Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
THINK TANK
O que acham que é: O mesmo que ONG.
O que realmente é: Think Tanks são instituições ou organizações dedicadas a produzir e difundir conhecimento sobre temas políticos, econômicos ou científicos. Segundo Rodrigo Amantea, coordenador dos programas de Educação Executiva do Insper, a função mais conhecida dos Think Tanks é pautar debates por meio da publicação de estudos, artigos e da participação de seus integrantes na mídia. “Esta mistura entre pesquisa e advocacia faz com que essas instituições sejam uma ponte entre conhecimento e poder, influenciando transformações.”
De acordo com Juliana Hauck, consultora para institutos de pesquisa e Think Tanks da Aleph Conexões em Conhecimento e integrante do grupo de pesquisa Lataci, os Think Tanks trabalham temas de interesse público. “Eles são centros de pensamento dedicados a projetar, a partir de expertise objetiva, as alternativas, e seus prováveis efeitos, para problemas que afligem a sociedade.”
Uma confusão comum é tomar Think Tanks por ONGs e vice-versa. A diferença é que as ONGs, atuam com o poder público executando intervenções em contextos determinados enquanto os Think Tanks, prioritariamente, criam e disseminam conhecimento de interesse público. Hauck diz que alguns Think Tanks podem atuar realizando projetos de intervenção (os chamados Think-and-Do-Tanks), mas esta não é sua prioridade estratégica. “Da mesma forma, algumas ONGs podem, e de maneira complementar à sua atividade de intervenção, produzir e disseminar conhecimento sobre os temas afetos à sua atuação, sem que, com isso, se tornem Think Tanks.”
Quem inventou: Hauck conta que a origem dos Think Tanks está nos Estados Unidos e na Europa, precisamente com o estabelecimento de organizações como Russell Sage Foundation (1907), o Carnagie Endowment for International Peace (1914), o Kiel Institute of World Economics (1914) e o Royal Institute for International Affairs (1920). “Mas o termo Think Tank, em si, só foi introduzido nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra, para caracterizar o ambiente seguro no qual os especialistas militares e civis se situavam para poder desenvolver planos de invasão e estratégias militares.”
Quando foi inventado: Após a guerra, o termo Think Tank foi aplicado a organizações que passaram a realizar pesquisas sob encomendada, como a Rand Corporation. Hauck diz que o uso do termo foi expandido nos anos 1960 para descrever outros grupos de especialistas que formulavam recomendações políticas e, inclusive, alguns institutos preocupados com o estudo de relações internacionais e questões estratégicas do Estado. “Já por volta de 1970, o nome Think Tank foi aplicado a instituições focadas não somente em política externa e estratégia de defesa, mas também em questões políticas, econômicas e sociais correntes. Desde então, vem gradativamente se popularizando.”
Para que serve: Para influenciar a opinião pública, formuladores de políticas e legisladores sobre as alternativas às questões que envolvem os temas em pauta. “Seu principal benefício, a rigor, é enriquecer o debate público a partir dessa oferta de expertise objetiva e evidenciada”, fala Hauck.
Amantea diz que os Think Tanks são necessários no mundo contemporâneo (e cada vez mais complexo), já que instituições tradicionais tendem a reproduzir burocraticamente suas práticas anteriormente utilizadas. “Os Think Tanks reúnem pessoas de destaque e com capacidade e autonomia suficientes para se atreverem a contestar criativamente as práticas dominantes, especialmente quando se tornam obsoletas.”
Quem usa: Hauck conta que alguns Think Tanks brasileiros têm adquirido projeção nas últimas décadas, casos da Fundação FHC (antigo Instituto FHC), do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). “A própria Fundação Getulio Vargas é considerada um Think Tank em função do grande volume de centros de pensamento que exercem esse papel em sua estrutura”, diz. A FGV foi eleita um o principal Think Tank da América Latina (pelo oitavo ano consecutivo), segundo o Global Go To Think Tanks Index, da Universidade da Pennsylvania.
Dentre os mais renomados Think Tanks internacionais estão o Brookings Institution (em Washington D.C.), o Chatham House (em Londres), o RAND Corporation (em Santa Mônica, na Califórnia), o Transparency International (em Berlim) e o Amnesty International (em Londres) entre outros. O Google Ideas, Think Tank do Alphabet criado em 2011, foi transformado, ano passado, na incubadora de tecnologia Jigsaw. Eric Schmidt, executive chairman do conglomerado, falou sobre a mudança em um post no Medium intitulado Google Ideas Becomes Jigsaw.
Efeitos colaterais: Dificuldade de neutralizar vieses ideológicos das pessoas que produzem o conhecimento. Segundo Hauck, essa é a maior controvérsia em relação aos Think Tanks já que, por mais que o rigor científico e a evidenciação do conhecimento sejam um fator-chave para sua legitimidade, as escolhas do processo de produção de conhecimento pressupõem essa fragilidade. “No entanto, quando há um rico e populoso sistema de Think Tanks produzindo conhecimento sobre diferentes temas, é possível a contraposição entre as diversas perspectivas, tornando sua contribuição ainda mais rica.”
Quem é contra: Segundo Hauck, as críticas são, na verdade, contra organizações que se promovem como Think Tanks mas atuam propagando ideários políticos. “Elas fazem isso para se apropriar da autoridade científica que os Think Tanks supostamente carregam. Esse tipo de organização pode confundir as audiências e manipular a opinião pública já que é difícil, para leigos, diferenciá-las dos Think Tanks”, diz.
Para saber mais:
1) Navegue no site On Think Tanks, uma plataforma de ideias e iniciativas de apoio para Think Tanks do mundo todo.
2) Assista, no site da FGV, World-renowned Think Tank, vídeo que explica da importância da Fundação como Think Tank.
3) Leia, no site do Instituto Millenium, O Que Significa Um Think Tank No Brasil De Hoje.
4) Assista ao TED The era of open innovation, de Charles Leadbeater, consultor de inovação e pesquisador do Think Tank Demos, em Londres. Sua fala defende que inovação não é mais algo que venha de profissionais mas, sim, de amadores apaixonados que usam novas ferramentas e são capazes de criar produtos e paradigmas que empresas não podem.