Durante o mês de junho, interrompemos a sequência de Verbetes Draft sobre termos da nova economia para apresentar uma série especial dedicada às “profissões” reveladas pela Operação Lava Jato (e, por favor, não se candidate a nenhuma delas). O Verbete Especial Lava Jato de hoje é:
OPERADOR
O que a gente pensa que é: Pessoa que trabalha operando máquinas.
O que realmente é: A pessoa incumbida, dentro do esquema de corrupção, de intermediar a relação entre as empreiteiras e os executivos da Petrobras, ou seja, distribuir a propina que as empreiteiras pagavam para diretores e funcionários de altos cargos da estatal e agentes públicos.
Segundo Marina Motomura, editora do UOL em Brasília, em geral, o operador pode ser definido como intermediário e como quem realmente executa as tarefas quando os agentes de alto escalão (públicos ou privados) não querem sujar as mãos. “Mas há vários tipos de operador em um esquema gigantesco como o da Lava Jato. Os operadores de partidos políticos, por exemplo, são responsáveis pela negociação entre os políticos e as empresas, facilitando os contatos dos esquemas criminosos”, diz.
O que é preciso para se tornar um: Não exige-se graduação ou profissão específicas (elas são das mais variadas) mas, sim, ter trânsito livre nas altas esferas do poder, tanto políticas como econômicas. E, necessariamente, tendência a participar de ações criminosas.
Quanto dinheiro envolve: O Ministério Público Federal disse que os operadores financeiros lavaram, pelo menos, centenas de milhões de reais, tanto no Brasil quanto no exterior. Não é possível afirmar o valor pelo qual cada operador é acusado de ter movimentado. Mário Góes, por exemplo, aparentemente entregava mochilas recheadas de cerca de 400 mil reais para várias empreiteiras — periodicamente. A alguns operadores são associados valores bastante altos como 200 milhões de dólares (Vaccari Neto), 8,2 milhões de dólares (Guilherme Esteves), 2 milhões de dólares (Bernardo Freiburghaus), 8 milhões de dólares (Fernando Soares) e 14 milhões de dólares (Zwi Skornicki).
Quem são as referências na área: A Petrobras informou à Justiça Federal do Paraná que 10 operadores visitaram 2 226 vezes a sede da empresa, no Rio, de 2000 a 2014. Os que mais circularam foram Luís Eduardo Campos Barbosa (727 visitas) e Zwi Skornicki (532). Na Lava Jato, a lista de operadores tem, até agora, 17 nomes. Nela constam o advogado Atan de Azevedo Barbosa, os empresários Augusto Amorim Costa e Augusto Mendonça Neto, o economista Bernardo Schiller Freigurghaus, o empresário Cesar Roberto Santos de Oliveira, o lobista Fernando Soares (ou Fernando Baiano), os empresários Guilherme Esteves de Jesus, Henry Hoyer de Carvalho e Luís Eduardo Campos Barbosa da Silva, o lobista João Augusto Rezende Henriques, o ex-tesoureiro nacional do PT João Vaccari Neto, o lobista Júlio Camargo, o empresário Mário Frederico Mendonça Góes, o lobista Milton Pascowitch, o consultor Raul Schmidt Felippe Junior, o engenheiro e ex-diretor da Odebrecht Shinko Nakandakari e o engenheiro Zwi Skornicki.
Em que esfera atua e como: No alto escalão da Petrobras. Em um primeiro momento, pensava-se que o esquema estava restrito às diretorias de Serviços e Abastecimento e à Área Internacional. Com a deflagração da My Way (a nona fase da Lava Jato, fruto da delação do ex-gerente de Engenharia da Petrobras, Pedro Barusco), descobriu-se que havia também braços nas diretorias de Gás e Energia e Exploração e Produção.
De acordo com investigadores, os operadores tinham atuação semelhante à do doleiro Alberto Youssef em relação à movimentação de dinheiro. Dentre os variados modus operandi, havia a utilização de empresas de consultoria e de fachada para recebimento de propina, constituição de off-shores no exterior e abertura de contas secretas fora do Brasil, em lugares como Suíça e Principado de Mônaco.
