Ter um projeto inovador em mente e não dispor de capital para transformá-lo em realidade é um dos principais desafios para quem quer empreender. O investidor-anjo, executivo ou empresário que aposta seu próprio capital em startups, vem ajudando muitos empreendedores a ultrapassar essa barreira. Cassio Spina, 49, é um dos pioneiros dessa atividade no país e fundador da Anjos do Brasil, entidade que fomentar essa prática por aqui.
Cassio conversou com o Draft e deu uma série de dicas para ajudar quem é empreendedor a encontrar o seu “anjo” e, também, para desfazer alguns dos principais mitos que cercam essa relação. Ele diz, por exemplo, que ganhar a atenção desses investidores exige uma boa preparação na hora de apresentar um projeto que demonstre tanto o potencial do negócio sonhado como o poder de execução do empreendedor que almeja a grana.
“O perfil do empreendedor também pesa muito. Ele precisa estar conectado e interessado em ouvir o mercado e se adaptar ao que ele determina”, afirma. Ele diz que o investidor-anjo quer conhecer mais o projeto, ver um protótipo e ter uma prova da capacidade do empreendedor:
“Gostamos de investir em quem faz muito com pouco”
Cassio, que é engenheiro eletrônico formado pela Escola Politécnica da USP, resolveu atuar como investidor-anjo depois de empreender durante 25 anos o ramo da tecnologia. Sua veia empreendedora despertou aos 14, quando começou a desenvolver programas de computador em casa. A primeira empresa, a InterSys, foi aberta aos 19 anos com capital próprio e, desde então, ele não parou mais.
Ele fundou a Anjos do Brasil em 2011, depois de conhecer a figura do investidor-anjo nos Estados Unidos e perceber que isso não era muito conhecido no país. Na época, contatou algumas entidades, criou grupos e começou a fazer contatos. “Vi que havia demanda, que muitos empreendedores queriam ter esta oportunidade, mas não conseguiam.”
Para começar a disseminar o conceito, ele criou um blog, escreveu o livro”Investidor Anjo – Como conseguir investimento para seu negócio” (também em e-book, e depois viria o “Dicas e segredos para empreendedores”) e começou a se reunir com investidores de São Paulo e do interior.
“Montamos um grupo com uns 15 ou 20 investidores e começamos a olhar startups. Na época, eu já tinha dinheiro aplicado em três. Com o grupo, passamos a avaliar projetos e os investimentos aconteceram naturalmente. Depois, criamos grupos regionais e o negócio foi ampliando. Hoje, apesar de não temos um número oficial, acredito que 300 projetos estão sendo executados com nosso investimento”, diz. Ele tem, em seu portfólio pessoal, 11 empresas nas áreas de educação, tecnologia e lazer, mas não revela o capital investido.
QUEM SÃO OS ANJOS DO BRASIL
Segundo Cassio, o investidor-anjo tem cerca de 40 anos, uma certa experiência de mercado e um capital sustentável. “Quem já tem fortuna não vai investir em startup porque é um negócio que gerará relativamente pouco dinheiro para ele”, diz.
Nesse meio há profissionais liberais, executivos, gestores de fundos de investimentos. “São pessoas que querem contribuir não apenas financeiramente, mas transmitir toda a sua expertise sobre o negócio”, diz, para em seguida derrubar um mito:
“O investidor-anjo agrega valor e experiência, além de dar dinheiro. Mas não é santo nem faz milagre”
Para Cassio, é fundamental que o empreendedor mantenha um bom relacionamento com o seu investidor-anjo. Ele dá duas dicas: “Mantenha-o sempre informado, tanto sobre os bons quanto sobre os seus maus resultados. Se você não contar o que está acontecendo de ruim, por exemplo, ele não poderá ajuda-lo”, diz.
Outra dica: “Valorize o seu investidor-anjo, principalmente quando o negócio está indo muito bem. Já vimos casos de o empreendedor menosprezar a ajuda e querer mudar termos e condições acordados em contrato, como reduzir a participação dele no negócio, depois que o negócio alavancou. Nunca se esqueça que toda empresa vive altos e baixos”.
