Uma boa consultoria pode colocar um negócio nos trilhos, certo? Porém, este não é um serviço acessível a todo empreendedor, especialmente o sujeito que está começando uma startup. De olho em empresas com potencial de crescimento mas sem dinheiro para pagar um atendimento personalizado, os cariocas Marllon Calaes, de 28 anos, Daniel Ushida, 26, Antonio Cardoso, de 25, e Felipe Ferraz, 24, desenvolveram o Aussi. Trata-se de um aplicativo mobile que é uma espécie mural onde o empreendedor pode postar dúvidas de negócio – lá chamadas de “desafios” – e receber respostas de outros empresários de pequeno porte (em formato de texto, áudio, vídeo ou foto). Atualmente, a plataforma tem cerca de 2 500 usuários.
Ao postar a dúvida, o usuário escolhe entre sete categorias – Marketing e Vendas, Inovação, Finanças, Planejamento, Pessoas, Legalização e Normas, e Sustentabilidade – e pode optar por tornar seu pedido de ajuda público ou não (como um post do Facebook). Marllon, diretor de negócios da startup, conta que, na maioria das vezes, as dúvidas não demandam uma consultoria complexa – por isso mesmo não faria sentido que PMEs pagassem tão caro pelas respostas:
“Uma consultoria no formato tradicional, que cobra por hora, é inviável para o empreendedor da base da pirâmide”
O modelo de negócio do Aussi é no formato freemium. Há a opção gratuita, na qual é possível ter pequenas dúvidas sanadas, e a paga (de 199 reais por consultoria), indicada para questões complexas de negócio. Ao final da consultoria, o usuário recebe um plano de ação e o consultor (que é um empreendedor da própria plataforma) só recebe seu pagamento quando o “cliente” avalia o serviço positivamente.
A ideia do Aussi, como muitos novos negócios, surgiu do desejo de transformar uma frustração em oportunidade de negócio – e tudo começou em um coworking. Marllon é sócio da Experimental, empresa de consultoria de gestão que tinha como um braço de operação a Liga Experimental, local de trabalho compartilhado em Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Antonio era seu sócio na Liga e Daniel trabalhava em uma das empresas que utilizavam o espaço. O coworking fechou em 2015, mas o trio continua sócio na Experimental.
Felipe, que já era amigo de Marllon, chegou por último, vindo do curso de Engenharia da Computação no Instituto Militar de Engenharia e de um período de trabalho no banco BTG Pactual. Juntos, eles começaram a desenhar o projeto do Aussi. Marllon fala dessa fase: “Desde o início, o objetivo era atender melhor e de maneira financeiramente viável os microempreendedores, que são os que mais crescem e mais têm problemas de gestão”.
Além disso, eles não queriam prejudicar a rotina desses pequenos empresários – o que pode acontecer com consultorias tradicionais, que chegam a durar dias inteiros. Por isso, a ideia do atendimento acontecer via aplicativo já era a mais indicada, já que ele pode ser usado fora do horário comercial. E de fato é o que acontece. “Hoje, o nosso pico de acessos é entre 22h e 2h da manhã”, conta ele.
UMA PARCERIA PARA FAZER O PRODUTO CHEGAR A QUEM PRECISA
Enquanto os sócios buscavam uma chancela ao Aussi, o Sebrae-RJ fez um convite para que eles participassem de suas rodadas de créditos. Daí em diante, eles também poderiam contar com especialistas da entidade para tirar dúvidas dos empresários na plataforma – e deu certo. Com as barreiras naturais de quem quer entrar em uma comunidade e fazer a divulgação de um produto novo, o Sebrae, por ser uma marca reconhecida, facilita o acesso ao público-alvo.
O apoio também colocou o app nas rodadas de crédito em comunidades periféricas do Rio, como a favela do Jacarezinho, na Zona Norte da cidade. Eles complementaram a atuação do projeto que leva os bancos até os microempreendedores. Desta forma, o público recebe o dinheiro de empréstimo ao mesmo tempo em que também aprende a geri-lo. “As pessoas de lá têm ótimos negócios e muita força de vontade, então esta é uma responsabilidade muito grande que queremos assumir”, diz Antonio.
Em dezembro do ano passado, o Aussi foi selecionado entre as 100 iniciativas mais inovadoras do mundo pelo Startup Chile e os sócios embarcam este mês ao país para fazer uma uma imersão e apresentar o produto a investidores locais. Antes disso, o Aussi foi eleito um dos 60 negócios mais inovadores do estado no Startup Rio, de onde receberiam 60 mil reais de investimento.
No entanto, com a crise econômica do estado, eles não viram até hoje a cor do dinheiro. Marllon conta que, mesmo frustrados, eles pensaram em uma alternativa:
“Contornamos a situação abrindo processo seletivo de voluntários, assim conseguimos pessoas na equipe sem receber ajuda financeira”
Mas não foi tão fácil quanto parece. Para conseguir levar à frente o projeto, eles investiram do próprio bolso 50 mil reais. Até agora, o Aussi não fatura — o que é um desafio comum a negócios que optam pelo modelo freemium —, mas Marllon diz que a expectativa é de que neste ano entrem 350 mil reais no caixa da empresa e que o foco neste momento é aproveitar as oportunidades que já surgiram.
COMO CONTINUAR SEM O TÃO SONHADO INVESTIMENTO
D0s 2 500 usuários cadastrados na plataforma, cerca de 500 já tiveram suas dúvidas publicadas e respondidas. A versão de teste do aplicativo foi ao ar em maio de 2016. Aos poucos, os cofundadores criaram mecanismos para que a ferramenta, apesar de ser colaborativa, trouxesse conteúdo de qualidade aos empreendedores que precisam de ajuda – para não virar um emaranhado de dicas furadas e comentários vazios. Qualquer pessoa inscrita no Aussi pode ser um consultor, mas para chegar a este nível deve ter oferecido sete ajudas e ter uma avaliação acima de 4.8 (a nota máxima é 5). “Empreendedores não dão pitaco se não entenderem do assunto”, diz Marllon.
Por meio de outro programa, o Rio+ (que viabilizou este mês fevereiro uma área para empreendedores que queiram tornar seus negócios mais sustentáveis para receberem orientação de especialistas) o Aussi firmou outra parceria valiosa, com a ONU Brasil. “A organização entende que o Aussi pode colaborar com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, porque dá poder econômico aos microempreendedores”, conta o diretor de negócios.
Apesar da missão de romper com o modelo tradicional de consultoria, e isso poder se tornar uma solução para grandes empresas, os sócios querem que o Aussi continue ajudando apenas pequenos negócios. Marllon fala dessa meta:
“Queremos diminuir a solidão do micro e pequeno empreendedor, mas nunca vamos eliminar a necessidade da consultoria para empresas maiores”
No futuro, eles querem produzir conteúdo em formato de “aula de empreendedores” que se mantém em seus mercados locais, para ter impacto globalmente – a perspectiva “glocal”, como se diz no mundo de startups. Antonio diz: “Muita gente não se importa em democratizar o próprio conhecimento porque sabe que vai chegar uma hora em que ela também vai precisar de ajuda e vai ter”.
Para tornar o negócio mais rentável e levar o serviço a mais pessoas, os sócios miram em empresas grandes que tenham em seu portifólio empreendimentos menores, como as máquinas de cartão de crédito, sendo uma forma de levar inovação aos clientes. “A ideia é que o Aussi seja num futuro breve uma grande plataforma que tenha um raio-X de empreendedores pequenos”, diz Marllon.
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