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O que é o MECALove, de Rodrigo Santanna, e como ele colocou Inhotim para dançar

Carol Patrocinio - 9 nov 2016 Rodrigo Santanna conta como de festival de música o Meca se tornou uma plataforma múltipla de negócios.
Rodrigo Santanna conta como, de festival de música, o Meca se tornou uma plataforma múltipla de negócios para se sustentar.
Carol Patrocinio - 9 nov 2016
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A vida de Rodrigo Santanna, 37, tem a ver com explorar o desconhecido. Num primeiro momento, pode parecer estranho um arquiteto ser o responsável pelo festival de música mais descolado do país, mas sua trajetória mostra que tudo está ligado: do primeiro mergulho em comunicação até o MECAInhotim, que aconteceu no último fim de semana no museu a céu aberto e levou centenas de pessoas ao museu, para uma programação intensa de shows, workshops e palestras numa experiência única (buscando pela #MECAInhotim nas redes sociais dá para ter uma ideia do que foi), pagando 490 reais pelos dois dias de evento, ou 245 a meia-entrada.

Nascido em Porto Alegre, numa família que teve muito dinheiro o perdeu rapidamente, Rodrigo conta que seus pais sempre disseram que, mesmo sem entender o que ele buscava, o apoiariam. “Não tem uma grande história de superação. A gente nunca teve muita facilidade, mas aprendi com meus pais a ir atrás do que acredito, e trabalhar muito para chegar lá”, diz.

O MECAInhotim aconteceu no último fim de semana e levou shows, workshops e muita gente aos jardins do maior museu a céu aberto da América Latina.

O MECAInhotim, no último fim de semana, levou shows, workshops e muita gente aos jardins do maior museu a céu aberto da América Latina.

Com isso em mente, aos 19 anos ele começou a vida de empreendedor. Sua primeira incursão no meio foi uma agência digital focada em arquitetura, que transformava projetos em ambientes 3D para passeios virtuais. Até os 23 anos, conseguiu ganhar clientes e se fortalecer no mercado, mas aí veio a crise existencial que acomete a maior parte de nós por volta dos 30.

“Entendi que eu precisava conhecer o mundo. Larguei tudo, abri mão do sucesso profissional àquela altura, relativamente precoce.” Sua busca por entender quem era acabou durando dois anos de vida na Califórnia, que só acabaram com um convite para voltar ao Brasil e comandar a equipe de uma grande agência que transformava a cara da maior marca de cerveja do país. Mas ainda não era isso que ele faria da vida.

A veia empreendedora o levou ao estúdio Bola, focado em pesquisa e planejamento. Rodrigo sentiu na pele a adrenalina de fazer bate-volta para o outro lado do mundo, ter uma reunião e voltar para casa com negócios fechados. Veio o estúdio Todos, também de design, seguido pela Void, os eventos da Slash Slash e a marca de produtos de beleza masculinos Dr Jones, da qual é cofundador e sócio.

Rodrigo pode ser chamado de empreendedor em série, sempre engatando uma ideia na outra e muitas vezes executando-as ao mesmo tempo, mas foi assim que ele conseguiu encontrar o denominador comum em todas essas fases: “Sempre investi tempo em festivais. Eu tentava viajar para conciliar minha vida com esses eventos”.

O NEGÓCIO COMEÇOU DA VONTADE DE UNIR PAIXÃO E TRABALHO

Clique. Ele sabia o que queria fazer, só que antes precisava olhar para o mercado nacional e entender o que estava acontecendo com os festivais mais promissores do momento. “Os eventos começavam muito legais, iam crescendo por pressões mercadológicas e, em um determinado momento, já não dialogavam mais com o público inicial, ficavam muito caros, a experiência não era mais legal e acabavam morrendo”, diz.

A vontade de fazer algo relevante, que pudesse influenciar uma nova geração, como a MTV havia influenciado a dele. “O objetivo era produzir algo como o que a gente experimentava lá fora.” O MECAFestival nasceu na praia de Atlântida (RS), como um evento anual de música. Deu certo. E o MECAFestival ganhou uma versão em São Paulo, no Campo de Marte; outra no Rio de Janeiro, na Estação Leopoldina; e uma versão reduzida em Inhotim (antes da bombástica, deste ano).

Desde 2011 foram 20 eventos para mais de 55 mil pessoas que assistiram a shows de 115 artistas, como Two Door Cinema Club, Friendly Fires, La Roux, AlunaGeorge, Vampire Weekend, Breakbot, Flight Facilities, Racionais MC’s e Thaíde e DJ Hum.

Na trajetória de sucesso e construção de marca, Rodrigo experimentou maneiras diferentes de divulgar e atrair pessoas para os shows. O primeiro evento em Inhotim, por exemplo, foi divulgado com apenas três dias de antecedência — e aconteceu em horário comercial, numa sexta-feira. Ainda assim, reuniu 900 pessoas, vindas de diversas capitais. A empresa tem, hoje, 16 funcionários alocados em São Paulo e mais 30 parceiros espalhados pelo país. Rodrigo fala sobre essa evolução na estratégia do Meca:

“Tentamos não dar passos maiores que nossas pernas. A gente faz coisas o que sabemos que vão ficar bem feitas”

Foi assim que eles conceberam o MECAInhotim deste ano. O empreendedor conta que, com cuidado para não errar na execução, o objetivo é ousado mesmo: “Queremos trazer pessoas para o festival de música e o evento, assim como a gente viaja para o SXSW e o Glastonburry”.

COMO UM FESTIVAL DE MÚSICA SE TORNOU UMA PLATAFORMA DE NEGÓCIOS

Rodrigo acredita numa mistura de oportunidade de mercado com a sua paixão por construir uma plataforma de lifestyle e entretenimento. Assim, sentindo mais do que planejando, ele achou que talvez pudesse ocupar essa lacuna. Há sete anos nascia o Meca, projeto que ganharia a atenção integral de Rodrigo.