EM BUSCA DE QUEM FAZ MUITO COM POUCO
A maioria dos negócios financiados pela Anjos do Brasil está ligada à tecnologia, mas também há projetos na área da saúde, educação e entretenimento. Cassio conta que o investimento-anjo vem aumentando de 11% a 15% ao ano, chegando a 784 milhões de reais em 2015 no Brasil. “Claro que ainda não se compara aos Estados Unidos ou outros países da Europa, mas é um bom número. O que falta é estímulo para o setor crescer.”
Apesar das diferenças regionais, ele diz que não há muita diferença nas práticas do investimento-anjo em outros países. O que se nota é a diferença do nível de experiência: “Em Israel, conversei com vários investidores e muitos têm uma experiência enorme. Eles investem em startups há quase 20 anos e isso pode ser uma vantagem e gerar mais oportunidades”.
Cassio considera a criação da Anjos do Brasil algo pessoalmente gratificante. “Me relaciono com pessoas do bem, que têm boa motivação e pensam no coletivo, então vejo que é possível criar um trabalho colaborativo de verdade. O que percebo até aqui é que está sendo uma experiência positiva e com valores que estão acima do interesse individual de cada investidor”, afirma.
O ano que acabou de terminar foi, a seu ver, um bom teste desse espírito de colaboração. Com a recessão econômica, o que um investidor-anjo faz? “Talvez 2016 não seja um ano de muito sucesso, mas, de qualquer forma, atuamos de forma contracíclica da relação econômica, ou seja, investimos em inovação e o retorno do investimento demora entre três anos e cinco”, diz, e descreve o cenário que encontrou: “Algumas startups têm pessoas mais maduras, empreendendo após uma demissão. A soma dessa experiência com a vontade de um jovem é a combinação perfeita para um investidor-anjo se interessar pelo projeto”.
Ainda que sempre envolva uma taxa alta de risco, como é natural no universo das startups, Cassio afirma que ser um investidor-anjo é bom negócio. Ele cita como exemplo o Buscapé, um negócio que começou com quatro estudantes de engenharia e foi vendido por 320 milhões de dólares.
“Ser investidor-anjo é sustentável desde que você siga regras básicas como a de diversificar seu portfólio”
Esta é uma relação de troca permanente, pois um investidor-anjo, além de ajudar a empresa financeiramente, também representa uma chancela para o mercado de que aquela empresa tem potencial: “Se o mercado souber que algum investidor está apostando naquela empresa, isso valoriza o passe dela”.
SUPERANDO A BARREIRA DA BUROCRACIA
Até então, existiam dois riscos para o investidor-anjo no Brasil. O primeiro (mundial) é o de perder o investimento e o segundo (que era uma jabuticaba, só existente no Brasil) é o de ter o ônus de arcar com um contencioso de uma startup que não deu certo. Cassio diz que isso está em vias de ser eliminado, pois a partir deste mês de janeiro entram em vigor mudanças no Supersimples. “Agora, o investidor não precisará mais tornar-se sócio da empresa que receberá os recursos”, afirma. Até então, ao investir capital próprio o anjo era obrigado a assumir um papel minoritário na sociedade. Com as novas regras, poderá investir sem ser responsabilizado legalmente por nenhuma atitude da empresa.
“Esta é uma mudança importante porque retirou um grande receio do investidor que é justamente o risco de assumir um contencioso que ele nem imagina, por exemplo. Com as mudanças, o único risco é ele perder o capital que investiu.”
O próximo passo, segundo ele, é conquistar incentivos fiscais. “A lei dá a interpretação de que o Ministério da Fazenda poderá regulamentar uma tributação específica sobre investimentos. Isso é muito comum no Reino Unido, França e Portugal, que criaram políticas de estimulo para esse tipo de atividade. Esperamos que isso ocorra por aqui”, diz o “pai” dos anjos brasileiros.
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