SORORIDADE
O que acham que é: Uma nova denominação para Terceira Idade.
O que realmente é: Sororidade (soror, em latim, significa “irmã”), no contexto do feminismo, é um laço afetivo criado entre mulheres que entendem essa união como uma forma eficaz de lutar contra a discriminação de gênero. Envolve desde a empatia com o que outra mulher sofre (mesmo sem sofrer o mesmo, e mesmo não a conhecendo) até ações organizadas em grupo, entre outras práticas e entendimentos.
A Sororidade surge da percepção de que o machismo é estrutural (atingindo praticamente todas as mulheres); de que a chamada “rivalidade natural” entre mulheres é, na verdade, uma construção sociocultural (para distanciá-las); de que tentar combater a discriminação em grupo tem mais força do que quando isso acontece de forma fracionada; e de que, quando há esse sentimento de grupo, a fragilidade emocional da mulher vítima de opressões de gênero diminui, especialmente no ambiente de trabalho.
Segundo Rita Almeida, head de planejamento da F/Nazca e especialista em pesquisas de comportamento, as mulheres não são ensinadas a ter empatia por outras mulheres e começam a competir entre si desde muito cedo. “A Sororidade propõe o contrário disso, uma união similar à famosa ‘fraternidade’ dos homens, que protegem uns aos outros quase intuitivamente”, diz.
Sororidade, no entanto, não é uma varinha mágica que faz com que todas as mulheres se amem, se aceitem e deixem de ter diferenças. Tampouco é um instrumento feminista imposto, obrigatório. Ao lidar com sentimentos (ou ser um sentimento, dependendo da abordagem), a Sororidade demanda auto-olhar e aprendizagem emocional, não apenas social.
Para Ana Carolina Ferreira Bavon, diretora executiva da Feminaria, consultoria em gerenciamento de negócios administrados por mulheres, somente com clareza das próprias dores, habilidades, necessidades e deficiências é que a mulher pode entender e praticar a Sororidade em um ambiente divergente, heterogêneo e singular, mas com objetivos comuns. “Isso é necessário para que nós possamos entender e conhecer nossos vieses inconscientes em relação a outras mulheres.”
Ainda segundo Bavon, a falta de conhecimento do significado de Sororidade faz com que a palavra seja utilizada, erroneamente, como tentativa de aplacar ânimos exaltados. “Um exemplo é quando há divergências entre mulheres em algum grupo de discussão e alguém diz ‘Em nome da Sororidade, não briguem’.”
No Brasil, até ano passado, Sororidade era um neologismo, embora a palavra já fosse amplamente utilizada. O termo agora consta no dicionário Houaiss, que o define como “Sentimento de irmandade, coletividade, união entre mulheres; conjunto de sentimentos e opiniões que as mulheres partilham como grupo”. Já a pergunta “O que é Sororidade?” foi a quinta mais feita por brasileiros em 2017 na categoria “O que é”, do Google.
Quem inventou: Não há um inventor para o termo. Sororidade, em português, é comumente associado a Sorority (“irmandade”, em inglês) que, originalmente, refere-se aos grupos formados por jovens mulheres nos colégios e nas universidades americanas. São o equivalente feminino de Fraternity, (grupos formados por homens e cuja tradução é “fraternidade”).
No contexto do feminismo, o termo em inglês utilizado é sisterhood. Que, por sua vez, foi traduzido como sororité pelas feministas francesas. Ambas têm “irmandade” como tradução.
Quando foi inventado: A utilização do conceito de Sororidade como ferramenta de luta feminista tem forte presença (e possível origem) nos movimentos dos anos 1970, no mundo.
Como pode ser fomentada no ambiente de trabalho: Desconstruindo a ideia de que mulheres são naturalmente rivais (o que gera muita animosidade) e reunindo suas forças para combater atitudes sexistas.
Gabriela Manzini, gerente de comunicação da Uber e co-líder do Women of Uber Brasil, diz que a ideia artificial de que precisa haver competição entre as mulheres prejudica qualquer ambiente: “Pior ainda quando falamos de um ambiente de trabalho. A realidade é que os resultados são invariavelmente melhores quando há colaboração em vez de competição”.
Para Almeida, a competição velada entre as mulheres enfraquece as vitórias que teriam que conquistar juntas. “Nesse processo, a mulher acaba trazendo e reproduzindo os mesmos preconceitos que, ao longo do tempo, foram se consolidando em relação a elas. Ao julgar uma semelhante a mulher está jogando contra si própria”, afirma.
Para fomentar a Sororidade no ambiente de trabalho o caminho é a educação dos funcionários e a mudança de cultura da própria empresa.
Almeida acredita que por abraçar a transformação, a Nova Economia tem mais agilidade e abertura para tratar a diversidade. “Iniciativas que envolvem temas como a Sororidade e sobre preconceitos culturais são propostas e endereçadas mais rapidamente”, diz.
De acordo com Manzini, é importante que as empresas levem as questões a seus funcionários. “Há dois meses, estamos promovendo bate-papos sobre temas feministas, como Sororidade, geralmente com convidadas de fora. São abertos também aos homens e transmitidos para os escritórios da Uber em todo o país.”
Em que corporações já acontece: No Facebook Summit do ano passado, um dos painéis de seu programa #ElaFazHistória foi sobre Sororidade nos negócios e reuniu as empreendedoras Debora Emm, da Inesplorato, Tiana Vilar, da Womanity, e Viviane Duarte, do Plano Feminino.
Também ano passado, a Uber criou o braço brasileiro do Women of Uber, inciativa formada por funcionárias da empresa para reforçar os laços entre as mulheres, criar novos pontos em comum e estimular a colaboração em vez da competição.
Casos, reações e repercussões: Em 2015, ao sentir medo e insegurança andando na rua à noite, a jornalista Babi Souza pensou que mulheres sozinhas, que voltavam do trabalho ou da faculdade, poderiam abordar umas às outras e andarem juntas até seu destino. Criou, então, o movimento Vamos juntas?.
Nos Estados Unidos, um grupo de 300 atrizes e produtorasde Hollywood (entre elas Meryl Streep, Ava DuVernay, Shonda Rhimes, Reese Witherspoon e Emma Stone) acaba de lançar o Time’s Up, um fundo, que já recebeu mais de 15 milhões de dólares de doações, para custear a defesa legal e dar suporte a mulheres vítimas de assédio e abuso sexual em qualquer indústria. A carta-manisfesto começa com um grande Dear Sisters (“queridas irmãs”) e convoca mulheres a se unirem. No último domingo (7), no Globo de Ouro, as atrizes vestiram preto para chamar atenção para a iniciativa e passaram pelo tapete vermelho acompanhadas de ativistas dos direitos da mulheres — forçando, assim, a mídia a falar do assunto.
Para saber mais:
1) Leia, no New York Times, Sisterhood Is Not Enough: Why Workplace Equality Needs Men, Too. O texto defende a importância de temas feministas abordados em ambientes de trabalho serem, também, colocados aos homens.
2) Leia, na revista Donna, O que é sororidade? Saiba mais sobre uma das perguntas mais feitas no Google. É a perspectiva sobre o tema por três mulheres, dentre elas Joanna Burigo, mestre em Gênero, Mídia e Cultura pela LSE (London School of Economics) e fundadora da Casa da Mãe Joanna.
3) Leia, no Geledés, O feminismo Frozen e a sororidade seletiva. A autora do texto, a escritora e ativista feminista negra Stephanie Ribeiro, fala sobre Sororidade sob a perspectiva do Feminismo Interseccional.