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Como é ter um app de comércio local, como o Zolkin, e precisar esperar o grande parceiro para enfim decolar

Mirela Mazzola - 20 mar 2017 Paulo Roberto Kress Moreira já teve grandes negócios. Agora espera uma gigante viabilizar sua primeira startup
Paulo Roberto Kress Moreira já teve grandes negócios. Agora espera uma gigante viabilizar sua primeira startup
Mirela Mazzola - 20 mar 2017
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Paulo Roberto Kress Moreira, 45, é um nome conhecido para quem acompanha a cena gastronômica paulistana. Ele foi um dos sócios do Grupo Egeu, dono dos restaurantes General Prime Burger, Kaá e Italy, e já foi eleito Restaurateur do Ano por publicações como Veja São Paulo e o extinto Guia Quatro Rodas. Foi ideia dele tirar o chef Salvatore Loi da cozinha do aclamado Fasano e levá-lo ao Girarrosto, que à época abocanhou o prêmio de restaurante italiano revelação da América do Sul pela revista inglesa Restaurant, uma das mais respeitadas do gênero.

Mas não vamos falar de restaurantes aqui, e sim de como um projeto inovador, ousado e que gera um benefício real para o lugar em que é implantando acabou ganhando o espaço principal na rotina deste empreendedor. No início do ano passado, Paulo Roberto vendeu sua participação no Grupo Egeu para dedicar-se exclusivamente ao Zolkin — um aplicativo que converte moedas virtuais em descontos, como um incentivo ao consumo de bairro (em restaurantes e cinemas, por exemplo). “O app que paga pra você ir logo ali”, como diz o site.

Funciona assim: ao se cadastrar, gratuitamente, o usuário ganha 100 moedas zolkin, que equivalem a 100 reais. Por geolocalização, ele escolhe – de padaria a pet shops – onde vai consumir: cada estabelecimento limita uma porcentagem da conta a ser paga com zolkins. Ao ser informado da forma de pagamento, o garçom lança o CPF na máquina de cartão, o desconto é efetivado e o valor pago em reais se transforma em zolkins, para serem usados em futuras compras dentro de um ano. Apesar de poder ser ativado de qualquer lugar, o intuito do aplicativo é incentivar as pessoas a usarem serviços no bairro onde moram e trabalham – o que, para os idealizadores, é uma revolução de qualidade de vida, fomento à economia local e até de segurança pública, já que gente circulando pelas ruas significa bairros mais humanizados.

O estabelecimento determina o percentual da conta que pode ser pago com a moeda virtual Zolkin.

O estabelecimento determina o horário e o percentual da conta que pode ser pago com a moeda virtual Zolkin.

De acordo com Paulo Roberto, há 113 mil usuários cadastrados no app e 120 estabelecimentos – casas do Grupo Egeu incluídas –, em São Paulo e Alphaville (que pertence ao município paulista de Barueri), por enquanto.

Para integrar o Zolkin, os estabelecimentos repassam 4% do valor total da compra para o aplicativo. Hoje em dia, isso representa um faturamento de cerca de 30 mil reais mensais para o negócio de Paulo Roberto. Uma das vantagens, para o estabelecimento, é que ele pode determinar o horário em que o desconto Zolkin funciona e, assim, gerar fluxo de clientes nos horários mais vazios de um restaurante, por exemplo.

A ideia é que, ainda este ano, o Zolkin esteja presente nas capitais do eixo Sul-Sudeste e, em seguida, nas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste. “Mercados menores são mais abertos à inovação, apostamos nisso”, diz.

Fortalecer o comércio local é uma ideia boa, tornar a relação entre estabelecimentos comerciais e seus vizinhos algo mais humanizado também. Mas o app ainda não decolou. Então é disso que vamos falar: da escolha desse sujeito, de seus desafios e motivações.

A trajetória empreendedora de Paulo Roberto antes do Zolkin vai além da gastronomia: aos 24 anos, ele fundou o parque gráfico Total Print, que fornecia boletos e faturas para bancos e empresas de telefonia, chegando a ter três plantas no país (no Rio, em São Paulo e em Uberlândia). “Da família, só herdei a paixão pela comida”, diz ele. Sua avó era banqueteira em Guaxupé (MG), pertinho de Mococa (SP), cidade onde o paulistano cresceu. Outro negócio que ele criou, a Mindex Participações, foi uma das responsáveis por implantar o primeiro parque eólico privado do Brasil, em Água Doce (SC). Paulo Roberto vendeu sua participação nas duas empresas, antes de se desvincular do Egeu.

