“Muita gente tem dificuldade de entender o que nós fazemos, até na minha família”, brinca Gustavo Caetano, fundador da Samba Tech. “Na verdade, somos o Youtube para quem não quer usar o Youtube, simples assim. Quem compra o nosso serviço é quem precisa de coisas que o Youtube não oferece, como segurança, controle de conteúdo… Nossos clientes são as maiores emissoras de TV, as maiores empresas de educação do Brasil, e outras empresas que usam a gente como um Youtube fechado, para fazer treinamento e comunicação interna. Essa é a nossa oferta.”
Natural de Araguari, no norte do Triângulo Mineiro, Gustavo, de 34 anos, começou a empreender cedo, ainda aos 21, em 2004. Em 2009, fundou a Samba Tech. Com sede em Belo Horizonte, a empresa de gestão e distribuição de vídeos online foi apontada em 2014 pela Fast Company entre as dez mais inovadoras da América do Sul, contabiliza atualmente 110 colaboradores e deve crescer 45% em 2017.
Cofundador da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), influencer no Linkedin com mais de 200 mil seguidores e autor de Pense Simples – Você só precisa dar o primeiro passo para ter um negócio ágil e inovador (editora Gente), Gustavo agora soma ao currículo o crédito de embaixador do Chivas Venture. O maior campeonato de empreendedorismo social do planeta está selecionando startups brasileiras para a sua quarta edição. As inscrições vão até 30 de outubro. Acesse o site, confira o regulamento e inscreva-se!
Abaixo, confira a entrevista com Gustavo, que fala sobre inovação, aprendizados e o cenário do empreendedorismo no país.
Como você entende inovação? E como essa ideia é trabalhada dentro da Samba Tech?
O que é inovação pra gente? Primeiro, é resolver problemas reais das pessoas de maneira simples. A própria ideia da nossa solução de vídeo nasceu dentro dessa percepção. Não fazia sentido, na nossa cabeça, naquele momento em que a gente nasceu, em 2009, que as emissoras de TV tivessem de criar o seu próprio Youtube para distribuírem seus conteúdos. Tínhamos que oferecer isso pra esses caras no modelo white label [em que o produto ou serviço criado por uma empresa é vendido a outra como se a solução tivesse sido desenvolvida pelo cliente, sem necessidade de divulgação de direitos autorais], ninguém vai saber que a gente existe e tal, mas vamos estar lá, por trás. E deu muito certo.
Para isso, precisamos ter uma cultura muito forte de inovação. E essa cultura interna só acontece quando as pessoas têm poder de tomada de decisão. Usamos uma regra interna que é “power to the edges”, poder nas pontas. Dentro da sua área, todo mundo pode fazer quase qualquer coisa, com liberdade de errar. Essa é o segundo aspecto importante: aceitamos o erro como parte da inovação. Nenhum gestor pode falar pra alguém que trouxe uma ideia, “ah, não, isso não vai dar certo…” Temos uma cultura muito forte de empoderamento e de empreendedorismo interno. Do estagiário ao diretor, a regra é que se você tem um problema e não tem a solução, agora você é parte do problema agora. Então vá lá e resolva.
Como o seu trabalho na Samba Tech alinha-se com a posição de embaixador do Chivas Venture?
Uma das premissas de propósito que implementamos há um tempo na Samba é que ao criar um produto novo, sempre temos que pensar: esse produto melhora a vida das pessoas? Acho que isso tem que estar enraizado no empreendedorismo, e Chivas traz essa ideia com muita força.
O evento no ano passado já foi muito maior, teve uma abrangência maior do que no ano anterior [em 2016, Gustavo foi um dos mentores do Chivas Venture], e tenho certeza de que este ano vamos chegar em muito mais gente.
Eu escolho muito bem os eventos e as marcas das quais eu quero me aproximar, penso muito nas razões de estar próximo a essas marcas. E acho que essa causa tem tudo a ver comigo, tudo a ver com o que eu acredito e com o meu mundo. Que é empreender, gerar emprego, fazer o bem e impactar cada vez mais pessoas.
Qual é a sua visão sobre o cenário do empreendedorismo, e especificamente o empreendedorismo de impacto social, hoje no Brasil?
O empreendedorismo está crescendo monstruosamente. Quando eu estava na universidade, todo mundo na sala queria trabalhar numa grande empresa. Hoje, você vai numa faculdade e 70% dos alunos querem montar seu negócio. Isso é superpositivo. É lógico que um monte deles vai dar errado, é assim em qualquer lugar, mas é importante que existam caminhos além de trabalhar para os outros.
