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Como a Solstar quer tornar mais simples produzir energia solar, em casa, no Brasil

Camilla Ginesi - 13 fev 2018
Fabio Carrara conta como a startup, que produz sistemas de energia solar fotovoltaica, está criando um modelo de financiamento para que mais pessoas possam produzir a própria energia.
Camilla Ginesi - 13 fev 2018
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A história da fundação da empresa de energia solar fotovoltaica Solstar — que por meio de placas solares oferece a seus clientes a oportunidade de gerar a própria energia e diminuir, e muito, a conta de luz — é parecida com a de outras startups já retratadas aqui no Draft, mas a mudança pela qual a empresa vem passando nos últimos meses é bastante singular.

O engenheiro paulista Fabio Carrara, 34, assim como outros personagens, descobriu que queria empreender quando estava cursando um MBA nos Estados Unidos (no caso dele, em gestão empresarial na Wharton School, na Universidade da Pensilvânia). Fabio trabalhava no The Boston Consulting Group, o BCG, como líder de projetos há mais de três anos quando, patrocinado pelo grupo, foi estudar no exterior. “Eu adorava trabalhar no BCG. Lá, fiz um pouco de tudo, projetos estratégicos para empresas do setor financeiro, para a companhia de alimentos BRF… Então, durante o curso, percebi que, se fosse para sair do grupo, não queria trabalhar a vida toda para nenhuma outra empresa”, conta.

Ao voltar para o Brasil, em 2012, Fabio ficou mais um ano no BCG (e, ainda, outro ano no fundo alemão de capital de risco Project A Ventures, como diretor de desenvolvimento de negócios) antes de criar a Solstar. “Ainda não sabia em que queria empreender, só que queria empreender. Por isso, precisava de um tempo para refletir”, diz Fabio.

Foi no final de 2014, buscando ideias para o fundo investir, que ele conheceu mais sobre o mercado de energia solar. “Nesse momento, me deu um estalo, decidi investir no setor. Dois motivos me convenceram”, afirma, e segue:

“Energia é o problema do século. O planeta está crescendo muito rápido e precisamos achar fontes viáveis e não poluentes para sustentar isso. E o Brasil é o país perfeito para gerar energia solar”

Além disso, de acordo com Fabio, “o mercado oferece tanto uma grande oportunidade de negócio quanto uma chance de fazer algo bom para o mundo”. Inicialmente, ele investiu cerca de 50 000 reais (de recursos próprios) na Solstar, fundada em maio de 2015.

DINHEIRO QUE VEM DO SOL

Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, em janeiro deste ano, o Brasil superou a marca de 1 gigawatt de potência gerada por energia solar fotovoltaica, alcançada por somente 30 países até então. Com essa capacidade energética, é possível atender 500 mil residências (ou seja, 2 milhões de pessoas). No entanto, só 15% dessa energia é gerada por painéis solares montados sobre telhados, como faz a Solstar, ou por outros tipos de pequenas instalações – o restante é produzido por usinas.

Sistema da Solstar instalado em Alphaville, bairro na região metropolitana de São Paulo.

Sistema da Solstar instalado em Alphaville, bairro na região metropolitana de São Paulo, com placas fotovoltaicas e assessoria da startup pelos próximos 25 anos.

Nos primeiros dois anos do negócio, a Solstar vendia sistemas fotovoltaicos somente à vista (um sistema da empresa custa, em média, 35 000 reais). A venda funciona assim: primeiro, um funcionário da empresa avalia o consumo de energia do cliente, identifica a incidência de sol na casa dele e faz uma proposta. Depois, se a proposta for aceita, a empresa cria o projeto, consegue as autorizações necessárias com a distribuidora de energia local e instala o sistema. Uma vez instalado o sistema, a Solstar promete monitorar à distância e solucionar possíveis problemas por impressionantes 25 (!) anos.

