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Sócios não precisam ser iguais, mas podem ser complementares. Saiba como escolher o seu

Fernanda Cury - 29 nov 2016 Fernanda Cury - 29 nov 2016
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Antes de dar início a qualquer tipo de negócio em sociedade, seja ele micro, pequeno ou médio, todas as partes devem considerar que estão entrando em uma espécie de casamento. Assim como aparentemente um casal pode ter “tudo para dar certo”, também pode “dar errado”, e as sociedades correm o mesmo risco. Quem alerta é Patrícia Lages, do blog Bolsa Blindada, que indica aqui alguns cuidados fundamentais:

Quando vale a pena ter um sócio?

A sociedade é uma boa opção quando a viabilização de uma empresa depende de muitas mãos ou de muito capital, e esta parceria pode ser um meio de tirar um projeto do papel. Não ter 100% da responsabilidade e poder dividi-la com outras pessoas pode ser uma boa saída para tocar um negócio.

De olho nos riscos

Patrícia acredita que dois fatores principais podem causar atritos entre os sócios: a influência de problemas pessoais e desentendimentos na divisão das tarefas e dos lucros. “Um contrato bem amarrado minimiza esses problemas, não é raro ver casos de sócios que se desentendem porque um considera seu trabalho mais importante que o do outro e, portanto, acredita que deva ser mais bem remunerado. Também é comum vermos sócios que levam problemas pessoais e familiares para dentro da empresa e esperam que os demais compreendam e cooperem com a situação. Se um sócio faz isso, dá direito aos demais de fazerem o mesmo e, sendo assim, a empresa acaba ficando para trás”.

Intimidade nem sempre é garantia

Segundo Patrícia, a escolha de um amigo ou parente como sócio muitas vezes pode parecer facilitar a relação. “Mas se isso der margem a descuidos, a vantagem pode virar desvantagem. Portanto, cuidado: não é porque você está se associando a uma pessoa próxima que irá deixar de observar pontos básicos, como se há afinidade, confiança e respeito entre as partes. É importante, ainda, checar a situação financeira, legal, etc. Ou seja, o ideal é que a sociedade entre amigos siga os mesmos critérios e o mesmo rigor observados na sociedade com pessoas menos íntimas. A máxima ‘amigos, amigos, negócios à parte’ ainda é muito válida!”.

Em sociedades que envolvem membros da família é preciso ter cautela redobrada. São muitos os casos, infelizmente, de famílias que se dividem e até se dissolvem por causa do término de uma sociedade. Em contrapartida, há sociedades que se desfazem pela intromissão da família nos negócios.

“É preciso conhecer a fundo a situação do sócio. Analise questões como sua saúde financeira, seus objetivos e experiência profissional. Até o regime de casamento deve ser observado, pois é importante saber como ficaria a empresa em caso de um dos sócios se divorciar. É preciso levar todos os detalhes em consideração antes que problemas sérios possam ameaçar a empresa”.

Na hora da escolha, lembre-se:

– Sócios devem ser pessoas abertas, dispostas a ouvir e que tenham um bom equilíbrio entre fazer valer sua palavra ou ceder ao ponto de vista do outro.

– Sócios têm que pensar no bem dos demais componentes da sociedade e na empresa em si. Pessoas que têm a capacidade de separar as necessidades da empresa de suas necessidades pessoais e considerar os sócios tão importantes quanto elas mesmas devem ser valorizadas.

– Outra característica muito importante é a versatilidade, aquela pessoa que “topa tudo”. Principalmente em empresas menores, onde cada sócio, muitas vezes, tem de cumprir tarefas que não estejam necessariamente dentro de suas funções principais.

– Pessoas que não aceitam regras ou não concordam em definir os termos da sociedade formalmente não têm perfil de sócio. “Se antes de iniciar uma sociedade a pessoa já não concorda em colocar tudo no papel, certamente daí em diante as coisas tendem a ser bem difíceis”, alerta Patrícia.

