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Bruno Hohl trocou a carreira por uma missão: democratizar o autoconhecimento

Bruno Leuzinger - 30 jun 2016
Bruno Hohl: depois que a carreira deslanchou, o mundo corporativo ficou pequeno (foto: Larissa Mungai)
Bruno Leuzinger - 30 jun 2016
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“Eu sofri um dos males da nossa juventude. Você não é estimulado a olhar para dentro de si até o momento em que precisa tomar algumas grandes decisões. A gente aprende tudo sobre o mundo externo: história, biologia, matemática… Mas não aprende a olhar para dentro.” É assim que o paulistano Bruno Hohl, 37 anos, relembra aquela fase, às vésperas do vestibular. “Eu não tinha a menor ideia do que queria. Era bom aluno, ia bem em todas as matérias, mas não tinha paixões, nada de que eu gostasse extremamente.” A facilidade com as ciências exatas, a influência paterna e a perspectiva de sucesso profissional pesaram na escolha. “Sem nenhuma grande reflexão, decidi seguir engenharia.”

Os cinco anos na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) foram difíceis. Bruno não se encontrava naquele ambiente, e pensou em largar o curso ainda no primeiro ano. Mas, determinado, insistiu. “Eu não conseguia dizer ‘não’ para mim mesmo.” Formado, foi fazer carreira num banco de investimentos, trabalhando com fusões e aquisições. “Só quando eu estava muito próximo de um colapso físico e psicológico, fazendo algo com que não me identificava, apenas porque era o ‘certo’, o ‘desejável’, o ‘emprego dos sonhos’, que, pela primeira vez na vida eu disse: ‘desisto, não aguento, quero começar de novo’.”

A reviravolta foi desencadeada por um retrato, clicado numa viagem de férias. “Vi a foto e não me reconheci. Era um sujeito apagado, com um olhar vazio…” Sentindo que precisava recuperar o brilho nos olhos, Bruno procurou a terapia, pediu as contas e tirou um sabático (economizara uma grana trabalhando no banco de investimentos). “Fui mochilar na Ilha de Boipeba (BA), fiz vinte dias de trilhas na Chapada Diamantina…” Na viagem, revigorou o espírito e encantou-se com um novo hobby, a fotografia, que cogitou até transformar em profissão. Mas, no fim de 2004, após seis meses, começou em um novo emprego, como gerente de planejamento estratégico de uma grande empresa de cosméticos.

Bruno permaneceu na empresa por quase uma década, mas não permaneceu parado. “Sentia que ainda não tinha me encaixado. A sorte é que nunca me acomodei.” No meio de 2008 ele para aceitou um desafio em uma companhia química, mas a experiência durou apenas um ano (“o projeto era sensacional, só que havia um pensamento muito para trás em termos de relações humanas…”). De volta à empresa de cosméticos, coordenando um programa que engajava os funcionários a pensarem sobre seus propósitos de vida, Bruno alcançou uma epifania. “Acendeu uma luz interna: quero trabalhar com desenvolvimento de pessoas. Foi meu primeiro momento de grande clareza.”

Compartilhe a evolução

A reação dos colegas foi do tipo “você está louco, já tem uma carreira consolidada, é um risco muito grande…”. Um ano depois, no início de 2011, pintou uma vaga na área responsável por formar os líderes da empresa. “Entrei com a motivação nas alturas… Eu era um engenheiro que trabalhava com Recursos Humanos, e isso me diferenciou demais.” A carreira disparou, com duas promoções em dois anos e meio. “E aí, quando você está se desenvolvendo plenamente, fluindo dentro da linha da felicidade… O mundo corporativo começou a ficar pequeno. Parece uma frase arrogante, mas senti que podia dar muito mais do que conseguia oferecer lá dentro. E comecei a ter uma chamada muito forte para o empreendedorismo.”

