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Draft ano 2 – O Ateliê Modestamente Revolucionário cresceu, mas pena para organizar o lado financeiro…

Luisa Migueres - 16 set 2016
Teresa não está mais sozinha no Ateliê Modestamente Revolucionário. Acima, a equipe atual: Janaína Camargo, Teresa Sbardellati, Priscila Jung e Beatriz Damasceno. (foto Nega Souza).
Luisa Migueres - 16 set 2016
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Quando conversei pela primeira vez com Teresa Sbardellati, em junho de 2015, ela não sabia por quais meios eu tinha chegado até o seu trabalho. O Ateliê Modestamente Revolucionário, que hoje tem três anos de operação, era um projeto autoral, surgido da sua vontade (e talento) de fazer cenografias artesanais e adereços “impossíveis”. “Como você me achou?”, lembro dela ter perguntado. A resposta era um filme, o curta Ulim e Oilut. Eu queria saber quem estava fazendo negócio produzindo cenários inteiros de papelão, e acabei topando com o Ateliê, que vinha criando adereços e cenografias totalmente artesanais.

Um ano depois, Teresa, 28, ainda fala sobre a sua empresa com o coração aberto. Mas tem uma segurança diferente, e menos modéstia para descrever seu trabalho. Durante esses 15 meses, ela conseguiu melhorar a estrutura de seu negócio. Agora, aluga um galpão para trabalhos mais “sujos”, como esculturas, pinturas e moldes. Mas seu apartamento na Santa Cecília, no centro de São Paulo, equipado com máquinas de costura, de corte, entre outras ferramentas, continua sendo o escritório criativo do Ateliê. Foi lá que a encontrei para um papo em tom de retrospectiva.

Há pouco mais de um ano o ateliê Modestamente Revolucionário saiu no Draft (clique na imagem para ler a reportagem).

Há pouco mais de um ano o ateliê Modestamente Revolucionário saiu no Draft (clique na imagem para ler a reportagem).

De cara, percebi que o QG estava aconchegante o bastante para alguém viver ali, mesmo que a sala seja um verdadeiro estúdio. (Se antes ela tinha só quatro mesas, agora elas são acompanhadas por prateleiras cheias de sprays de tinta, tecidos, colas etc.)

Perguntei se Teresa estava morando lá. De fato, há alguns meses, ela se mudou para o apartamento onde funciona a empresa, e agora vive com Cobalto, um vira-lata recém-adotado que gosta de passear entre as suas criações e acompanhou toda a nossa entrevista.

Além de Cobalto, Teresa está bem acompanhada no batente. Antes, a fundadora do Ateliê contava com o apoio na administração do negócio de uma sócia e amiga, Mariel Deak, que deixou o barco para se concentrar em outros projetos e fazer um mestrado. Agora, a empreendedora enche a boca para dizer que, finalmente, tem uma “equipe”. Janaína Camargo, 25 anos, virou o seu braço direito na organização de material, logística e atendimento dos trabalhos. A artista plástica Priscila Jung, 22, fica mais focada na pesquisa e execução dos adereços, e Beatriz Damasceno, 24, comanda a parte de modelagem e costura. “Elas têm funções específicas, mas todas participam de tudo”, diz Teresa.

O VOLUME DE TRABALHO MAIS QUE DOBROU

Uma das maiores vitórias desse crescimento, de equipe e de quantidade de trabalhos absorvidos – hoje existem cerca de 20 projetos andando simultaneamente no Ateliê, mais do que o dobro de um ano atrás – foi a expansão dos workshops oferecidos. “Quando conversamos antes, eu tinha idealizado o formato e feito alguns pilotos para adultos. Agora fechamos uma parceria com o Espaço de Leitura e estamos explorando mais o universo infantil”, conta.

O local, no Parque da Água Branca, na zona oeste da cidade, tem recebido as atividades do Ateliê, como a Oficina de Tripas (um curso para aprender a criar tripas humanas com materiais de papelaria) e uma exposição sobre a literatura da capital paulista.

O Ateliê consolidou sua divisão de worshops ao ar livre, como este acima (foto: Nega Souza).

O Ateliê consolidou sua divisão de worshops ao ar livre, como a lúdica “Oficina de Tripas” (foto: Nega Souza).

Com mais gente, Teresa também tem conseguido mais respiro e não precisa estar presente em toda mão-de-obra. Mas isso não quer dizer que o processo tem sido moleza.

“Tivemos uma experiência complicada recentemente, quando eu me afastei de São Paulo. Pela primeira vez, essa equipe teve de gerenciar o Ateliê sozinha. Foi um pouco caótico, mas isso nos deu a oportunidade de sentar e ver o que tínhamos de mudar”, conta ela.

Entre os maiores aprendizados desses dias de tensão, Teresa destaca dois: o planejamento deveria ganhar prioridade antes da execução, e a comunicação da equipe precisava melhorar. O susto chacoalhou e fez bem. “Foi bom para todo mundo se colocar no meu lugar também, e trabalhar sob pressão, afinal, a gente trabalha com prazos ridículos de publicidade”.

