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Criar um app é fácil. Convencer as pessoas a usá-lo é um dos desafios da Styme, que organiza filas

Reinaldo Chaves - 28 fev 2017 Vinicius e Thiago, os sócios fundadores da Styme, em frente ao Le Jazz (um dos restaurantes que usam o produto).
Vinicius e Thiago (mostrando o app no smartphone). Os sócios fundadores da Styme, em frente ao Le Jazz, um dos restaurantes que usam o produto.
Reinaldo Chaves - 28 fev 2017
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“Cara, você é tão chato!” Ouvir uma frase dessas é desagradável para a maioria das pessoas, mas para quem está criando uma startup é ótimo. É o que dizem os sócios da Styme, aplicativo que faz gerenciamento de reservas e filas remotas em restaurantes. Thiago Sinisgalli, 27, e Vinicius Rittes, 28, começaram o negócio em 2014, com 150 mil reais do próprio bolso. Na época, eram “chatos” porque estavam oferecendo um produto digital a donos de restaurante. Era o começo de uma jornada de empreendimento que os obrigou a superar, além dessa resistência, também outros problemas. Eles só conseguiram crescer depois de um aperfeiçoamento do software, de usarem um modelo enxuto de negócio e de buscarem fontes alternativas de investimento.

Os dois se conheceram quando cursaram a FGV-EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo). Como muitos jovens, saíram da universidade com o sonho de empreender, mas antes tiveram uma curta experiência no mercado financeiro, em instituições como J.P.Morgan e Bank of America Merril Lynch. Mas não era isso que queriam. “É um trabalho que te ensina muito, mas não estávamos satisfeitos em só estudar o preço de uma ação e tentar encontrar o preço correto. Achávamos que podíamos fazer muito mais”, conta Vinicius.

Em reuniões entre amigos para debater possíveis projetos nos quais investir tempo e trabalho, chegaram na proposta do Styme. “A gente ficava frustrado quando tinha que esperar por uma mesa em um restaurante, de pé, sem nem saber como estava a fila de espera. Por que não resolver isso?” A ideia não é original: foi adaptada de aplicativos que existem no exterior, como o Nowait, que estava começando, na época, e oferecia a fila de espera remota. Thiago fala dessa fase:

“Nosso começo foi imprudente. Achávamos a ideia legal, fizemos uma análise mínima de mercado e lançamos. Hoje sabemos que devíamos nos adaptar melhor às necessidades dos donos de restaurante no Brasil”

Ele conta que no início o foco do Styme era a fila remota, ou seja, um aplicativo que resolvia muito mais um problema dos clientes do que do dono do restaurante. Mas que quem iria comprar era o dono do restaurante. E aí? “Imaginávamos que o acesso aos restaurantes fosse ser mais fácil. Mas descobrimos que eles ainda têm receio de adotar tecnologias” diz Vinicius. “Com muita persistência, conseguimos provar a eles que os clientes estão dispostos a pagar pela comodidade do aplicativo e que ele que contribui para melhorar a operação do restaurante como um todo.”

Thiago conta que eles cansaram de ficar do lado das hostesses dos estabelecimentos para ajudá-las em tudo, e auxiliar no uso do app. “É um trabalho de convencimento. Uma vez um dono de restaurante me disse: Cara, você me encheu tanto para usar o aplicativo que vou te dar uma chance”, lembra.

COMO FUNCIONA

Depois do começo meio atropelado, e de sentir as necessidades do mercado o app passou também a ser uma plataforma de organização para os restaurantes. O sistema Styme Host roda em iPad e permite controlar as reservas feitas fisicamente e também uma fila de espera remota. O restaurante recebe relatórios que mostram incidência por tamanho de mesa, por dia da semana, por horários. Também há dados de CRM, como informações dos clientes (por exemplo, quantas vezes a pessoa foi, quantas vezes desistiu, foto, número de telefone, e-mail).

O valor do Host depende do plano de uso, que varia pelo número de esperas atendidas. Vai de 99 reais a 399 reais. A parte de base de dados e CRM pode também ser acessada via site e há possibilidade de usar o app de reservas também off-line. Ou seja, se a internet cair, dá para controlar o fluxo de mesas (porém, sem a fila remota).

A interface do Styme é simples e já recebeu melhorias. O maior concorrente, no entanto, ainda é o papel e caneta.

A interface do Styme é simples e já recebeu melhorias. O maior concorrente, no entanto, ainda é o papel e caneta.

Já o app propriamente é gratuito para os frequentadores dos restaurantes e permite fazer buscas por itens como tamanho da fila de espera, tipo da comida, cardápio, região da cidade e ticket médio. Também é possível postar fotos dos principais pratos e sugestões do chef. A comodidade é o cliente entrar na fila de espera remota por uma mesa e, para esta função, é cobrada uma taxa que vai de 10 a 30 reais, dependendo do tamanho do restaurante e da mesa pedida.

“O cliente é incluído na fila de espera, remotamente, e pode fazer outras coisas enquanto espera. A pessoa tem mensagens que foi adicionada à lista de espera e que sua mesa está pronta. Quem já tem o app recebe um push de aviso. Quem ainda não tem, recebe um SMS”, conta Vinicius.

Hoje, o app tem 62 restaurantes parceiros, em São Paulo e Ribeirão Preto — tem 24 mil usuários. Já foram cerca de 2 milhões de reservas e filas intermediadas.Hoje em dia, passam 120 mil a 130 mil de pessoas por mês pelo aplicativo.

