Na infância de Oscar Mendez, peças de Lego nunca fizeram parte da diversão. “Cresci em Bogotá, num bairro como qualquer outro. Brincava na rua com os amigos, corria e me divertia, numa época sem computadores e nem telefones celulares”, diz o arquiteto e empreendedor social colombiano, de 36 anos.
A lembrança do brinquedo de encaixe, porém, é quase automática quando se pensa na Conceptos Plásticos. Co-fundada por Mendez em 2010, a empresa transforma pneus velhos, embalagens e outros resíduos em blocos que dão forma a casas, abrigos e salas de aula, atacando simultaneamente problemas sociais e ambientais.
A solução rendeu à Conceptos Plásticos a vitória no Chivas Venture 2016. Agora, a competição de empreendedorismo social está de volta. As inscrições para a etapa brasileira vão até 30 de outubro. O vencedor ganha uma vaga na fase global e a chance de disputar uma fatia do fundo de US$ 1 milhão (inscreva-se e participe!).
Em entrevista, Mendez fala sobre a origem e o trabalho de sua empresa, explica a importância de participar do Chivas Venture, destaca outras startups concorrentes e revela metas para o futuro.
Como surgiu a Conceptos Plásticos?
A Conceptos Plásticos foi fundada por mim, pela minha companheira, Cristina Gamez, e pelo Henry Cañon, um amigo de colégio. Havíamos identificado um problema das grandes fabricantes de produtos plásticos e decidimos dar uma solução. Eu havia acabado de sair de uma sociedade inútil na qual perdi tempo e dinheiro. Em seguida conhecemos o Fernando Llanos, que vinha trabalhando em algo similar nos últimos 10 anos, e assim decidimos unir nossos esforços e sonhos e começamos a trabalhar juntos nesta viagem que ainda não terminou e que estamos levando a cabo junto com meu pai, Jesus Mendez.
Como funciona a metamorfose de resíduos de plástico e borracha em blocos de construção?
Trituramos vários tipos de plástico, fazemos uma mescla com as porcentagens necessárias de cada um deles para as condições que queremos em cada um dos produtos finais. Às vezes, adicionamos borracha. Derretemos tudo para preencher os moldes, e em seguida damos um choque térmico para esfriar o material, que depois é retirado dos moldes e está pronto para ser usado na construção.
O material é usado apenas para habitação ou também para outros propósitos?
É um sistema construtivo modular. Assim, podemos realizar qualquer tipo de construção que tenha (por ora) apenas um piso. Moradias, salas de aula, centros comunitários, centros de saúde…
Como a Conceptos Plásticos ganha dinheiro?
Temos várias maneiras. Uma delas é a venda do produto a particulares. Outra é buscar empresas, fundações e ONGS para que paguem pelos nossos produtos para pessoas sem acesso a uma habitação. A partir do Chivas Venture, começamos a mudar nosso modelo de negócio para um serviço de economia circular e sustentabilidade para empresas produtoras, transformadoras e usuárias de plástico. Para isso, criamos dinâmicas para obter a matéria-prima e custear o processo de transformação de forma a construir habitações e subsidiá-las a comunidades e famílias de poucos recursos.
Quais foram os maiores desafios até agora?
Creio que posicionar o produto no mercado. A construção é um mercado muito tradicional e está nas mãos de algumas grandes companhias. Isso tem sido um desafio, porém sabemos que os problemas que resolvemos são importantes, são globais, são graves. E sabemos também que temos uma boa solução, e assim estamos trabalhando para romper barreiras e inserir essa solução onde ela deve estar.
Como foi participar do Chivas Venture? E qual o impacto do Chivas Venture no seu trabalho e nas suas habilidades de empreendedor?
Foi uma experiência única, inesquecível e enriquecedora. Conhecer cada participante, entender os seus negócios e modelos, foi algo muito valioso. A semana de aceleração e o tempo em seguida para implementar os aprendizados foram excelentes. Conceptos Plásticos e eu somos diferentes depois do Chivas Venture, e isto faz com que haja mais confiança no que fazemos, no que buscamos e no que queremos alcançar com nossa empresa.
Qual foi o uso que você deu ao prêmio conquistado no Chivas Venture [a empresa conquistou US$ 300 mil na final, e mais US$ 53 mil numa votação online]?
Já começamos a fazer várias coisas. Aumentamos a nossa equipe, estamos aumentando a capacidade de produção, implementando programas de melhorias de processos, desenvolvemos novos produtos e novos sistemas que nos permitirão fabricar ainda mais habitações… Pretendemos escalar e replicar nosso negócio em outras zonas fora da Colômbia, em lugares onde o plástico e o déficit de habitação são problemas que precisam ser resolvidos.
Quais outros projetos participantes do Chivas Venture naquela edição impressionaram você?
Há projetos muito impressionantes. Gostei mais de alguns porque encontrava alguma aplicação para eles no meu país, não porque sejam melhores do que os outros. Sempre pensei no Wakami como um projeto espetacular, porque me dói ver regiões da Colômbia com problemas que poderiam ser resolvidos pela María [a guatemalteca María Pacheco, fundadora da startup que empodera mulheres artesãs de comunidades rurais por meio da criação e da venda de acessórios de moda]. Ou a solução do Roberto [o mexicano Roberto Alvarado, fundador do Optic Group ICH, que fabrica armações de óculos a partir de garrafas PET] com um tipo de plástico que no meu país vai para a lixeira e que eu não tenho como misturar nos meus processos. Mas, na verdade, cada projeto te ensina algo.
Quais são os objetivos da Conceptos Plásticos para os próximos anos?
Escalar fora da Colômbia, replicar o nosso modelo, oferecer mais soluções e chegar a mais e mais pessoas. E engajar os cidadãos em uma campanha educativa para que aprendam como reciclar, onde depositar seus resíduos e para que entendam que o problema do plástico e da falta de moradia é algo que juntos podemos resolver facilmente.
Você acredita que a Conceptos Plásticos pode ter um impacto em escala global?
É para isso que estamos trabalhando. E Chivas nos deu a confiança e as ferramentas para alcançar esse objetivo.