A DURA LIÇÃO DE DELEGAR E ORGANIZAR AS CONTAS

Essa veia de liderança, algo natural em Teresa, também passou por uma transformação no último ano. Ela conta que teve de aprender a transferir responsabilidade para outras pessoas:

“Essa transição é muito sofrida. Quase pedi para sair (risos). Antes eu acumulava tudo e, agora, tenho que achar a equipe certa para fazer o negócio crescer”

Apesar de penar um bocado para conseguir começar a delegar, Teresa diz que sempre que pensava em como seria a sua vida sem essa loucura, caía em si. “Eu sou o Ateliê, eu vivo ele, penso nisso o tempo todo e não consigo me imaginar fazendo mais nada”, diz. Deve ser por isso que ela não se importa em não haver mais limite entre sua casa e escritório.

As contas do Ateliê Modestamente Revolucionário ainda não funcionam como um relógio, por muitos motivos. Um deles é que ainda é difícil para Teresa firmar uma tabela para cobrar pelos trabalhos da empresa, porque eles variam demais. Para facilitar a elaboração dos orçamentos, agora ela usa uma lista de perguntas, que faz a si mesma, tais como “Você já fez esse trabalho antes?” e “Quantas pessoas são necessárias para entregá-lo?”. Ela diz que isso ajuda na hora de entender a dificuldade de cada projeto. Mas não é só isso:

“Tenho um bloqueio com organização financeira. Para mim, dinheiro é um negócio fluido, que deve ir e vir. Mas sei que não é bem assim”

Para superar o tabu, ela tem feito um “intensivão” com um parente, para analisar o fluxo de caixa do Ateliê e evitar gastos errados. A parte mais difícil dessa reestruturação, segundo Teresa, é ter de mexer na remuneração da equipe. “A primeira coisa que surgiu quando comecei a pensar nessa reorganização com a minha ‘babá financeira’ foi: ‘Você paga muito, não dá para crescer assim’. E eu fico no maior dilema, porque quero encontrar outras soluções sem mudar isso”, conta.

O Ateliê faz o fechamento do faturamento mês a mês. Nessa oportunidade, a equipe mapeia o que tem dado mais trabalho e o que traz mais problemas. Mas não chega a estabelecer metas de crescimento. “A minha métrica é de quão legais são os trabalhos que entram. Não é uma métrica financeira”, diz Teresa. “Mas, afinal, desde que nos falamos pela primeira vez, o Ateliê tem rendido um salário maior?”, pergunto, para ser objetiva. “Ah, sim, é proporcionalmente maior. Estou ganhando bem mais dinheiro”, ela responde, rindo da própria falta de cerimônia.

A pedido de amigos, Teresa passou a produzir gorros de pelúcia com chifre de unicórnio, à venda por 130 reais. No futuro, ela quer abrir um e-commerce para essas criações.

A pedido de amigos, Teresa passou a produzir gorros de pelúcia com chifre de unicórnio, à venda por 130 reais. Ainda este ano, ela quer abrir um e-commerce para essas criações (foto: Nega Souza).

Em um futuro breve, Teresa pretende ter alguém para cuidar das contas da empresa, mas quer entregar um processo redondo nas mãos dessa pessoa. Ultimamente, ela tem conversado com Licia Costa, da Crux, que apareceu no Draft na seção Acelerados, com a sua assessoria financeira para pequenas empresas de design e audiovisual.

Lições de empreendedorismo à parte, Teresa conta que um trabalho legal no último ano teve uma mãozinha do Draft: “Fizemos uma peça de teatro do Robert Wilson no Sesc, Garrincha, e os produtores me acharam por causa da reportagem. Isso foi muito marcante, porque eu gosto muito dele, trabalhei com uma cenógrafa canadense, a equipe era toda gringa. Foi um baita aprendizado”. Ela também me mostrou um perfil da empresa na revista Now Magazine, um projeto de tendências da Pepsico, assinada por Ana Luiza Tetzlaff, que também conheceu o Ateliê no Draft.

ALGUNS SONHOS FICARAM PELO CAMINHO. FAZ PARTE

Mas nem todos os projetos do Ateliê cresceram e apareceram nesse período. Um deles – que era mais uma empreitada audiovisual de Teresa e o amigo e diretor de TV Lucas Melo –, o Ideias Épicas, acabou ficando pelo caminho. A dupla não tem mais tempo de produzir seus vídeos, logo depois deles serem contratados pela Microsoft para criar dois vídeos com a mesma pegada de curiosidades e artesanato. Teresa fala de como a evolução do negócio afeta suas prioridades:

“Enquanto era sozinha, podia parar e ficar um mês sem dinheiro que tudo bem. Agora, preciso manter trabalhos o tempo todo, para ter pessoas aqui alimentando essa ideia”

Sobra tempo para pensar em outras possibilidade para o Ateliê com tanto trabalho aparecendo? Com certeza. É só dar uma olhada nas prateleiras do escritório para ver que existe ali um manancial de ideias. Recentemente, a pedido de amigos, Teresa passou a produzir gorros de pelúcia com chifre de unicórnio, que estão à venda por 130 reais – de brinde, o cliente ainda leva um cocozinho sorridente de borracha (sim, aquele dos emojis).

Os pedidos são feitos pela própria fanpage do Ateliê no Facebook, ou por e-mail. Os dois adereços são os primeiros produtos com a marca do Ateliê Modestamente Revolucionário. Mas vem mais coisa por aí. O plano é ter um e-commerce no ar até o fim deste ano, para espalhar mais ainda as criações de Teresa. Parece que a cada ano que passa, o nome do Ateliê Modestamente Revolucionário fica ainda mais apropriado.

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