Entre os clientes estão estabelecimentos como Z Deli, Bar da Dona Onça, Le Jazz, Tan Tan e Eataly, em São Paulo, e Weird Barrel em Ribeirão Preto. São locais que recebem centenas de pessoas todos os dias, por isso a tolerância de chegada para quem fez a reserva costuma variar apenas de três a sete minutos.

UM MODELO BEM ENXUTO, O ÚNICO POSSÍVEL

A Styme faturou 33 mil reais no ano passado e atingiu seu break-even (ponto de equilíbrio entre receitas e despesas) em setembro. Thiago e Vinicius acreditam que o motivo, além dos aperfeiçoamentos que fizeram no aplicativo, foi a escolha por um modelo de companhia que alia tecnologia e baixos custos.

Até hoje a Styme continua só com dois funcionários – os próprios sócios. Os desenvolvedores são terceirizados. “Desde o começo, não tínhamos background em programação e precisaríamos de mais dinheiro ou de mais tempo para formar uma equipe de tecnologia. Pesquisamos no mercado, avaliando preço e qualidade do serviço, e encontramos isso em Portugal”, conta Thiago. O parceiro é a Bliss Applications.

Outra decisão estratégica importante em uma empresa de aplicativo é qual tipo de servidor usar. O da Styme fica na nuvem, no AWS da Amazon, todo o aplicativo, bem como a base de dados, está lá. Tudo isso foi pensado para oferecer um produto acessível, como conta Thiago: “Restaurantes são um segmento com margens de lucro muito apertadas. E ao mesmo tempo, tudo tem que ser rápido. Por isso buscamos oferecer um preço competitivo e uma tecnologia que agilizasse a operação”.

COM O DINHEIRO VEM A RESPONSABILIDADE

Depois de um ano de operação, a empresa teve uma rodada de investimento anjo, de 130 mil reais, que trouxe três acionistas externos. Atualmente, a Styme também negocia um novo investimento, de 150 mil reais, com um investidor não revelado.

Em dezembro do ano passado, eles foram selecionados pelo Broota, uma plataforma de investimento coletivo, para captar 150 mil reais – já atingidos. Isso cria uma situação nova para a dupla de sócios, diz Vinicius:

“Quem investe na Styme ganha uma porcentagem na empresa. Estamos estruturando para ver como nos reportar a todos esses investidores”

Aqui cabe um parênteses explicativo sobre como esse tipo de investimento funciona. Conversamos também com Camila Nasser, responsável pelo marketing e comunicação do Broota, e ela conta que o investimento mais comum ocorre por meio do chamado Título de Dívida Conversível. Neste formato, o investidor se torna credor de uma dívida e, no momento de vencimento ele pode, a seu critério, transformar a dívida em participação acionária na empresa em que investiu. “Esse modelo de investimento protege o investidor de riscos de uma sociedade precipitada, considerando que o investimento em startups é de altíssimo risco”, diz ela.

O investimento mínimo aplicado pelo Broota é de 1.000 reais. Porém, as startups podem estipular um ticket maior para suas ofertas. No caso da Styme, o investimento mínimo foi de 5.000 reais. O Broota é grátis para startups e cobra, dos investidores, uma taxa pela estruturação da rodada, de até 1% ao ano sobre o valor investido. Fecha parênteses.

PLANOS PARA O FUTURO, DESAFIOS DO PASSADO

Com os novos recursos, Vinicius e Thiago afirmam que pretendem melhorar o aplicativo, investir em marketing e — enfim — contratar pessoas para, também, estruturar um time interno de tecnologia. “Nosso crescimento foi orgânico até agora. Nosso marketing foi feito com panfletos em restaurantes e ações e parcerias em redes sociais. Agora queremos expandir a divulgação e melhorar o aplicativo. No futuro, pretendemos trabalhar com gerenciamento de filas de outros estabelecimentos, como hospitais”, conta Vinicius.

Eles dizem, porém, que o maior desafio de vendas da Styme ainda é superar o velho papel e caneta. Isso é estratégico porque o app só mostra sua real qualidade, e só gera mais receita ao restaurante, quando é usado todos os dias e em todas as tarefas de reserva e fila. “Além disso, quando o banco de informações fica grande e organizado, o empresário pode criar estratégias de fidelização dos clientes”, diz Vinicius. Ele demonstra, também, como isso é complexo:

“A hostess pode não gostar do aplicativo, o gerente, o garçom. Precisamos convencer várias pessoas, não só o dono do restaurante, a usar o app”

Os dois se dizem animados por fazerem esse trabalho de convencimento, não só por acreditar na sua ideia, mas também porque a experiência tem sido muito enriquecedora. “A vida noturna em São Paulo e outras cidades é enorme. Milhares de pessoas e famílias trabalham todos os dias e têm diversas histórias de vida para contar. É um campo de muita oportunidade de negócios e também para aprender muito”, diz Thiago. Enquanto a fila anda.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Styme
  • O que faz: Gerenciamento de reservas e filas remotas para restaurantes
  • Sócio(s): Thiago Sinisgalli e Vinicius Rittes
  • Funcionários: 2 (os sócios)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2014
  • Investimento inicial: R$ 150.000
  • Faturamento: R$ 33 mil em 2016
  • Contato: [email protected]
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