VINTE ANOS DEPOIS, ASSISTIR A UM NOVO NASCIMENTO

É comum que um empresário bem-sucedido seja cortejado com ofertas inovadoras ou propostas de parceria. Menos usual, no entanto, é ele se entregar exclusivamente a uma delas. Ainda mais se for algo com mais potencial do que retorno em vista. Pois foi o que aconteceu com Paulo Roberto, ao ser apresentado a uma plataforma que permite transações com voucher emitidos entre estabelecimentos comerciais, no fim de 2012. Seu irmão, Paulo Ricardo, que ainda é sócio no Grupo Egeu, embarcou junto para dar forma ao Zolkin.

Paulo Roberto e seu irmão refizeram a comunicação do app, e já refizeram a arquitetura do app três vezes.

Paulo Roberto e seu irmão Paulo Ricardo remodelaram a comunicação do app — e já refizeram a parte operacional três vezes.

A moeda ganhou o nome e a roupagem atuais pelas mãos dos dois. Eles investiram cerca de 500 mil reais para tirar o projeto do papel e, desde então, mais 20 milhões de reais para mantê-lo em pé (o que inclui, por exemplo, o salário dos 15 funcionários e gastos com marketing e sistemas). O aplicativo já teve que ser refeito três vezes para se adequar ao sistema operacional e às máquinas de cartão da Rede, por exemplo. O estabelecimento cadastrado precisa ter uma maquininha da Rede ou TEF para receber a moeda virtual.

POR QUE AINDA NÃO DECOLOU – OU SOBRE COMO SE JUNTAR A UM GIGANTE NÃO TE TRANSFORMA EM UM

Desde que adquiriu a startup, Paulo Roberto sabia que a demanda de trabalho seria grande. “Procurava acompanhar os restaurantes de perto, e isso começou a ficar cada dia mais difícil”, diz. Afinal, estruturar uma empresa de tecnologia não estava na sua expertise. Logo vieram as negociações com a Cielo, que inicialmente iria viabilizar as transações do aplicativo. A promessa da operadora era de que o Zolkin operaria no Brasil inteiro em um ano e meio. Mas não avançou.

Nesse meio tempo, a Rede (antiga Redecard, que hoje pertence ao Itaú) entrou em contato com Paulo Roberto e pediu que ele abortasse as negociações com a concorrente, sob a promessa de abrir o aplicativo nacionalmente em 90 dias após a assinatura do contrato. Ele topou e, idas e vindas de papel depois, o documento passou a vigorar. Há dois anos. Ele fala dessa espera:

“Estamos no aguardo de uma definição estratégica do Itaú para que o Zolkin seja lançado no resto do país”

Paulo Roberto prossegue, e conta como se sente: “A sua prioridade acaba indo para o fim da fila de a um gigante como o Itaú”.

O prazo final para que a Redecard viabilize a operação em nível nacional é junho deste ano. Do contrário, o pior que pode acontecer é o banco comprar o aplicativo e fazer dele o que bem entender. “Estou resguardado contratual e financeiramente, mas seria uma grande derrota pessoal”, completa o empreendedor. No entanto, a crença no potencial do negócio o mantém firme – ele fala em alguns milhões de faturamento quando o aplicativo começar a operar nacionalmente.

“Esperar o Zolkin acontecer é um exercício diário. Alguém sem a serenidade e a experiência que tenho hoje já teria enlouquecido”

A espera pelo parceiro gigante, entretanto, não é inerte. Paulo Roberto participa de reuniões semanais com representantes da Rede e diz nunca ter se sentido abandonado pela empresa. Trata-se, para ele, de perspectivas diferentes, entre a prioridade que ele e o Itaú dão ao Zolkin. A quem embarca nessa, principalmente se for com menor conforto financeiro, ele recomenda muita cautela e certo desapego. “Quando você se associa a uma grande marca, sua startup passa a pertencer a ela”, diz. Ou, como ele mesmo metaforizou em alguns momentos da entrevista, imagine um teco-teco prestes a se plugar em um Boeing 747.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Zolkin
  • O que faz: Aplicativo incentiva o uso do comércio local por meio de moedas virtuais que geram desconto real
  • Sócio(s): Paulo Roberto e Paulo Ricardo Kress Moreira
  • Funcionários: 15
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: dezembro de 2012
  • Investimento inicial: R$ 500.000
  • Faturamento: R$ 30.000 por mês
  • Contato: [email protected] e (11) 3217-7000
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