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Juliano Barata e o case FlatOut. Ou como se tornar um empreendedor de comunicação porque é ou isso ou nada

Simone Tinti - 17 maio 2016 Juliano Barata, do site FlatOut, tornou-se empreendedor não porque quisesse, mas porque não havia outra alternativa (foto: Fábio Aro).
Juliano Barata, do site FlatOut, tornou-se empreendedor não porque quisesse, mas porque não havia outra alternativa (foto: Fábio Aro).
Simone Tinti - 17 maio 2016
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Juliano Barata, 33, editor-chefe e idealizador do FlatOut, site sobre o universo automotivo, diz que sua primeira palavra, na vida, foi “carro”. Formado em História pela USP, ele não escolheu a carreira acadêmica, pois queria uma profissão que tratasse de algo que ele é um entusiasta desde a infância, quando brincava de Autorama e sonhava em ser piloto. Tornou-se jornalista, por opção. Mas o que ele não escolheu — e acabou tendo que se tornar — é a atuação como empreendedor. Era isso ou deixar o sonho de vida para trás.

Para entender o início do FlatOut, é preciso voltar um pouco no tempo, mais especificamente a 2013. Nessa época, Juliano, o editor Leo Contesini, e o repórter Dalmo Hernandes trabalhavam no Jalopnik Brasil, o braço brasileiro do site que é referência na internet para os “car lovers”. O Jalopnik chegara ao país pela Spicy Media e tudo ia bem em termos de audiência e de resposta dos leitores. Mas, em agosto de 2013, a chefia anunciou que o contrato não seria renovado, por questões comerciais. Os três estavam demitidos.

“Foi como observar uma morte lenta. Algo difícil, eu não considerava o Jalopnik só um emprego. Éramos uma equipe de entusiastas falando para leitores entusiastas também. Não tinha outro igual no mercado”

Juliano já havia trabalhado em veículos de mídia impressa, como as revistas Quatro Rodas e Car and Drive, mas quando experimentou a velocidade da internet num veículo mais segmentado, sentiu-se “em casa”. “Depois da morte do Jalopnik, recebi vários convites, mas eu não queria voltar para revista (tradicional) de jeito nenhum. Não seria uma volta só de formato, mas de mindset. Sabe aquilo que muita gente experimenta quando vai morar fora um tempo ou sai da casa dos pais? Seria como voltar em termos de maturidade e independência. Agora é que eu tinha alcançado uma coisa muito verdadeira”, conta.

Os meses seguintes foram de muito estresse, noites mal dormidas, falta de inspiração. Era a perda de uma causa. Em meio a este turbilhão, e com a certeza de que não queria voltar para a mídia tradicional, Juliano teve a ideia de seguir em frente em uma nova empreitada: e se eles criassem um novo site, aproveitando o público numeroso, fiel e engajado que tinham no Jalopnik? O convite foi aceito na hora por Leo e Dalmo.

“Tivemos a notícia da morte do Jalopnik em agosto, passamos um mês na lamentação, aí falei com os caras sobre o FlatOut. Em novembro, já tínhamos a fanpage pronta e iniciamos a divulgação por lá, dizendo que continuaríamos o negócio, mas com uma marca diferente”, conta Juliano. “Nós não tínhamos business plan, mas tínhamos o mais importante: um engajamento fortíssimo, muita adesão do público. Ou seja, já tínhamos o combustível que empurraria o motor. E aí passamos a construir tudo com o carro andando.” Não que tenha sido fácil.

ERA UMA MÁ HORA, MAS ERA A ÚNICA HORA PARA EMPREENDER

Como Juliano conta, o cenário do país não era tão favorável ao surgimento de um novo negócio, tanto que, com a Copa do Mundo em 2014, ele perdeu o calendário de publicidade do primeiro semestre. O investimento inicial, portanto, foi o valor que tinha à mão: cerca de 40 mil reais (de sua rescisão de contrato) que ajudaram a segurar as contas da empresa por um tempo.

Equipe da FlatOut (a partir da esq.): Juliano Barata, Leo Contesini e Dalmo Hernandes (foto: Fábio Aro).

Equipe da FlatOut (a partir da esq.): Juliano Barata, Leo Contesini e Dalmo Hernandes (foto: Fábio Aro).

Outra fonte de receita, que começou em janeiro de 2014, foi um crowdfunding, com uma campanha para que o público adquirisse assinaturas mensais no valor de 10 ou 15 reais. O princípio da doação foi apoio puro à iniciativa. “Aproveitamos o engajamento do público, que estava comovido com o fim do Jalopnik”, conta. Como recompensa, os apoiadores ganhavam um emblema adesivado do FlatOut e feito para ser usado na tampa do porta-malas ou nas laterais do carro pois, segundo Juliano, aguenta sol e chuva.

“Nosso logotipo tem referências facilmente identificadas por quem é desse universo. Os caras amam os carros deles e, quando usam um adesivo como o nosso, passam uma mensagem”, diz. O apelo aos leitores deu certo e, com a campanha, a equipe garantiu o objetivo, que era ter uma renda de 5 mil reais por mês para cobrir gastos com programação, contabilidade, estrutura e hospedagem do site.

Mesmo com os percalços iniciais, era claro, para a equipe, que havia um caminho a seguir. Os acessos ao site foram crescendo e, em maio de 2014, ultrapassaram a marca de 1 milhão de visitantes únicos por mês. Por volta dessa época, a vida financeira apertada teve um “respiro” – foi quando chegaram os primeiro contratos com patrocinadores (Dunlop e AutoZ).

