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Verbete Draft: o que é Gift Economy

Isabela Mena - 28 dez 2016 Gift Economy é o instinto primitivo de doar e trocar o que se tem em prol da sobrevivência e prosperidade de um grupo. É um dos princípios do Burning Man, festival que acontece no deserto de Nevada, nos EUA. Parece utopia, mas está no cerne da sustentabilidade.
Gift Economy é o instinto primitivo de doar e trocar o que se tem em prol da sobrevivência e prosperidade de um grupo. É um dos princípios do Burning Man, festival que acontece no deserto de Nevada, nos EUA. Parece utopia, mas está no cerne da sustentabilidade.
Isabela Mena - 28 dez 2016
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Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…

GIFT ECONOMY

O que acham que é: Economia que regula trocas de presentes de Natal.

O que realmente é: Gift Economy (geralmente traduzida como “Economia da Dádiva”) é um tipo de economia na qual bens ou serviços não são vendidos ou comprados mas, sim, dados. As relações, na Gift Economy, são sempre recíprocas o que garante uma circularidade incessante de trocas, chamada de “dom e contradom”. Por isso, outra tradução para o termo é “Economia do Dom”. Vale lembrar que na Gift Economy a troca nunca é monetária e tem como base valores intangíveis como senso de contribuição e comunidade.

No entanto, é preciso se aprofundar para entender o tema completamente. De acordo com Marina Pechlivanis, sócia-fundadora da agência de comunicação estratégica Umbigo do Mundo e autora do livro Economia Das Dádivas: O Novo Milagre Econômico, a Gift Economy convida a uma reflexão sobre princípios de formação de alianças, geração de respeito e de vínculos que existem nas sociedades ditas arcaicas, primitivas ou indígenas e que coexistem em economias planificadas, de mercado ou de escambo. “Nessas relações recíprocas que promovem os valores humanos, sejam eles sociais, afetivos ou simbólicos, são fortalecidas a confiança, a ética e a credibilidade, que, por sua vez, promovem a coesão do grupo em busca de sobrevivência e prosperidade; daí seu poder de instituição econômica, social e política.”

É fina a linha que separa a Gift Economy da Economia Compartilhada que, se por princípio se baseia na troca, na Nova Economia é bastante utilizada via transação comercial (Uber e Airbnb são os dois exemplos mais conhecidos). Já os softwares Open Source são totalmente Gift Economy: grátis e desenvolvidos pública e colaborativamente.

Quem inventou: Este é um conceito que advém de tribos indígenas e estudado pela Antropologia. Segundo Pechlivanis, é amplamente utilizado em pesquisas científicas, com base no livro Essai sur le Don, do antropólogo e sociólogo francês Marcel Mauss. “É um tratado que estuda as relações complexas do dom ou da dádiva que circulam nas relações de trocas e balizam sistemas econômicos, morais, jurídicos e sociais”, diz ela.

Hoje em dia, um dos teóricos mais populares sobre o assunto é o escritor e conferencista norte-americano Charles Eisenstein, autor de Sacred Economics: Money, Gift and Society in the Age of Transition. Em uma entrevista ao Guardian, em 2012, Eisenstein definiu-se como um “ativista e teórico do decrescimento.”

Quando foi inventado: A obra de Mauss é de 1924 e de Eisenstein, de 2011.

Para que serve: Individualmente, é uma mudança de paradigma que surge de um desejo pessoal. Para o mercado, é estar alinhado com sustentabilidade e, consequentemente, com inovação. Pechlivanis conta que por meio da Gift Economy as marcas compartilham e trocam (produtos, histórias, conhecimentos, know-how, soluções etc.) o que as faz serem percebidas e reconhecidas.

O Negócio Social é outro ponto da Gift Economy e, no entender de Pechlivanis, condição sine qua non da existência e manutenção de uma empresa no mercado. “Os consumidores valorizam muito mais as empresas engajadas em iniciativas conectadas com propósito e com o equilíbrio do entorno”, afirma.

Quem usa: Alguns exemplos de empresas são a Tetra Pak e a Colgate. Segundo Gisele Gurgel, diretora global na Tetra Pak e responsável pela unidade de negócios “Deeper in the Pyramid” que é baseada na Gift Economy e foca no desenvolvimento de negócios, produtos e soluções para consumidores de baixa renda, esta é uma forma inovadora de buscar oportunidades e executar estratégias mas requer uma forte visão nas organizações. “Por isso, costuma ter mais sucesso em pequenas e médias empresas, geralmente mais ligadas à mentalidade de seu fundador”, diz.

Gurgel aponta a Unilever como um case de mudança de mentalidade e valores: “Lá, o CEO Paul Polman faz um trabalho de valores que vão além dos custos e benefícios de seus produtos diretos”.

A Gift Economy é um dos dez princípios do Burning Man, festival multicultural que acontece anualmente no deserto em Nevada, nos Estados Unidos, e é “money-free”, ou seja: lá a ideia é que tudo seja trocado sem intermediação financeira.

Efeitos colaterais: Risco de insucesso na aplicação comercial. Segundo Gurgel, a aplicação da Gift Economy não é simples como modelo de negócio e requer um alto conhecimento do conceito de sustentabilidade: “Além disso, é preciso ter uma visão muito concreta com objetivos que nem sempre se encaixam no modelo tradicional de resultados”.

Quem é contra: Empresas com modelo de negócios tradicional e estrutura de custos fixos muito altos que não comportam a agregação de valores difíceis de serem mensurados. “Elas acabam criando uma certa aversão ao modelo sustentável, que requer uma mentalidade mais aberta quando consideramos retorno sobre investimento”, diz Gurgel.

Para saber mais:
1) Leia, no The Atlantic, The Wonderful, Weird Economy of Burning Man. Crítico, o artigo diz que, apesar da ideia de ser money-free, o festival não consegue fugir do capitalismo e nem o capitalismo vai continuar inabalado pela Gift Economy.
2) Assista ao TED-Ed What is a gift economy? Feito por Alex Gendler, editor do TED-Ed.
3) Leia, na Harvard Business Review, How to Thrive in Social Media’s Gift Economy. O texto diz que o conceito de Gift Economy é comumente utilizado para explicar Open Source Softwares e o festival Burning Man mas que também pode dar boas ideias sobre o que funciona e não funciona nas mídias sociais de marcas.

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