O que os sistemas da startup fazem é chamado de geração distribuída, o que significa produzir a energia no mesmo local onde ela é consumida. Fabio diz ter se interessado pelo modelo por causa da sua capacidade de “empoderar o consumidor a produzir a própria energia e deixar de depender do governo”. “No modelo tradicional de geração de energia no Brasil, há numa ponta uma usina hidrelétrica, digamos, no meio da Amazônia e, na outra, residências espalhadas a milhares de quilômetros dali, em todos os estados”, diz. Ele também afirma que, atualmente, um dos poucos mercados de concorrência monopolística no país é o de distribuição de energia.

QUANDO UMA GIGANTE SE APROXIMA DA SUA STARTUP…

Há três meses, a história da Solstar ganhou um novo capítulo. A startup foi escolhida, junto com outra do setor (a GreenAnt, de gestão de energia), para participar de um programa de aceleração criado pela Artemisia, entidade de fomento a negócios de impacto social, e pelo Instituto AES, do grupo de energia AES Brasil. De lá para cá, o programa ajudou Fabio a realizar um desejo antigo – começar a estruturar um modelo de financiamento de sistemas de energia solar para a população de baixa renda.

“Desde a fundação da empresa, eu sabia que uma maneira de democratizar a produção de energia solar era criar uma linha de financiamento justa, com taxas razoáveis, já que sempre é preciso investir num sistema. Mas também sabia que, antes, precisava aprender mais sobre o mercado. Então, comecei vendendo para quem tinha poupança, para os early adopters (quem adere primeiro à determinada tecnologia)”, afirma o empreendedor.

De acordo com ele, os poucos bancos que financiam sistemas de energia solar no país atualmente aplicam taxas de juros superiores ao retorno dos próprios sistemas. “O que a Solstar está fazendo agora é criar uma análise de risco diferenciada e oferecer uma taxa de juros mais baixa, que possibilite ao cliente pagar o investimento com a própria energia economizada”, diz, e prossegue:

“A capacidade de pagamento está associada ao próprio sistema, pois gerando energia a partir do sol sobra dinheiro na conta. Só faltou os bancos entenderem isso”

Fabio exemplifica: “Com um financiamento de cinco anos, o cliente ainda terá que dar uma entrada, mas conseguiremos reduzir um investimento de 100% para 30%. Então, com o tempo, aumentaremos o prazo desse financiamento.” O modelo de financiamento ainda está em fase de testes. No começo, apenas os sistemas da Solstar poderão ser financiados dessa forma. “Depois, isso será estendido para empresas parceiras, de qualidade similar”, conta.

Ele fala sobre a percepção do público em geral de que é caro produzir a própria energia solar: “É preciso enxergar os sistemas fotovoltaicos como um investimento, não como um gasto. Quem instala um sistema desses em casa tem potencial de retorno de mais de 20% ao ano, muito mais do que se o dinheiro estivesse na poupança, por exemplo.”

Segundo ele, com o novo modelo de financiamento, a Solstar poderá ajudar a resolver dois problemas. Um deles é de caráter sustentável – já que “a energia solar é a mais limpa de todas, além de ser inesgotável”. O outro, de cunho social. “Hoje, uma pessoa gasta, em média, 4% da renda com energia elétrica. A energia solar é uma alternativa para diminuir esse custo”, afirma Fabio.

Em 2017, a Solstar faturou 10 milhões de reais. Já este ano promete ser um ciclo determinante para a empresa – pelo menos, é no que acredita Fabio. “O mercado pode ser muito maior, o X da questão é o financiamento. Agora, estamos trabalhando nisso”, diz. Nos próximos meses, alguns fundos participarão de uma rodada de investimentos na empresa. “Num futuro de 10 a 20 anos, a maior parte das casas produzirá a própria energia, é um mercado promissor.” Sol não há de faltar.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Solstar
  • O que faz: Sistemas de energia solar
  • Sócio(s): Fabio Carrara
  • Funcionários: 20
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: maio de 2015
  • Investimento inicial: R$ 50.000
  • Faturamento: R$ 10 milhões (em 2017)
  • Contato: [email protected] e (11) 3643-5820
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