Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
SCRUM
O que acham que é: Um metodologia específica para software.
O que realmente é: Scrum é um framework (em linguagem nerd, um arcabouço que captura a funcionalidade comum a vários projetos de software) cujo objetivo é agregar valor a um negócio. Na prática, é uma forma de organizar e dividir o trabalho de equipes, fazendo os times se sentirem motivados a cumprir suas tarefas ao mesmo tempo em que têm a visão total do projeto e do avanço de outros times. O Scrum surgiu para acelerar o desenvolvimento de softwares, mas serve qualquer outra tarefa complexa e potencialmente inovadora.
Apesar de não ser definido como um método, integra os Agile Methods e, por isso, é consistente com os valores do Agile Manifesto (leia-os no Verbete sobre o tema). De acordo com Ana Paula Serra, professora de Engenharia de Software da Fatec Ipiranga e coordenadora de cursos de TI da Universidade São Judas Tadeu, o Scrum é um framework que permite manter o foco na entrega do maior valor de negócio, no menor tempo possível. “Isto permite a rápida e contínua inspeção do software em produção, em intervalos de duas a quatro semanas”, diz. Ou, seja, o Scrum envolve a realização contínua de feedbacks.
Marcelo Hashimoto, professor da Engenharia da Computação do Insper, diz que o Scrum define um conjunto regras especialmente projetadas para facilitar quatro princípios fundamentais do Agile, que são: entregas contínuas e incrementais, contato constante com o cliente, respostas rápidas a mudanças e equipes multidisciplinares e autogerenciáveis. O professor destaca a importância do último item: “O foco na responsabilidade do trabalho de time é crucial”.
Por sua vez, o Scrum Alliance lista cinco valores chaves para o sucesso do trabalho do time: foco (como é voltado para poucas coisas, produz-se com valor em menos tempo), coragem (pelo fato de ser um trabalho coletivo, assume-se desafios maiores), abertura (no time as pessoas ficam mais próximas e compartilham ideias, fatos e preocupações), comprometimento (principalmente com o sucesso) e respeito (por cada um e pelo grupo).
O Scrum popularizou-se no contexto específico de desenvolvimento de software, mas pode ser aplicado a outros tipos de projetos complexos e inovadores já que melhora a capacidade de comunicação e a velocidade do trabalho. Ano passado, o livro “Scrum – A Arte de Fazer o Dobro de Trabalho na Metade do Tempo”, de Jeff Sutherland, esteve na lista dos 10 livros digitais mais vendidos na loja Kindle no Brasil. No livro, o autor lista usos do Scrum: construção de carros, gerenciamento de lavanderias, ensino escolar, construção de foguete e planejamento de casamentos, entre outras coisas.
Quem inventou: Jeff Sutherland é um dos criadores (e o mais conhecido), ao lado de Ken Schaber. O processo formal foi feito por ambos na conferência anual OOPSLA (Object-Oriented Programming, Systems, Languages & Applications). Autor de Scrum Guides, Sutherland também participou da criação do Agile Manifesto, em 2001. Mas o conceito do framework, assim como o nome, foi retirado em um estudo de Hirotaka Takeuchi e Ikujiro Nonaka publicado na Harvard Business Review. Em The New New Product Development Game, os autores descrevem o que acreditam ser uma abordagem holística (com velocidade e flexibilidade) e essencial para enfrentar o competitivo mundo do desenvolvimento de produto atual. Há uma única referência à palavra “scrum”, em um subtítulo, quando os comparam a alta performance e a multidiversidade de expertises de uma equipe (nos negócios) com um princípio usado nos times de Rugby. A expressão é “Moving the Scrum Downfield”. Foi daí que surgiu o nome oficial.
Quando foi inventado: O estudo de Takeuchi e Nonaka foi publicado em 1986. A OOPSLA na qual o estudo foi apresentado foi em 1995.
Para que serve: Para ganhar tempo. Hashimoto diz que o propósito de uma metodologia ágil é estabelecer um processo de desenvolvimento de produto capaz de reagir rapidamente a mudanças de requisitos e problemas imprevistos. “Ao contrário de arcabouços preditivos como, por exemplo, o modelo cascata, o Scrum é um arcabouço reativo. Como mudanças e problemas geralmente são inevitáveis na prática, migrar de preditivo para reativo pode aumentar a produtividade das equipes e a qualidade das entregas”, fala. “O maior benefício é que o cliente acompanha e recebe entregas de software funcionando em um curto período de tempo”, diz Serra, da Fatec.
Quem usa: “Variações do Scrum são utilizadas em todo tipo de instituição: universidades, startups, empresas recentes como Spotify e Netflix e companhias tradicionais como IBM, Microsoft e Amazon”, diz Hashimoto. Outros gigantes de tech que implementaram o Scrum são Google, Yahoo! e Adobe.
Efeitos colaterais: Produtividade e qualidade prejudicadas (e até fracasso), quando implementado sem suporte adequado de infraestrutura e cultura. “Uma adoção correta do Scrum o interpreta como um guia de orientações flexíveis, que devem ser adaptadas de acordo com o contexto específico, para que os princípios ágeis possam ser facilitados. Quando interpretado como uma especificação de normas rígidas, sem que esses princípios façam parte da cultura, geralmente fracassa”, diz Hashimoto, do Insper.
Quem é contra: Hashimoto conta que há críticas que vão questionamentos sobre a eficiência do Scrum como metodologia ágil até manifestos contra as metodologias ágeis em si. “Essas críticas não são, porém, de um tipo específico de instituição ou pessoa”, afirma.
Para saber mais:
1) Leia, na Wired, How to Scrum Manage que explica os pontos principais do framework.
2) Leia, na Forbes, What Every Company Must Understand, no qual o autor declara que o Scrum é a grande descoberta da área de gerenciamento.
3) Assista, embedado no texto No Rest For The Innovators, no Techcrunch, ao episódio da série Silicon Valley, da HBO, em que um dos seis tech-geeks que moram juntos explica o que é Scrum para os demais (vale assistir mesmo que você não siga a série).
4) Assista ao TEDx de Jeff Sutherland The art of doing twice as much in half the time.