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Draft ano 2 – A antiga Aceleratech agora é ACE: dobrou de tamanho e hoje faz transações milionárias…

Italo Rufino - 13 set 2016 Pedro Waengertner conta como a antiga Aceleratech se transformou na ACE. A mudança ocorreu em apenas um ano.
Pedro Waengertner conta como a antiga Aceleratech se transformou na ACE. A mudança ocorreu em apenas um ano.
Italo Rufino - 13 set 2016
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Há pouco mais de um ano, o Draft contou a história da melhor aceleradora de startups da América Latina – premiada três vezes consecutivas pela Latam Founder Netwoork (grupo formado por executivos, empreendedores e investidores que fomentam a inovação tecnológica em 19 países). Em julho de 2015, seu nome era Aceleratech.

Hoje, após uma reformulação, a aceleradora foi rebatizada para se chamar apenas ACE – uma alcunha que já era usada internamente e escolhida por ser de fácil pronúncia para estrangeiros, o que já demonstra que uma expansão internacional está no radar.

Há um ano, a então Aceleratech foi destaque no Draft (clique na imagem para ler a reportagem).

Há um ano, a então Aceleratech foi destaque no Draft (clique na imagem para ler a reportagem).

Pedro Waengertner, de 39 anos, que fundou a ACE ao lado de Mike Ajnsztajn, 52, aceitou o convite do Draft para falar sobre as mudanças que aconteceram na ACE nos últimos 14 meses.

Ao ler a matéria publicada no passado, o investidor sorriu ao comentar a evolução dos indicadores do negócio. Todos cresceram consideravelmente: o valor de portfólio saltou de 150 para 320 milhões de reais, e o número de startups aceleradas, de 47 para quase 100.

A maior capacidade atual da ACE está ligada à sua nova configuração, agora subdividida em cinco unidades com objetivos específicos, e também em função da expansão recente para Curitiba, Goiânia e Rio de janeiro, onde a equipes da ACE aceleram startups locais. Pedro fala sobre o conceito mais amplo de seu empreendimento:

“O objetivo da ACE não é ser só uma aceleradora, mas sim um ecossistema maior de apoio ao empreendedor”

Ele prossegue: “Nossa missão é evoluir o mercado e mover o ponteiro do PIB por meio da inovação. Portanto, devemos agir em todos os estágios do empreendedorismo”. Há um ano, o destaque da reportagem era na aposta da Aceleratech no Brasil. A prática mostra que isso teve de se converter na ampliação do escopo de negócio. Pedro conta que a maior mudança foi na reformulação do funcionamento da antiga aceleradora e numa atenção maior à produtividade. Na prática, isso se dá, hoje, nas seguintes frentes de educação: a aceleração propriamente dita, apoio à inovação corporativa e apoio ao investidor-anjo.

Nesse sistema, a unidade ACE University resguarda um dos maiores princípios da ACE: a educação e produção de conteúdo. Ela surgiu pela percepção de uma deficiência no ambiente empreendedor: muitos empreendedores buscavam a ACE com as mesmas dúvidas e cometiam os mesmos erros – não tinham projeto validado, não realizavam corretamente ciclos de interação com o cliente e não sabiam registrar o aprendizado. Havia também dúvidas mais básicas sobre como dimensionar o tamanho de um mercado, análise de concorrência e criar apresentações para investidores.

Para amenizar essas deficiências, ACE University oferece palestras e workshops, muitos deles gratuitos. Há também dois cursos online, um de validação de startup e outro de dimensionamento de mercado.

Em parceria com a ESPM, a ACE desenvolveu o curso presencial Startups: Inovação e Negócios Digitais, com duração de quatro semanas, que visa despertar o potencial empreendedor em profissionais de diversas áreas. A primeira turma inicia os estudos no final de setembro.