Em 2013, ainda na empresa, Bruno foi fazer um curso de formação de lideranças em São Francisco, na Califórnia (EUA). Em um dos dias, sentiu necessidade de meditar (costume que adotara anos antes, por influência de um amigo, num momento de estresse profissional). “Durante a meditação, apareceu na minha mente uma frase, em inglês: Taste the world and share the evolution. ‘Saboreie o mundo e compartilhe a evolução’. Eu não sabia o que significava aquilo, mas só tinha uma certeza: eu precisava cair no mundo.” Bruno gravou uma mensagem de vídeo e enviou à namorada, Larissa Mungai, que trabalhava no RH da mesma empresa. Era madrugada no Brasil, mas ela respondeu 15 minutos depois: vamos nessa!

O casal ainda levou um ano até pedir demissão. Nesse meio tempo, eles foram guardando dinheiro, e pensando em como cair na estrada de modo sustentável. “Se fosse só uma viagem de turismo, em que a gente absorve o mundo sem dar nada em troca, ficaria desequilibrado.” Juntos, Bruno e Larissa esboçaram a primeira versão do Moporã (o nome vem do tupi-guarani e significa “tornar belo”). A ideia era ser um projeto social itinerante com oficinas de autoconhecimento para jovens que nunca puderam fazer esse mergulho para interior. “Formatamos o projeto, começamos a bater em porta de empresas, compramos um motorhome… E não rolou nada! Depois de três meses, a gente não estava conseguindo virar nenhuma parceria.”

Eles perceberam que procurar um patrocinador era uma forma de autoboicote. “No Moporã, a gente falava sobre empoderamento, mas ao mesmo tempo buscava um ‘grande pai’ para bancar essa empreitada. Estávamos ferindo alguns valores nossos, como autonomia e empreendedorismo.” Era preciso redefinir o projeto, e a mudança de rota surgiu de um lance fortuito. “Demos de presente para os seguidores do Moporã um curso gratuito de como trabalhar metas para a vida pessoal, de forma direta e prática. A gente sofria para fechar uma turma de fim de semana para os workshops presenciais, mas em dois, três dias, tivemos 800 acessos ao curso on-line. Aí, a gente falou: ‘Para tudo. Tem um caminho aqui’.”

Crie seu caminho

Bruno e Larissa decidiram reconfigurar o projeto na forma de uma empresa social para a democratização do autoconhecimento, inspirando pessoas, por meio de cursos e e-books, a viverem seus próprios processos de transformação. “Hoje, definimos o Moporã como uma plataforma on-line de educação para a vida, para falar sobre carreira, relacionamentos, espiritualidade, dinheiro… Todo aquele arsenal que você precisa para liberar seu potencial.” Uma das premissas era criar conteúdos a partir de experiências vividas na prática. Assim, eles tiraram o motorhome da garagem, e passaram mais de um ano rodando o Brasil, incluindo um giro pela Bahia e um longo périplo pela região Sul, usando Florianópolis como base.

Durante a viagem, o casal lançou o “Crie seu Caminho”, programa que já está na terceira edição. Hoje, entre cursos e e-books, o Moporã tem sete produtos, cinco deles sem custo para os alunos (há cerca de 70 mil cadastrados na newsletter). “O ‘Crie seu Caminho’ tem um curso introdutório gratuito, com exercícios, aulas, meditação guiada… Quando abre uma turma, a gente mobiliza 25 mil pessoas. Dessas, uma parcela terá os recursos e a disposição para investir no programa pago de três meses.” O ecossistema de desenvolvimento inclui a plataforma com apostilas e vídeoaulas e uma comunidade no Facebook para os participantes do curso pago, que cumprem desafios e têm sessões de coach por Skype.

O casal cultiva o desapego. Bruno e Larissa não têm residência fixa e decidiram também vender o motorhome (saía mais barato alugar imóveis pelo Airbnb). “O nomadismo digital nos coloca numa posição de desconforto constante. Estamos sempre refletindo, e isso nos inspira a criar conteúdos.” No fim de junho, os dois partiram para uma temporada de um mês em Minas Gerais, para produzir um curso sobre empoderamento feminino. Em agosto eles se casam, e em outubro iniciam uma jornada à Ásia, que deve durar de seis a nove meses (a ideia é não traçar roteiros milimétricos e seguir a intuição). “Vamos descobrir onde podemos aprender e viver cada vez mais essas experiências que depois a gente transmite.”

 

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