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A Já Entendi faz videoaulas para trabalhadores com baixa escolaridade – e fatura 3 milhões ao ano

Ana Paula Machado - 1 nov 2017 Gladys Mariotto é fundadora e CEO da Já Entendi, que vende treinamento corporativo para trabalhadores de baixa escolaridade.
Gladys Mariotto é fundadora e CEO da Já Entendi, que vende treinamento corporativo para trabalhadores de baixa escolaridade.
Ana Paula Machado - 1 nov 2017
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Levar aprendizagem para a base da pirâmide por meio de treinamento corporativo. É isso que a Já Entendi faz desde que sua fundadora Gladys Mariotto, 55, decidiu compartilhar e aprimorar seus próprios métodos para driblar problemas com déficit de atenção. Isso se traduz em videoaulas feitas, muitas vezes sob medida, para pedreiros e outros operários. A plataforma tem um portfólio repleto de trabalhos para grandes empresas — e contabiliza mais de um milhão de alunos capacitados.

Desde 2012, quando entrou em operação, até hoje, a história da Já Entendi era construída por Gladys e seu sócio Wagner Mariotto Bonfiglio, 32, seu filho. A fundadora é especializada em educação e responsável pela criação de todo o conteúdo usado nos treinamentos. Wagner é engenheiro da computação e, além de ser o responsável pela TI da empresa, cuida da gestão dos funcionários e colaboradores. “Tínhamos a necessidade de complementar as nossas habilidades”, conta ela.

A Já Entendi acaba de receber um novo aporte e no momento encara os desafios de se tornar uma Sociedade Anônima. Com isso veio a expectativa de mudanças estruturais. É hora de investir em visão estratégica e profissionalizar a equipe, que pela primeira vez conta com diretor financeiro e diretor de operações. Gladys fala dessa mudança:

“Até então, nosso negócio caminhava conforme os treinamentos iam dando certo. Nunca tínhamos traçado estratégias de negócio”

Ela conta que, só muito recentemente, trouxe para a equipe um CFO e um COO. Mas, mesmo sem ter investido em estratégias convencionais de negócio, os números comprovam o sucesso de mercado da Já Entendi. O faturamento anual é de cerca de 3 milhões de reais, e na linha de produtos estão os cerca de 60 cursos e 1 600 videoaulas, sem contar os treinamentos personalizados. Entre os clientes estão grandes empresas como Natura, grupo Pão de Açúcar, Sebrae, Neoenergia e Walmart.

Nestes anos de caminhada, Gladys soma mais de 40 prêmios conquistados graças à sua metodologia, como o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios e o Prêmio Estadão PME. “A nossa metodologia aumenta em 200% a retenção do conteúdo e assim tornamos o processo de aprendizagem mais rápido”, conta a educadora.

SE SERVIU PARA UM, TALVEZ POSSA SERVIR PARA UM MILHÃO

Gladys Mariotto é filha de fazendeiros, nasceu em São Paulo, mas foi criada no Paraná. Casou-se cedo e viveu como dona de casa até o fim dos anos 1990. Aos 36 anos, divorciou-se e se viu sem uma profissão, sem dinheiro e com dois filhos para criar. Foi aí que resolveu prestar vestibular – na mesma época de seu filho mais velho e futuro sócio – e descobriu que tinha dificuldade para se concentrar e aprender. Por conta da sua própria dificuldade, acabou desenvolvendo métodos para fixar o conteúdo. Ela fala da origem do que viria a ser a metodologia da Já Entendi:

“Eu fazia resumos, resumo do resumo, colagens, pinturas e tudo o que me ajudasse a fixar todo aquele conteúdo”

O método funcionou e logo a dona de casa se formou em Belas Artes. Mas o grande desafio ainda estava por vir: ao cursar a segunda graduação, em Filosofia, ao mesmo tempo em que fazia pós-graduação e mestrado, seu caçula, de oito anos, sofreu um AVC. “Ele ficou muito debilitado e eu tinha que cuidar dele, então disse para os meus professores me passarem o material que eu estudaria em casa”, conta Gladys. E continua: “Foi aí que fixei mesmo todo aquele conteúdo, aplicando o método em mim mesma, inclusive enquanto esperava no hospital ou as sessões de fisioterapia”.

Até fundar a Já Entendi, sediada em Curitiba, Gladys atuou como professora universitária, publicou livros infantis e fez algumas produções em vídeo, sempre focando na área da educação. Foi, então, que surgiu a ideia de facilitar a vida de estudantes prestes a fazer a prova do Enem. Dessa ideia, 400 videoaulas foram produzidas, aplicando a mesma receita já testada e aprovada em si.

Para a Já Entendi abrir as portas e começar a funcionar, o investimento inicial veio de economias pessoais, no valor de 200 mil reais. Ela fala dos desafios deste início de operação:

“Nossa dificuldade era vender os vídeos. Demoramos um ano para entender o mercado e partir para o nicho de capacitação profissional”

E prossegue: “Com isso, entramos em uma segunda fase que se concretizou quando veio o primeiro investidor anjo e a partir daí tivemos um crescimento de 500% em seis meses.” O aporte de 300 mil reais veio da GAG Participações. Segundo Gladys, apesar do valor ser muito próximo do que ela mesma havia investido no início, foi o que fez toda a diferença para impulsionar a empresa, que àquela altura já estava com a base solidificada. “Também fomos acelerados no Vale do Silício pela 500startups. Recebemos 50 mil dólares e pude mandar metade da equipe para passar um período lá”, conta. Depois disso, foi só colocar o pé no acelerador e voar.