Com essa estrutura ( o patrocínio e o crowdfunding), as contas foram se ajeitando. Juliano conta que, só agora, três anos, depois o negócio está apresentando uma contabilidade mais estável:

“Imagine, eu era jornalista, foi dificílimo começar a tocar um negócio. Errei um monte, em várias coisas. Mas foi uma questão de sobreviver e de não existir a opção de ficar na zona de conforto”

Ele prossegue e conta o quanto se inspirou na família e amigos para superar os momentos mais críticos: “Penso sempre na história da minha mãe, que veio da Coreia há muitas décadas, não sabia falar português e teve que se virar sozinha, e em amigos que foram para a Alemanha sem falar uma palavra de alemão. Acredito que, quando você não tem opção, faz acontecer”.

No ar desde 22 de dezembro de 2013, o FlatOut trata de carros antigos, técnica, pilotagem, lançamentos, automóveis originais, preparados e customizados. O segredo do negócio é algo que qualquer um que trabalhe com conteúdo, marketing e mídia sabe o quanto é necessário e difícil de conquistar: um público fiel. O FlatOut é feito por uma equipe de aficionados por carro, que entendem – e vivenciam – os mesmos gostos e desejos de seus leitores. Hoje, são cerca de 1,7 milhão de visitantes por mês, além de quase 180 mil fãs no Facebook. Em julho, o site ganhará o reforço de uma loja online com produtos como camisetas, adesivos e canecas temáticas.

Aos não tão íntimos do tema, vale saber que a expressão inglesa “flat out” é usada no automobilismo para curvas feitas a toda velocidade, com “pé cravado”. Juliano prossegue e conta que a linguagem visual do logotipo vem da influência dos anos 1960, década muito significativa para essa turma e quando surgiram muitos dos carros venerados até hoje. O “F” lembra a Ford e “lingueta” é um elemento bastante presente em logos daquela época (de lanchonetes a times de beisebol), assim como as faixas verticais inspiradas da Martini, marca que patrocinou muitas equipes de corrida principalmente entre os anos 1960 e 1980.

O site é independente e tem uma estrutura enxuta — “leve”, como afirma Juliano, que é ele próprio um “faz-tudo”. No universo automotivo, ainda antes do FlatOut, ele já atuou com reportagem, edição, fotografia, – o que, de certa maneira, ajudou no planejamento do negócio. Além dele como editor-chefe e acumulando a função comercial no momento, a equipe é formada pelo editor e hoje sócio, Leo Contesini, e o repórter, Dalmo Hernandes, todos trabalhando em home office.

Mesmo que em uma posição um pouco mais confortável do que no início, o aprendizado e os desafios continuam. “O ano de 2015 foi dificílimo e 2016 está seguindo o mesmo caminho. Estamos pagando as contas, mas não temos uma grande reserva”, diz. Em um ritmo intenso de trabalho, Juliano conta que o aprendizado sobre empreendedorismo vem muito do dia a dia. “Eu digo que, no momento, sou mais um mecânico do que um engenheiro. Leio de tudo, procuro acompanhar o sucesso dos Youtubers e sempre saber quem são os influenciadores, vou desconstruindo e analisando o que está acontecendo. Mas nada formal. Bem ou mal, tem dado certo”, fala.

PLANOS PARA MANTER-SE RELEVANTE NUM CENÁRIO QUE PODE MUDAR

Juliano quer aumentar o time, incluindo pessoas para tocar a loja online. Espaço físico, ele acredita que não será necessário, pelo menos por enquanto. Com os três jornalistas em home office, as reuniões e trocas de arquivo acontecem pela plataforma Campfire. A planilha de pautas fica em nuvem, de forma a ser compartilhada com todos, e, a cada três ou quatro meses, eles se reúnem pessoalmente.

Juliano comenta que a publicidade é o setor em que ele mais tem percebido mudanças. O e-commerce, que era para ser uma renda extra, está se mostrando uma das opções principais para sustentar o negócio:

“Até grandes empresas estão passando por dificuldades. Como nós somos um negócio muito pequeno e leve, ou inovamos e fazemos acontecer, ou morreremos”

Ele conta que, além da receita esperada com o e-commerce, a campanha de financiamento coletivo continua, mesmo que eles já tenham alcançado a meta inicial. Juliano conta que irá “turbinar” a campanha ainda neste primeiro semestre, e que ela será integrada à plataforma Pagar.me e também integrada à loja online, para que os assinantes ativos tenham descontos nas compras. A ideia é seguir tratando bem quem, afinal, é a base do sucesso de seu negócio.

Na busca permanente por esse “ajuste fino”, como define Juliano, ele ainda destaca a situação da indústria automobilística. “Hoje a conectividade diminui a necessidade de mobilidade física, existem muitas outras formas de se locomover e, com isso, o carro deixou de ser uma projeção de valores para os jovens. Claro que, para os nossos leitores, a relação com os carros é algo vivo e essencial, eles serão sempre entusiastas. Mas, pensando na indústria, de uma forma geral, sei que precisamos estar atentos a isso. Aprendemos a ser como água: a gente se molda e muda de acordo com o que for necessário”, diz, e segue acelerando.

DRAFT CARD

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  • Projeto: FlatOut
  • O que faz: Site com notícias sobre carros novos e antigos
  • Sócio(s): Juliano Barata e Leo Contesini
  • Funcionários: 6
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2013
  • Investimento inicial: R$ 40.000
  • Faturamento: R$ 300.000 (em 2015)
  • Contato: [email protected] 
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