Hoje tem muito mais informação para quem quer empreender do que quando eu comecei, em 2004. Seja em um negócio de impacto social ou não, esse cara está muito mais bem preparado, sabe mais da parte financeira, de modelo de negócio, de escala, teste, falha. Existe informação no Youtube, em livro, curso, palestra…
Outra diferença: essa nova geração de empreendedores já vem com uma cabeça de impacto em escala. Você só vai conseguir fazer algo que gere realmente um impacto positivo para o nossos país quando chegar em um milhão de pessoas, em dois milhões de pessoas, direta ou indiretamente. E esse tem sido o pensamento, cada vez mais. Isso é muito herdado das startups, onde o cara nasce pensando em como é que eu chego em mais gente, como é que eu escalo o meu negócio. E o empreendedor social agora começa a pensar nisso também.
Hoje, temos várias aceleradoras pensando em projetos de impacto social, fundos de investimento focados em impacto social… Todo esse ecossistema que se montou em volta, desde o cara que está lá atrás e aprende com palestras do Sebrae ou da Associação Brasileira de Startups, até o cara lá na frente que precisa de capital para crescer mais… Tudo isso permite que haja empresas muito mais bem estruturadas do que antigamente.
Quais as principais lições que você aprendeu na sua trajetória?
Algumas coisas que eu aprendi e sempre tento passar a outros empreendedores, e que ninguém me passou lá atrás:
Primeiro, a importância da experiência. Muitas vezes o cara de cabelo branco é desvalorizado, “ah, esse cara é antigo, não sabe de nada, a molecada é quem sabe…”. Criaram o mito do empreendedor super-heroi, que faz tudo e é melhor do que todo mundo. Eu deixei de acreditar nisso com o tempo. Tomei muita pancada, até que acabei criando um conselho consultivo aqui na Samba. No board todos têm uma faixa etária maior, vivências maiores, experiências diferentes… Isso trouxe muita segurança e muita maturidade para os nossos caminhos.
A segunda coisa é foco. Na ânsia de querer fazer tudo, a gente acaba não fazendo nada. Porque os recursos são limitados, não dá para fazer tudo o que você quer. Então resolva um problema só, muito bem resolvido. Se vai resolver um problema de educação, não queira resolver também um problema de saúde. Não dá para ser ginecologista e tarado ao mesmo tempo, tem que ser uma coisa ou outra.
E o terceiro ponto é conhecimento de causa. Vejo pessoas criando soluções para problemas que não conhecem a fundo. Se quer resolver um problema de educação, vai pra dentro da sala de aula, numa escola pública, numa região periférica. Você tem que criar soluções baseadas na realidade, e para isso precisa estar perto da realidade. E eu vejo muitas vezes um distanciamento das pessoas com a realidade. O cara cria dentro de uma aceleradora com internet de 100 mega, ar condicionado, e onde todo mundo tem um celular legal… E quando você vai ver o seu cliente não tem internet de qualidade, não tem banda no celular para consumir vídeo o tempo inteiro, precisa estar num wifi… Entender a realidade é superimportante.
Se você fosse escolher uma área para empreender com um negócio de impacto social, qual seria?
Acho que todas as áreas com grandes problemas no Brasil, como educação, Segurança, saúde, mobilidade, todas essas áreas têm espaço demais para inovação. Mas uma área em que eu adoraria empreender, e que se eu hoje vendesse a Samba e fosse montar um projeto social, é educação.
Uma vez estive com o Satya Nadella, presidente mundial da Microsoft, e ele me perguntou: o que a Microsoft pode fazer pelo Brasil? E eu disse: “Acho que vocês deveriam ajudar o Brasil a criar uma geração de desenvolvedores vindos de escolas públicas. Deveriam ajudar a ensinar esses alunos a serem programadores.”
Hoje, estamos treinando pessoas para serem atendentes de call center, mecânicos, marceneiros, profissões que vão acabar. Então isso é algo que me dá muita paixão: unir tecnologia e conhecimento para preparar pessoas para as profissões do futuro.
E qual é o seu recado para quem ainda não se inscreveu no Chivas Venture?
Pense grande. Na hora de se inscrever, pense em um negócio de potencial global. Pode ser um negócio baseado em Araguari [cidade mineira onde Gustavo nasceu], mas que consiga chegar no mundo inteiro.
O Chivas Venture é uma oportunidade única. Uma vitrine gigantesca e um endosso monstruoso para ajudar a levantar dinheiro, conseguir parcerias para seu projetos. Mais do que a premiação, a chance de ganhar uma parte do fundo de 1 milhão de dólares, acho que o grande benefício do Chivas Venture é a divulgação, que pode te levar para um patamar diferente, de visibilidade global. Para quem é empreendedor com projeto de impacto social, não vejo por que não participar. O Chivas Venture é a chance de pessoas no mundo inteiro conhecerem o que você está fazendo.