A quem serve: A partidos políticos e a gerentes e diretores da Petrobras. Camargo, Campos Barbosa, Amorim Costa, Góes, Mendonça Neto, Pascovitch, Santos Oliveira, Vaccari e Zkornicki ao PT; Henriques, Schmidt e Soares (Baiano), ao PMDB; Hoyer e Nakandakari, ao PP; Esteves de Jesus, a Barusco e ao ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque; Azevedo Barbosa e Freiburghaus também a Barusco. Muitas das informações acima são acusações e/ou indícios em fase de apuração.
Com quem atua: Com empreiteiras, políticos, doleiros, bancos e ex-funcionários da Petrobras. Amorim Costa com a Queiroz Galvão; Azevedo Barbosa com a Iesa Óleo e Gás; Camargo com José Dirceu; Campos Barbosa com a Alusa, a Rolls Royce e com a SBM; Esteves de Jesus com o Estaleiro Jurong e com Vaccari; Freiburghaus com a Odebrecht; Góes com a Andrade Gutierrez, a Mendes Júnior, a Carioca, a Bueno Engenharia, a MPE/EBE, a OAS, a Shain, Setal e a UTC; Henriques com o ex-banqueiro José Augusto Ferreira dos Santos; Hoyer com Alberto Youssef; Mendonça Neto com a Toyo Setal, a Setec Tecnologia, a PEM Engenharia e a SOG Óleo e Gás; Nakandakari com a Galvão Engenharia, a EIT Engenharia e a Contreiras; Pascovitch com a Engevix; Santos Oliveira com a GDK; Schmidt com os ex-diretores da Petrobras Jorge Zelada, Renato de Souza Duque e Nestor Cerveró; Soares (Baiano) com a Andrade Gutierrez; Vaccari com a Interpar e a CMMS e Zcorniky com o Estaleiro Kepell Fels e com a Floatec. Muitas das informações acima são acusações e/ou indícios em fase de apuração.
Efeitos de suas ações: “Os operadores foram, ou são, se pensarmos que ainda há delitos da Lava Jato sendo cometidos, as ‘correias de transmissão’ do esquema”, diz Motomura. Ainda segundo a jornalista, eles são os facilitadores que permitem que os esquemas criminosos ocorram de maneira mais complexa e sofisticada, deixando as investigações um pouco mais longe do núcleo político.
Como é denunciado: Principalmente por meio de delação premiada feita por réus da Lava Jato. Alberto Youssef delatou Fernando Baiano. Pedro Barusco, como já dito acima, deu informações e apresentou documentos que permitiram ao Ministério Público Federal traçar o perfil de 11 operadores do esquema, suas responsabilidades pelo repasse da propina em cada empresa, a apreensão de provas em suas residências e a quebra de sigilo das consultorias usadas para dissimular o envio do dinheiro das empreiteiras para os agentes públicos.
Como pode ser preso: A partir da delação e da investigação, os próximos passos podem ser mandados de busca e apreensão, condução coercitiva e prisão. Zcorniky, por exemplo, depois de acusado na My Way, foi investigado por um ano até ser preso em fevereiro. Réu em ação penal na Lava Jato, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), o que pode diminuir ou alterar sua pena. Ao fechar acordo de delação com a Procuradoria Geral da República (PGR) e com o MPF, Fernando Baiano, depois de um ano preso, teve direito a pena domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica para monitoração. João Vaccari foi condenado a 24 de anos de prisão e está preso há um ano e dois meses.
Curiosidades:
— Segundo Barusco, em delação, o apelido de João Vaccari Neto no esquema era “Moch”, pois sempre era visto carregando uma mochila.
— O balanço da My Way inclui, entre documentos e notas fiscais, o recolhimento de 35 obras de arte, 518 relógios e cinco veículos de alto valor de mercado dos investigados.
— Sócios e inseparáveis, Júlio Faerman e Luís Eduardo Campos Barbosa da Silva foram apelidados de Batman e Robin.
Para saber mais:
1) Leia, no G1, Delator relata pedido de propina de Cunha, que o desafia a provar, sobre acusação feita esta semana pelo operador Júlio Camargo sobre a propina de 5 milhões de reais exigida por Cunha.
2) Leia, na CartaCapital, Pedro Barusco, o fiel delator, sobre as revelações do ex-gerente da Petrobras que rechearam a nona fase da Lava Jato.
3) Leia, no jornal O Globo, um perfil detalhado sobre o estilo de vida milionário do operador do PMDB Fernando Baiano: esportista e apreciador de carros importados.