parte da trilha que estava desmatada.
Em 2009, para recuperar a floresta, Ricardo criou um viveiro de mudas de árvores nativas. A ideia era fornecer essas mudas tanto para a restauração florestal do parque quanto para compensação ambiental (instrumento de política pública que obriga uma empresa a compensar a agressão ambiental de seus empreendimentos recuperando áreas de preservação permanente, como margens de rios, nascentes e topos de morro).
Na época, o petróleo na camada do pré-sal e uma reserva de gás natural haviam sido descobertos na região de Ilhabela – e a Petrobras precisava reparar os danos causados pelas obras. “Havia uma oportunidade de transformar o Viva Floresta num negócio”, diz Ricardo.
A intenção era fazer do viveiro uma atividade economicamente viável e criar um modelo de negócios que, depois, pudesse ser replicado por comunidades caiçaras, ONGs e empreendedores. “Queríamos criar uma rede de interessados em produzir mudas e ganhar dinheiro com isso e, assim, ajudar a recuperar a Mata Atlântica”, diz.
UMA BOA IDEIA NEM SEMPRE SIGNIFICA UM BOM NEGÓCIO
No princípio, o Viva Floresta era um projeto da ONG ilhabela.org, apoiado pela Petrobras. Mas, no final de 2010, os sócios tiveram um enfrentamento com a petroleira por questões ambientais. “Perdemos o nosso patrocinador, mas não queríamos desistir do nosso sonho”, conta Ricardo. Foi quando nasceu a idéia de separar o Viva Floresta da ONG, abrindo uma empresa que passou a ser definida como um negócio social — e cuja sobrevivência tem sido muito mais difícil do que se esperava. Um dos problemas é a concorrência com os grandes viveiros.
“A legislação exige que quem recupera uma floresta no Estado de São Paulo plante pelo menos 80 espécies de árvores. Um viveiro pequeno dificilmente pode atender a essa determinação”, diz ele. Outro foi a baixa oferta de sementes. “Coletamos algumas das sementes que usamos, mas temos que comprar a maior parte delas. Como há poucas sementes no mercado, elas têm pouca variabilidade e custam caríssimo”, conta.
A situação chegou ao limite em 2010, quando os sócios tiveram um enfrentamento com a Petrobras por questões ambientais. “Perdemos o nosso maior cliente, mas não queríamos desistir do nosso sonho”, diz Ricardo. De lá para cá, o Viva Floresta vendeu pouco mais de
20 000 árvores. Insuficiente para dar lucro:
“O viveiro ainda dá prejuízo. Há três anos, passamos até a alugar uns dos quartos de casa via Airbnb para ajudar a pagar o projeto”
No entanto, segundo Ricardo, entre os viveiristas há a esperança de encontrar um “Eldorado”. “O Novo Código Florestal, sancionado há quase quatro anos, obriga os proprietários rurais a recuperarem áreas de preservação permanente. Quando ele passar a funcionar, vender mudas vai ser um excelente negócio no Brasil e a principal atividade do Viva Floresta”, diz.
CRIATIVIDADE PARA DRIBLAR PROBLEMAS
Enquanto isso não acontece, Ricardo cria formas de colocar os interessados em salvar a Mata Atlântica em rede. O primeiro passo foi disponibilizar como software livre o banco de dados de árvores nativas usado pelo Viva Floresta. “Desenvolvemos a plataforma para gerir a quantidade de mudas de cada espécie que temos no estoque. Cada espécie foi catalogada de acordo com seu nome científico e seus nomes populares. Os registros incluem, por exemplo, as épocas em que as árvores dão flores e frutos e que tamanho elas podem atingir”, afirma Ricardo. Hoje, outros cinco viveiros usam o banco de dados para gerenciar suas produções.
Outra iniciativa foi adaptar para a Grande São Paulo um aplicativo que cria um mapa colaborativo de todas as árvores de uma região – também chamado de Viva Floresta. Dois objetivos do app são engajar a comunidade e estudar as árvores da área urbana. Para cadastrar uma árvore, basta fotografá-la e localizá-la no mapa. “Quem cadastra não precisa nem saber a espécie da árvore. Outra pessoa pode completar essa informação depois”, diz Ricardo. O aplicativo original, o OpenTreeMap, foi criado na Califórnia com o apoio do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e também funciona como software livre.
O Viva Floresta também promove cursos. Um dos últimos, ministrado por Gisela, tinha como objetivo ensinar um pouco sobre o cultivo de plantas para executivos de uma fabricante de motores para caminhões e geradores elétricos. Um dos próximos passos do Viva Floresta é lançar um marketplace que conecta os vendedores e compradores de sementes florestais. “Queremos facilitar o acesso dos viveiristas a esses produtos. A loja online deve estar pronta até o meio do ano”, diz ele.
O PIOR E O MELHOR NEGÓCIO DA VIDA
Ricardo também costuma dizer que, do ponto de vista financeiro, o Viva Floresta é o pior negócio que já fez na vida – porém foi a experiência com a qual mais aprendeu até hoje. Ele já foi sócio de uma editora de revistas em CD-ROM, a NEO Interactive, e é sócio de uma produtora de conteúdo para internet, a Latitude 0º. Atualmente, também trabalha como framework change leader (uma espécie de preparador de empreendedores sociais) na organização internacional sem fins lucrativos Ashoka. Também já foi diretor de grandes empresas como Grupo Abril e Grupo Bandeirantes.
Gisela trabalha na ONG de educação Associação Barreiros, em Ilhabela, que tem como objetivo estimular a empatia entre adolescentes. Antes disso, ela trabalhou como coordenadora pedagógica. Durante os 14 anos do Viva Floresta, os dois aprenderam a fazer a coleta, o armazenamento, o beneficiamento e o plantio de mais de 80 espécies diferentes da Mata Atlântica. Agora, eles propõem uma reflexão coletiva sobre a restauração florestal. “Corro o risco de parecer um ecochato, mas nosso planeta precisa de mais árvores crescendo, tanto para fazer mais água fluir por nossos rios quanto para retirar carbono da atmosfera e combater o aquecimento global”, diz Ricardo, enquanto planta o futuro que quer colher. Viva!
Marina Sierra Camargo levava baldes no porta-malas para coletar e compostar em casa o lixo dos colegas. Hoje, ela e Adriano Sgarbi tocam a Planta Feliz, que produz adubo a partir dos resíduos gerados por famílias e empresas.
Criado em 2009, a Ecosia se orgulha de plantar uma árvore a cada 45 buscas - já foram quase 170 milhões de mudas, de 900 espécies, em 35 países de todos os continentes, a maioria na América do Sul e Africa.
Clube paranaense estabelece um modelo inovador de gestão socioambiental, é o primeiro no Brasil a aderir ao Pacto Global da ONU, e lembra que o foco do esporte não deve estar apenas nos resultados de um jogo.