Até o momento, a ACE University não é uma fonte de receita relevante. Seu o maior objetivo e atingir o maior número de empreendedores, que poderão participar de acelerações no futuro, como Pedro dá essa dimensão:

“Não queremos que esses empreendedores criem lifestyle business ou se tornem nômades digitais. Queremos que toquem empresas que podem valer 1 bilhão”

Na unidade de aceleração, a ACE Start, o objetivo é ajudar empreendedores a encontrar o produto ideal para o seu mercado. Em um programa de quatro meses, sem aporte financeiro ou aquisição de participação acionária, a novidade é não colocar metas de crescimento, só de validação. O programa resolve um problema que acontecia na Aceleratech – o ingresso de startups promissoras, mas que ainda não estavam prontas para a fase de crescimento.

Ao final do processo, a startup pode ingressar na ACE Growth, ou “aceleração para o crescimento”, a unidade mais parecida com antigo programa de Aceleratech. Nesta fase, as startups recebem aportes de 150 mil reais por até 15% de participação acionária. Durante seis meses, elas precisam cumprir um check list com 17 itens que dão suporte ao crescimento — que, agora, precisa ser superior a 15% ao mês. São analisados, por exemplo, canais de distribuição, marketing e produto.

Ritual: no cowrking da ACE, toda vez que uma startup bate a meta de crescimento uma buzina é tocada.

Ritual: no cowrking da ACE, toda vez que uma startup faz uma venda, uma buzina é tocada e acontece uma salva de palmas.

Outro ponto trabalhado é o mindset do empreendedor, sempre focado em crescimento. Para isso, há alguns rituais. Toda vez que uma startup faz uma venda, alguém do time toca uma buzina que pode ser ouvida por todo coworking da ACE e os presentes fazem uma salva de palmas.

A startup catarinense Jetbov, que desenvolveu uma plataforma de gestão da cadeia pecuária (do manejo reprodutivo do gado até a entrega de carne em frigoríficos) está no ACE Growth. O negócio tem como clientes fazendas dos mais variados portes e cresce mensalmente mais de 20%. Ao fechar uma venda, o diretor executivo da Jetbov, Xisto Alves, toca um berrante que quase faz tremer as janelas da ACE.

O APOIO É DIFERENTE A CADA FASE DO CRESCIMENTO DAS STARTUPS

Findado o ACE Growth, as startups podem receber mais um investimento de 300 mil reais – feito numa associação entre a ACE e investidores parceiros – geralmente membros do ACE Angels, unidade da aceleradora que congrega mais de 100 pessoas que realizam anualmente aportes ou nos fundos criados pela ACE ou diretamente em startups que são aceleradas. O valor costuma variar entre 50 mil e 100 mil reais.

Mesmo com a recessão econômica, os investimentos-anjo da ACE aumentaram no último ano. Isso se dá devido à cultura do risco e visão a longo prazo desses investidores – é uma postura bem diferente de quem prefere investir em renda fixa, por exemplo, que é beneficiada pela alta taxa de juros. Em breve, os anjos da ACE, executivos e empresários bem-sucedidos, poderão fazer cursos na ACE University. O foco do conteúdo será como avaliar uma startup.

E de avalição de negócios emergentes a ACE entende: cerca de 10% do portfólio da empresa já foi vendido – taxa que, segundo Pedro, é maior que a média de mercado, até mesmo no Vale do Silício. Entre as sete saídas que a ACE já realizou estão as startups Fundacity, SkyHub e Infoprice – as duas últimas foram adquiridas pela empresa de monitoramento de preços Sieve, que recentemente foi comprada pela B2W por 88,6 milhões de reais.

Um workshop da ACE University, braço educacional criado para suprir deficiências do empreendedor brasileiro.

Um workshop da ACE University, braço educacional criado para suprir deficiências do empreendedor brasileiro.

Em julho houve a saída da startup Axado, que havia sido fundida com a Shipfy, ambas de serviços de gestão logística de transportadoras, rastreamento de encomendas e cálculo de preços e prazos. A Shipfy foi acelerada pela ACE em 2015. A Axado foi comprada pelo Mercado Livre por 26 milhões de reais.

