A jovem e formosa capital mineira faz 120 anos em dezembro próximo e a Casa Fiat de Cultura, que tem sede na cidade, já deu início às comemorações. Em parceria com o Ministério da Cultura, a instituição apresenta em seu hall principal a exposição “Sylvio Coutinho mostra Belo Horizonte na Casa Fiat de Cultura”. Título mais autoexplicativo, impossível.
Trata-se da nova visão do artista de 58 anos que caiu de uma jabuticabeira em 2013 e precisou pedalar muito para se recuperar. Acabou recuperando mais do que esperava – a bicicleta passou a ser parte essencial do seu cotidiano e deu a ele o maior presente que um fotógrafo poderia desejar, um olhar novinho em folha para se expressar.
Coutinho mostra Belo Horizonte nua, com todas as suas curvas, charme e também imperfeições. Quem passar pelo número 10 da Praça da Liberdade até 30 de julho vai ver imagens tão belas quanto imprevisíveis da cidade. São 27 fotografias, 65 gravuras e réplicas tridimensionais de monumentos históricos de BH, impressas em nylon e feitas em parceria com a FCA Design Center. E tem vídeos também, além do livro de arte BH 120, que está sendo lançado junto à mostra e custa R$ 200. A entrada para a exposição é gratuita.
A curadoria é do Marcelo Xavier, que preparou uma seleção bastante heterogênea de imagens para mostrar a cidade em todos os seus ângulos, desde parques no domingo e paisagens do hipercentro até street art, trânsito e residências que conservam os não tão velhos ares de sossego. Símbolos arquitetônicos e paisagísticos também dão suas caras e ganham personalidade e vida pelas lentes de Coutinho.
As réplicas em 3D são da Igrejinha da Pampulha, do Mineirão, do Pirulito da Praça Sete, do Edifício Niemeyer e do Viaduto Santa Tereza. Sem maquiagem, o novo olhar do Sylvio inclui as partes da cidade que não têm glamour também, como pichações, ruínas, sujeira, favelas e aglomerados, além de certos acúmulos de cartazes publicitários. Tudo pego no flagra de quem acorda antes do sol e pedala até achar o que não sabia exatamente que estava buscando.
“Traduzir essa cidade, que não para pra posar, em linguagem artística da fotografia, não é fácil”, admite o curador, que continua: “Sylvio Coutinho o fez e retrata Belo Horizonte de dentro para fora, clicando sua alma. Com o olho mágico da sua câmera pendurada no pescoço, com o tempero da sua sensibilidade, em giros de bicicleta pelas ondulações da cidade, ele nos serve esta mostra”, resume.
O presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, diz que esta não é uma exposição de fotografias, mas sim “a fotografia de uma cidade”. Para ele, Coutinho não nos mostra a Belo Horizonte dos nossos sonhos, mas a que temos. “Contraditória, a exposição revela-se não objetiva nas escolhas, e, ao mesmo tempo, resultado de um olho descaradamente subjetivo. Sylvio viveu aqui toda a sua vida, quase a metade dos 120 que a cidade comemora. Foi-lhe necessário um grave acidente e a necessidade terapêutica de usar a bicicleta para que a descobrisse em toda a sua inteireza e fragmentação”, reflete.
O objetivo da exposição é justamente instigar os espectadores a serem protagonistas dos espaços públicos. Nas palavras do próprio artista, “precisamos que pedestres, motoristas, bikers e cadeirantes se locomovam plenamente na cidade e compartilhem os espaços com harmonia”. Coutinho, que batalha pelas conexões entre ciclovias, por exemplo, quer transmitir aos cidadãos a importância dessa preocupação com as soluções de mobilidade urbana que atendam a ciclistas, cadeirantes e deficientes visuais.
Sua ideia é refletir, a partir das comemorações do aniversário da cidade, sobre a cidade que queremos para os próximos anos. “Mas o objetivo principal é mostrar meu amor por minha cidade”, frisa o artista. “No livro, você pode ver que a grande maioria das fotos mostra uma BH linda. ‘Eu queria morar nessa cidade’, me dizem as pessoas que veem essas fotos. É um rigor muito grande que eu fiz, de belas imagens, quase todas feitas de bicicleta. É uma BH apaixonante”, conta.
