Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
HACKATHON
O que acham que é: Uma maratona de hackers invadindo computadores alheios.
O que realmente é: Hackathon é um evento que reúne programadores, designers e profissionais que trabalhem com desenvolvimento de software para uma competição de inovação e soluções de tecnologia também conhecida como “maratona de programação”. Apesar de provocador, o ambiente é colaborativo e visa o surgimento de ideias novas, interessantes e viáveis.
O termo vem da junção das palavras, em inglês, hacker (indivíduo que conhece muito de tecnologia e é capaz de criar, invadir, decifrar e resolver questões complexas), e marathon (competição, jornada, desafio). Maurício Pimentel, professor do curso TECH da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) fala a respeito: “O espírito de um Hackathon é juntar pessoas muito interessadas no uso de tecnologia que, diante de um desafio de complexidade variada, buscam, caçam, pesquisam e criam soluções inovadoras, diferentes do padrão estabelecido, distante das soluções vigentes. E tratam essa competição como uma brincadeira ou uma diversão”.
Nos Hackathons, o número de participantes (ou grupos), a forma de seleção, a premiação e o tempo de duração variam de acordo com a organização do evento. Em relação ao tempo, o mais comum é que dure de um dia a uma semana. No fim do ano passado, a Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) Barueri fez, durante dois dias, a 1ª edição do Desafio Hackathon, os participantes formaram dez grupos com cinco estudantes dos cursos de áreas de TI da instituição. A proposta era criarem um aplicativo para a área de seguros e os três primeiros colocados receberam vales-compras (de 500 a 3000 reais) em equipamentos e produtos de tecnologia de uma das empresas parceiras do evento.
Hackthons estão diretamente ligados ao conceito de disrupção, termo que define produtos e serviços que criam um novo mercado e desestabilizam os concorrentes que antes o dominavam. Um exemplo disso é o Hackathon de dois dias que precede o evento Disrupt Conference, do TechCrunch. Em um outro Disrupt Hackathon criou-se, do dia para a noite, o aplicativo de mensagem GroupMe, adquirido depois pelo Skype por 80 milhões de dólares.
Quem inventou: Segundo o Government Technology News, o primeiro Hackathon registrado foi feito por um grupo de 10 desenvolvedores do sistema operacional OpenBSD que se reuniram em Calgary, no Canadá. A seção Hackathons do site do OpenBSD conta a história completa. Há, ainda, uma versão de que o termo foi cunhado em uma ação de desenvolvimento de tecnologias e ferramentas para um produto da Sun Microsystems que culminou no desenvolvimento do JAVA.
Pimentel diz que é o importante é saber que os Hackathons estão intrinsecamente ligados à cultura do Vale do Silício e das startups. “Por isso, ainda que com outros nomes, já estavam presentes na formação das novas empresas em meados dos anos 50, nos encontros e brincadeiras que reuniam estudantes e professores das universidades de Stanford, Berkeley e UCLA, entre outras.”
Quando foi inventado: O Hackathon do OpenBSD aconteceu em junho de 1999. O evento da Sun Microsystems um pouco depois no mesmo ano.
Para que serve: Para criar soluções tecnológicas inovadoras e disruptivas em um curto espaço de tempo.
Fernando Masanori Ashikaga, professor de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Faculdade de Tecnologia do Estado (Fatec) São José dos Campos, conta que há Hackathons que exploram dados abertos (como os disponibilizados por governos, nas mais variadas áreas) e Hackathons voltados para produtos ou serviços de empresas patrocinadoras. “Os que exploram dados abertos muitas vezes servem para exercício da cidadania, colaborando em itens como combate à corrupção, soluções para problemas de saúde ou educação. Já os Hackathons de empresas servem para detecção de talentos e também de novos produtos a serem incorporados ao portfólio da empresa.”
Na visão de Pimentel, dois dos maiores benefícios dos Hackathons são a multiplicidade de cabeças pensando na solução de um mesmo problema e a liberdade para quebrar paradigmas, ou seja, “pensar fora da caixa”, na busca dessa solução. “Além disso, há benefícios tangíveis e concretos, como a drástica diminuição do tempo e do ciclo de criação de novas soluções, a consequente diminuição de custos de P&D e a possibilidade de sair na dianteira num mercado em que a inovação é um forte fator de concorrência e diferenciação.”
Quem usa: Grupos interessados em mudanças públicas (e que geralmente utilizam dados abertos), instituições de ensino, empresas, governos etc. Fazem ou já fizeram Hackathons, no Brasil e no mundo, a Natura, Globo, a Visa, o Facebook, a Deloitte, a Motorolla, e a Telefonica/Vivoe muitas outras empresas privadas.
Ashikaga dá mais exemplos: o Inep fez um Hackathon para desenvolver projetos com foco na transparência de informações públicas e o governo de Goiás fez o Hackathon Let’s GO para criar, também, soluções que aumentassem a transparência na divulgação de dados públicos. “Houve também um Hackathon, organizado pela Fiocruz para desenvolver aplicativos e inovações tecnológicas para o SUS.”
Em abril deste ano, Curitiba, Maringá (PR), Recife e Serra (ES) foram as sedes brasileiras do Nasa’s International Space Apps Challenge 2017, a sexta edição do maior Hackathon do mundo, da Nasa. O objetivo é encontrar soluções que atendam à necessidade globais aplicáveis tanto à vida na Terra como no espaço.
Efeitos colaterais: Conflitos no entendimento dos direitos de uso, de posse e de autoria das soluções criadas. Pimentel afirma ser raro acontecer algum problema, mas que uma fragilidade dos Hackathons são o ponto que envolve o contrato da entrega da solução e a consequente remuneração disso. “Embora as competições estejam sempre baseadas em editais, por vezes surgem questões e conflitos em seu entendimento”, diz.
Ashikaga vê problemas nas condições de trabalho dos Hackathons, já que os participantes ficam muitas horas seguidas programando, muitas vezes sem se alimentar direito e sem parar para dormir. “É comum programar 36 horas sem parar, comendo pizza, sem que isso seja uma exceção.”
Quem é contra: Nenhum dos entrevistados disse haver alguém contra os eventos pontuais de Hackathons.
Para saber mais:
1) Leia, na Fast Company, The Story Behind The Hackathon Project That Helped Inspire The Creation Of Facebook Live, a história do projeto que o Facebook criou em 2012, inspirado em Harry Potter e que pavimentou o caminho do Facebook Live.
2) Leia, na Computer World, The ultimate hackathon survival guide, as dicas de hackers veteranos sobre como mandar bem nesse tipo de maratona.