A saída mais recente, anunciada a poucos dias, foi da Love Mondays, portal que ajuda profissionais a compartilharem experiências sobre mais de 75 mil empresas, conhecer faixas salariais e candidatar-se a vagas de emprego. A startup foi comparado pela Glassdoor, maior empresa do segmento e avaliada em mais de 1 bilhão de dólares nos Estados Unidos. O valor do acordo não foi divulgado.

“Por incrível que pareça, não é difícil realizar saídas. O importante é encontrar uma oportunidade que seja interessante para o empreendedor, como o ambiente que ele vai trabalhar e as responsabilidades que terá na nova configuração de empresa”

Em todas as saídas concretizadas pela ACE, os empreendedores continuaram no negócio como executivos ou sócios – e a grande maioria se tornou investidor anjo, o que retroalimenta o ecossistema empreendedor tão fomentado pela ACE.

REPAGINAR GRANDES EMPRESAS TAMBÉM É INOVAR

A antiga unidade AceleraCorp foi renomeada para ACE Corp e mantém o mesmo intuito: ser um braço de aceleração corporativa focado em aproximar startups de grandes empresas. Mas agora há três formatos.

O primeiro é a aceleração de times de funcionários, que tiram o crachá e trabalham dentro da ACE em projetos de startups financiadas por seus empregadores. Uma das clientes desse formato é a Enel, concessionária de energia elétrica que atua no Rio de Janeiro. Um dos projetos desenvolvidos pelos empregados foi uma rede de distribuição de baterias para dispositivos móveis.

O segundo formato da ACE Corp é a intermediação de investimentos de grandes empresas em startups. Neste caso, a ACE atua basicamente na seleção, avaliação e aplicação dos recursos.

O terceiro formato consiste na criação de programas de aceleração em conjunto com empresas, que recebem startups de fora do negócio. O maior exemplo desse tipo de parceria é a AgroStart, programa conjunto com a Basf que vai acelerar startups de diversas áreas da agricultura. O programa é similar ao ACE Growth. Ao término, a Basf pode realizar mais aportes, estabelecer parcerias em busca de novos investidores e comprar e distribuir os produtos da startup acelerada.

Em todos os casos, a ACE pode se tornar sócia das startups ao lado das grandes empresas financiadoras. É daí que vem uma parte de sua receita.

O APRENDIZADO É UMA CONSTANTE — E TEM QUE SER

De acordo com Pedro, uma startup pode ajudar a grande empresa a encontrar novas formas de receita futuras e áreas ainda não exploradas. Isso só acontece porque os empreendedores conseguem agir como “amadores”, passando ao largo dos processos geralmente sufocantes que existem em grandes corporações, ao mesmo tempo que têm acesso a base de dados tecnológicos, redes de distribuição e recursos típicos de multinacionais.

Sendo um investidor experiente, Pedro gosta mesmo é de falar de negócios, de ser analítico e mostrar números para “comprovar” seu discurso. Mas, no pouco tempo que falou de sua vida pessoal, mostrou um entusiasmo maior do que se tivesse encontrado uma startup unicórnio, aquelas que valem mais de 1 bilhão de reais. O motivo da felicidade é o “investimento” amoroso no pequeno Rodrigo, seu primeiro filho, que deverá nascer em outubro após anos de planejamento. Ele conta:

“Sempre me falam que eu penso gigante, que sou megalomaníaco e vivo para aprender. Ter um filho é isso: um aprendizado constante. É uma das minhas maiores realizações”

Hoje, Pedro se considera mais seguro sobre o que quer da vida e o que valoriza. Não que há um ano ainda titubeasse em suas escolhas, mas sim porque ele vive uma busca constante pelo autoconhecimento. Por vários anos foi adepto de terapia – e, hoje, medita todos os dias. Na filosofia, aprecia os estoicos, como Sêneca e Marco Aurélio.

“Quanto mais projetos, sejam pessoais ou profissionais, você conclui, mais você se conhece. No final, tudo é uma grande brincadeira e aprendizado”, diz. É também uma permanente transformação. Que ele continue brincando muito por aí: as startups agradecem.

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