O contrato de sociedade

Cada tipo de sociedade requer um tipo de contrato diferente e, para isso, vale a pena contar com a assessoria de um advogado especializado. “A assessoria vai custar menos do que pagar por um erro posteriormente”.

Basicamente o contrato deve conter o máximo de informações e definições possível, como as tarefas que cada sócio deverá cumprir, suas responsabilidades, sua participação no capital, como cada um será remunerado e, até mesmo, como serão as férias de cada um. “Evite deixar decisões importantes para serem resolvidas posteriormente, de forma informal”.

Atenção:

Rever regularmente os termos do contrato é uma atitude muito positiva para a empresa e para os sócios. “Uma empresa é algo orgânico e, como tal, não é possível prever em um primeiro contrato tudo o que vai acontecer. Por isso, os sócios devem concordar, de antemão que essa revisão deve ser feita periodicamente”, conclui Patrícia.

Histórias de sucesso e fracasso

A empreendedora Gisele Meter abriu sua empresa de consultoria empresarial há 3 anos, tendo dois amigos como sócios. “Começamos como amigos e terminamos quase como desconhecidos, cada um defendia seu próprio interesse. Hoje vejo que o negócio foi conduzido de maneira muito emocional e pouco profissional, faltava uma definição clara de objetivos e metas e até mesmo sobre as responsabilidades de cada um. A falta de comunicação clara também foi um ponto falho, que posteriormente gerou grandes desentendimentos. Por divergência de gestão e desgaste emocional, optei por sair da sociedade, mas a empresa permaneceu depois da minha saída”.

Hoje, com mais experiência, Gisele acredita que seja essencial ter a mesma visão de futuro para a empresa. “Entender e compartilhar os objetivos do negócio em si é crucial para o sucesso de uma sociedade. É importante, ainda, definir os “termos do divórcio antes do casamento”. Sei que parece pessimismo pensar assim, mas determinar como será a saída de um sócio caso seja necessário é fundamental para evitar possíveis disputas e desgastes no futuro”.

Mas há, também, muitas histórias de sociedades positivas. É o caso da parceria formada pela empreendedora Karla Garcia, da agência Design Agora, e seu sócio, Antônio Salgueiro. “Quando nos conhecemos, em um encontro de empreendedores, eu já tinha a empresa. Mas começamos a desenvolver trabalhos em parceria, que deram muito certo. Assim, cerca de 5 meses depois, ele passou a ser sócio formal da Design Agora. Essa sociedade já tem 1 ano e funciona bem porque temos objetivos em comum, tanto em relação à condução quanto à evolução do nosso negócio”.

Karla ainda ressalta que o fato de compartilharem valores como ética, respeito e comprometimento facilita a relação. “Mas apesar de termos pontos em comum, temos perfis bem diferentes, que somam na condução do nosso negócio. Cada um é responsável por uma área específica da empresa, mas algumas atividades são compartilhadas. Dividimos obrigatoriamente todas as decisões de maior impacto, sempre trocamos ideia sobre assuntos mais corriqueiros, mas preservamos também a autonomia que cada um tem em relação à área sob sua responsabilidade”, explica Karla.

Fica a dica: sócios não precisam ser iguais, mas podem ser complementares. Alguns pontos em comum são essenciais, como pensar da mesma forma em relação aos objetivos e à expectativa de crescimento da empresa, estar de acordo com a divisão de tarefas. Mas lembre-se que em muitos momentos a diversidade é enriquecedora. Pessoas que pensam de formas distintas sobre a solução de um problema, ou tem formações acadêmicas diversas podem agregar conhecimentos. Muitas vezes a análise sob diferentes perspectivas é positiva para a condução da empresa.

 

Esta matéria pode ser encontrada no Itaú Mulher Empreendedora, uma plataforma feita para mulheres que acreditam nos seus sonhos. Não deixe de conferir (e se inspirar)!

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