“Mas é verdade que quero também chamar atenção para o descaso (tanto da iniciativa privada quanto do poder público, independentemente da administração atual) com alguns prédios maravilhosos que temos e que estão muito descuidados. Me refiro a ex-sedes de empresas e também a prédios públicos. Sujeira, pichações e abandono são mostrados nas fotografias”, completa.
Denominado “A Cidade Desejada”, o vídeo que integra a exposição foi produzido com imagens de espaços públicos de Belo Horizonte e uma delicada trilha sonora do compositor Gilvan Oliveira, criada especialmente para a mostra. A trilha também faz fundo às narrações, na voz de Sylvio, de textos do arquiteto João Diniz, que podem ser ouvidas com fones que acompanham as réplicas 3D dos monumentos, que podem ser tocadas. “É muito caprichado”, elogia Sylvio. “Esse nicho da exposição, que são as réplicas, por si só, já é um motivo para visitar”, diz Sylvio.
O supervisor de modelação do FCA Design Center Latam, Celso Morassi, explicou que as réplicas foram impressas na impressora 3D de lá, com base em modelos virtuais preparados por Sylvio, e finalizadas pelos profissionais da fábrica no tempo livre. “Nessas condições, fizemos tudo em dois meses”, conta Morassi. “Nossa principal motivação para esta colaboração com a Casa Fiat de Cultura foi poder proporcionar ao público com deficiência visual a oportunidade de tocar essas réplicas e assim visualizarem os monumentos símbolos da cidade. Pude acompanhar isso de perto e é emocionante”, diz.
A exposição ocupa também a Piccola Galleria, onde está a série Ocasos, com gravuras sobre papel e alumínio que remetem à impressão do livro BH 120. “É um livro de peso, grande, capa dura, 240 páginas em 30x30cm”, anuncia o autor.
Esta exposição é uma realização do Ministério da Cultura via Lei Federal de Incentivo à Cultura, da Casa Fiat de Cultura e da empresa do artista, a Prodigital Fotografias. O novo livro do artista é lançado 20 anos depois da edição que comemorava os 100 anos da capital mineira, Bello Horizonte Gerais.
Coutinho fotografa BH há 45 anos e gosta de se expressar através de suas imagens e vídeos. “Grande parte da minha vida, da minha carreira, foi dedicada a valorizar minha cidade. Quero a fachada da minha casa bonitinha, pintadinha, meu passeio legal etc. E quero a trilha do cego, as rampas de acesso aos cadeirantes. Nós, a sociedade como um todo, devemos olhar para nossa cidade e desejar essas coisas, pelo menos para nossos próprios bairros”, reflete. “Agora vou instalar uma GoPro na bicicleta e acompanhar a evolução da cidade, oferecendo um relatório.”
Paralelamente à exposição, a Casa Fiat oferece, através de seu Programa Educativo, um Ateliê Aberto de Fotografia Experimental, que ocorre nos fins-de-semana entre 10 de junho e 16 de julho, em dois horários: de manhã (10h-12h), para crianças de até 12 anos, e à tarde (14h-18h) para os demais. As turmas terão até 20 participantes e não é necessário fazer inscrição. O ateliê vai mostrar aos participantes as possibilidades da fotografia em conceito expandido, discutindo alternativas para as referências básicas de composição, enquadramento e iluminação.
O ateliê também vai discutir o uso da fotografia como material para experimentações envolvendo outras técnicas, como pintura e colagem. Por isso, é recomendável levar roupas adequadas para manusear tintas e materiais do tipo. Os menores de 10 anos devem estar acompanhados dos responsáveis. A participação também é gratuita.
A Casa Fiat de Cultura está aberta de terça a domingo e funciona de 10h-21h nos dias de semana e de 10h-18h nos fins-de-semana e feriados.
Esta matéria pode ser encontrada no Mundo FCA, um portal para quem se interessa por tecnologia, mobilidade, sustentabilidade, lifestyle e o universo da indústria automotiva.