UM NEGÓCIO BASEADO EM VIDEOAULAS – QUE FUNCIONAM – PARA PEDREIROS

O primeiro treinamento corporativo da Já Entendi foi feito com os pedreiros responsáveis por construir a Vila Olímpica no Rio de Janeiro, pela empresa Tecnologys. “A empresa tem um método exclusivo de construção em alvenaria que funciona como uma espécie de Lego e os tijolos têm uma ordem certa de colocação”, diz. Ela conta que tudo foi feito online: em tablets distribuídos aos trabalhadores ou em estações montadas dentro de containers ali mesmo, no canteiro de obras. “Junto com a capacitação, vendemos ganho de produtividade, mais rapidez nos processos, redução de custos – já que a maioria opta por cursos online – e um conteúdo com linguagem alinhada ao público-alvo, que é a base da pirâmide corporativa”, afirma a empreendedora.

O carro chefe dos treinamentos corporativos promovidos pela Já Entendi são videoaulas criadas para pessoas de baixa escolaridade. Para funcionarem, os conteúdos são apresentados em formatos propositadamente dinâmicos e objetivos. Gladys conta que as técnicas de ensino são baseadas em conceitos didáticos de design institucional, mapas mentais, neurolínguística, storytelling, heutagogia e andragogia. “Quando comecei a aplicar esta metodologia comigo mesma, eu nem imaginava que existiam conceitos que definiam o que eu estava fazendo. Descobri conforme fui estudando e me especializei”, diz.

Os cursos básicos da plataforma atendem quatro nichos do ambiente corporativo: desenvolvimento profissional (atendimento, autodesenvolvimento, comunicação e profissionais), qualidade de vida (nutrição, bem-estar, esporte), negócios (gestão de pessoas, vendas, televendas e sustentabilidade) e operação (com destaque para exigências legais do Ministério do Trabalho). Os contratantes podem optar por treinamentos presenciais ou online, e os preços variam de acordo com quantidade de aulas, de alunos e o nível de customização com que a Já Entendi prepara o curso.

Os cursos podem ser individuais, com valores entre 49 e 249 reais. Mas Gladys afirma que os cursos contratados pela empresa saem mais barato: “Para 40 mil colaboradores gasta-se em torno de 130 mil reais para customizar e aplicar o curso. Assim, treinar cada um dos trabalhadores sai apenas 4 reais por pessoa.”

A empreendedora conta que a Já Entendi está se especializando no setor de energia, pois tem sido bastante procurada para realizar grandes projetos de treinamento para operários deste ramo. “Inclusive, algumas levam os nossos serviços para fora. Como trabalhamos com trabalhadores da base, o interesse maior vem de países latino americanos, que também têm problemas com a baixa escolaridade de seus funcionários”, diz.

PELA FRENTE, O DESAFIO DO CRESCIMENTO

Gladys e seu sócio Wagner vêm trabalhando para expandir o negócio e sabem que a família empresarial precisa crescer. Ela conta que a novo aporte, no valor de 400 mil — que veio da M3 Investimentos, gestora sob controle de Marcel Malczewisk — trouxe uma pressão inédita por mudanças. “A entrada dele no nosso board mudou a empresa da água para o vinho”, diz, e reflete uma dificuldade comum a empreendedores na mesma situação:

“Tem sido um enorme desafio atingir as metas que o Marcel tem estipulado como investidor. Mas elas também geram grande satisfação, pois vemos claramente que a empresa está mais robusta”

Com um faturamento consideravelmente maior que três anos atrás (em 2014 a Já Entendi computava 50 mil reais e deve fechar 2017 na casa dos 3 milhões de reais), toda a operação está por conta de 17 funcionários registrados, além do trabalho de terceiros. Recentemente, entraram para o portfólio de clientes CNI, Grupo Pão de Açúcar, Ciatech, UOL e Oralunic.

A empreendedora conta que, além dos investimentos em gestão de negócios, a meta de curto prazo é estar entre as três maiores empresas de treinamento corporativo no Brasil. Entre as principais concorrentes estão a Ciatech, Webaula e Affero Lab. Entretanto, Gladys destaca, as três focam em um público com níveis mais altos de escolaridade, bem diferente da Já Entendi. A meta de longo prazo, não é surpresa, é ser a primeira do mercado. Entendeu?

DRAFT CARD

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  • Projeto: Já Entendi
  • O que faz: Treinamento corporativo para trabalhadores com baixa escolaridade
  • Sócio(s): Gladys Mariotto e Wagner Mariotto Bonfiglio
  • Funcionários: 17 (incluindo os sócios)
  • Sede: Curitiba
  • Início das atividades: 2012
  • Investimento inicial: R$ 200.000
  • Faturamento: R$ 3 milhões ao ano
  • Contato: [email protected]
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