Trabalhar em um coworking pode ser bem mais que dividir estações de trabalho – e, consequententemente, despesas como aluguel, energia elétrica e internet. Além de um exercício de tolerância, a proximidade física e o uso do espaço compartilhado podem trazer insights proveitosos e inovadores. Ao menos é deste princípio que parte Natália Veiga, 30, fundadora da Lona Criativa, um “espaço maker”, como ela prefere definir.
Fundada em Florianópolis em dezembro do ano passado, a área de quase mil metros quadrados abriga um ateliê de costura (com máquinas, bustos e mesas de corte), uma oficina de ferramentas e marcenaria, uma cozinha e um estúdio de fotografia, além das estações de trabalho e salas de reunião (o aluguel de uma delas, por mês, está em torno de 890 reais). Do lado de fora, um food truck está sempre estacionado.
O projeto é fruto de uma mudança de planos — e de vida — de sua fundadora. Depois de estudar Pedagogia e Moda (embora não tenha se formado), Natália desenvolveu verdadeiro interesse pela segunda e fez cursos de figurino e consultoria de imagem.
Uma certa inquietude, conta, também a levou a buscar conhecimento em empreendedorismo criativo e aquarela. “Mas parecia que eu não me encontrava, não via propósito no que fazia”, diz ela. Foi então que decidiu juntar todo o dinheiro que tinha para estudar figurino em Los Angeles.
Antes de deixar o Brasil, porém, ela fez um workshop de aquarela no Nex Coworking, em Curitiba. Lá, notou que o espaço também era usado para outras atividades diferentes das que o curso propunha, tais como programação. Isso foi no fim de 2015. Ela conta:
“Foi ali que tive o insight, sem imaginar o desafio que seria tentar fazer algo parecido em Florianópolis”
Na época, ela sabia pouco ou quase nada sobre empreendedorismo e menos ainda como estruturar um negócio. Foi estudar na Perestroika e conhecer coworkings com propostas parecidas, como a Malha, no Rio de Janeiro – com a diferença de que a Lona Criativa não é 100% voltada para a moda.
A VIAGEM PARA FORA DO PAÍS NUNCA ACONTECEU
Àquela altura Natália, que nasceu em Florianópolis, havia desistido de ir para Los Angeles. A grana guardada – que, somada ao que investiu até hoje no negócio, chega a cerca de 400 mil reais – foi toda para o projeto.
A busca do imóvel adequado foi um dos pontos mais sensíveis da trajetória da Lona Criativa, assim como a dificuldade de apresentar ao público o conceito do negócio, algo bem inovador para o universo de Florianópolis, segundo Natália. Foram seis meses de buscas, em um processo que quase a levou a desistir. Era preciso que a área fosse ampla o bastante e que o valor do aluguel estivesse dentro de um limite razoável, um equilíbrio difícil de encontrar na parte insular (onde tudo é mais badalado) da capital catarinense.
O trânsito, principalmente nos meses de verão, e as longas distâncias dentro da ilha também são agravantes. “As pessoas acabam optando pelo carro, o que também me fez pesar as vagas de estacionamento próximas”, afirma Natália. A ideia inicial era encontrar um casarão no bairro de Santa Mônica, próximo da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), mas o valor do aluguel era inviável. Ela não queria gastar acima do que podia e fala a respeito:
“Meu objetivo não é enriquecer, mas para que o negócio exista ele precisa ser sustentável”
Depois de meses de procura, o desânimo começou a bater. “Um dia voltando para casa, que fica no continente, parei por acaso em um bolsão de estacionamento de um galpão com a placa de ‘aluga-se’. Era para ser ali”, conta. Durante a procura pelo imóvel, a empreendedora não tinha cogitado abrigar a Lona fora da ilha – no entanto, essa seria a solução ideal para equilibrar a equação que envolvia valor do aluguel, tamanho do prédio e mobilidade, já que, no horário comercial, ir da ilha para o continente é contrafluxo.
Local encontrado, o desafio passou a ser repaginar o galpão, fechado há muito tempo e que, lembra Natália, estava “detonado”. Por outro lado, o valor do aluguel era metade do negociado no casarão de Santa Mônica.
COMO GERIR – E COMUNICAR – ALGO COM UMA PROPOSTA NÃO-ESTÁTICA
Apesar de ainda não ter sido inaugurado oficialmente, o que deve acontecer agora em julho, a Lona Criativa já está aberta e abriga, regularmente, cerca de quatro empresas, com dois ou três pessoas trabalhando em cada uma. Também já acontecem cursos e workshops, como os de tecido acrobático, costura, branding e grafite em crochê (este, da foto abaixo).
A forma de repasse para o espaço varia; pode ser um valor fixo ou uma porcentagem das inscrições. Por enquanto, não há funcionários fixos – são contratados freelancers, da hostess à diarista, de acordo com o tipo de evento e contrato firmado.
Além de ser recente, o que também justifica um modelo de negócio em formação, a Lona Criativa está se adaptando à realidade florianopolitana. Em pouco mais de seis meses de operação, Natália já descobriu, por exemplo, que não quer focar em festas e eventos sociais. “São cursos e workshops, quase sempre lotados, que têm girado o capital da casa”, diz. O que, segundo ela, não deixa de ser uma surpresa. “Imaginei que o ateliê de costura seria mais procurado, pois os laboratórios das faculdades de moda daqui não dão conta da demanda para atividades extracurriculares”, completa. Há ainda um banco de tecidos, em que é possível doar e receber sobras para reaproveitamento e criação de novas peças. Ela conta:
“Nem sempre eu conseguia explicar a proposta da Lona. Com o tempo, descobri que o melhor é pedir que as pessoas circulem e descubram por si”
Quando há programação paralela, a ideia é que aconteça de acordo com a proposta da casa, ou seja, que de alguma forma traga debates sobre arte e empreendedorismo. O Lona Talks, por exemplo, consiste em séries de conversas semanais sobre temas como produção musical, mais exposição de arte e discotecagem.
Para o espaço da cozinha (que pode ser usado pelos frequentadores do coworking), Natália sonha com a parceria de uma marca ou investidor, a fim de que o cômodo se torne um espaço experimental. Ali poderiam rolar cursos de enogastronomia e produção de conteúdo para canais de internet.
Por enquanto, as contas estão fechando no zero a zero (os mesmos cerca de 20 mil reais que existem de custo ela tem conseguido trazer de faturamento), o que não faz com que a empreendedora desanime. “Sou diferente da Natália que há dois anos estava indo para Los Angeles estudar figurino. Hoje, encontro propósito ajudando pessoas a viabilizarem ideias e construírem redes de colaboração.” Se fez a escolha certa? A lona está de pé para mostrar.
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