O Meca Spot é uma mistura de café, lojinha e espaço para reuniões. Fica na Vila Madalena, o reduto criativo-hispter da capital paulista.

O MECASpot é uma mistura de café, lojinha e espaço para reuniões. Fica em Pinheiros, na r. Artur de Azevedo, 499.

O primeiro passo foi entender como isso poderia funcionar já que fazer um único evento anual soava como desgaste e retrabalho.

Ele conta dessa fase de “enxugar gelo”, quando o trabalho consistia apenas no grande evento de música: “Fazíamos um esforço muito grande de divulgação e produção no início do ano mas, depois, quando não tínhamos mais eventos, isso ia diminuindo e a gente ia se afastando das pessoas. Quando a gente começava a falar sobre o próximo evento, era preciso recomeçar o trabalho do zero”.

Não dava pé. Foi buscando superar essa dificuldade que eles chegaram ao conceito que guia a empresa atualmente. Rodrigo sabia que queria ter eventos pequenos, mas também sabia que sendo pequeno nunca conseguiria ter relevância suficiente para alcançar seu objetivo — o de ocupar a lacuna deixada pela MTV. Ele fala do que criou:

“Criamos o conceito de biggest smallest, que é ser grande em relevância pela força da marca e pela soma de eventos pequenos”

Para ele, a equação é simples: mais frequência de eventos, geração de conteúdo, experiência. O empreendimento tem, portanto, muitos braços — e seis patrocinadores relevantes e que se identificam com essa área mais, digamos, alternativa de consumo: Axe, Budweiser, ChilliBeans, Converse, Farm, Tanqueray.

Festival, game, jornal, site, café, pesquisa de tendência, lojinha, coworking, estúdio, música, conteúdo: tem MECA em tudo isso. Arte, conhecimento, gastronomia, moda, música, cinema, geração de conteúdo, café, coworking, estúdio, eventos, loja, desenvolvimento e planejamento de comunicação, selo musical e o plano de uma cidade planejada, um members club e ocupação de espaços públicos. A expectativa é impactar 1 bilhão de pessoas.

AS PEDRAS NO CAMINHO

Essa escolha custou a Rodrigo: “Eu recebia olhares cético, do tipo: vocês querem conquistar o mundo? Vão lá, façam e voltem aqui”. Replicar o formato do evento de música e trazer outros universos, criando uma programação de conteúdo um pouco diferente, foi o caminho encontrado por ele, ao mergulhar de corpo e alma no projeto do Meca. Hoje, o empreendimento tem parceiros internacionais e produz pesquisas de comportamento e tendências. De certa forma, agora ele está voltando para contar. É um desafio diário, ele diz:

“Todo dia, acordo e me lembro do que temos que fazer. Quando a gente acredita, faz com o coração, o universo conspira. As pessoas chegam, as marcas se aproximam e as coisas vão acontecendo”

Até chegar nesse momento de maior visibilidade e estabilidade financeira (o MECA pretende fechar o ano com um faturamento de 12 milhões de reais), porém, foram muitas noites sem dormir. Rodrigo conta que acabou de sair de um desses momentos em que o medo de dar errado quase paralisa. “Como a gente fez muita coisa nova ao mesmo tempo, com um investimento muito grande sem ter retorno para balancear esse investimento, só nas últimas semanas começamos a fechar com as marcas e a ver o retorno”, diz, sobre a edição recente do MECAInhotim.

No caminho há pedras, mas há também apoios importantes. Rodrigo conta que sua inspiração para buscar este “objetivo que às vezes parece oculto” vem de nomes como Roberto Martini, da FLAG.CX, pela “visão de futuro e capacidade de liderar um dos grupos de comunicação mais disruptivos e inovadores do Brasil”, de Rony Rodrigues, da Box1824, pela “coragem de reinventar o mercado da pesquisa e a capacidade de se consolidar como uma das empresas de tendências mais relevantes do país”; e também de Guil Salles, do Grupo8ito, pela “energia e a capacidade de produzir como poucas pessoas que já conheci possuem”. Ele também menciona Peèle Lemos e Yentl Delanhesi, pela “sensibilidade e a capacidade de colaborar e cocriar de uma forma impressionantemente mágica”.

Todos esses caras, iniciativas e projetos que orbitam numa frequência semelhante à do Meca, foram responsáveis, Rodrigo diz, para que ele descobrisse afinal o que é esse objetivo final, que significa romper com um padrão de anos, até mesmo de gerações, e ressignificar o que se quer da vida:

“A cultura em que fui criado sempre me ensinou que o mais era o único caminho. No meu extremismo, coloquei toda a minha energia na busca do mais nos últimos 20 anos até descobrir que esse caminho era um buraco sem fim”

Ele prossegue: “Quanto mais eu cavava, mais queria ou precisava continuar cavando. Foi quando me dei conta que existia um outro caminho, na direção contrária, e que chegava ao mesmo destino. Consiste em trabalhar o menos, e não o mais. Não só em coisas materiais, mas em todos os aspectos da vida. Como posso ter menos tristeza, menos insegurança, menos estresse, menos desconforto? Menos tudo que for negativo para mim. Isso hoje me faz feliz”. Eis sua Meca.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: MECA
  • O que faz: plataforma multicultural
  • Sócio(s): Rodrigo Santanna
  • Funcionários: 16 fixos em São Paulo, 30 flutuantes conforme o projeto
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2009
  • Investimento inicial: R$ 490.000
  • Faturamento: R$ 12 milhões (projeção para 2016)
  • Contato: http://meca.love/
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