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Na Inglaterra, o paulistano Filipe Moura quer facilitar a compra de casas por pessoas de baixa renda

Camilla Ginesi - 12 mar 2018 Filipe Moura, brasileiro, e o sócio Josh Graham, empreendem juntos na Inglaterra.
Filipe Moura, brasileiro, e o sócio Josh Graham empreendem juntos na Inglaterra.
Camilla Ginesi - 12 mar 2018
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“O sistema de habitação atual já não funciona”, afirma o site da Ehab, plataforma colaborativa de criação e financiamento de moradias acessíveis e sustentáveis. A proposta da empresa, fundada em 2015 em Norwich, no leste da Inglaterra, é possibilitar que pessoas de baixa renda comprem casas sustentáveis (construídas com material reciclável ou que produzam a própria energia, por exemplo). E a forma de fazer isso é baseada na blockchain, a tecnologia que garante a segurança das operações com criptomoedas.

Mercado imobiliário, sustentabilidade, população de baixa renda, blockchain, Inglaterra. A Ehab pode parecer algo meio difícil de entender – além de geograficamente distante. Mas um dos sócios e o CTO da empresa é o matemático paulistano Filipe Moura, 34, e ele conta o que motivou a sua criação. “Hoje, os bancos financiam majoritariamente projetos de casas comuns, com cimento e tijolo. Por isso, muitas vezes, os projetos com métodos de construção mais modernos e sustentáveis não saem do papel. Ao mesmo tempo, a população cresce e a demanda e o custo de construção de casas aumentam. O que a Ehab quer é dar uma resposta para esse problema”, diz ele.

De acordo com o programa para assentamentos humanos da Organização das Nações Unidas, o ONU-Habitat, no “World Cities Report 2016”, será necessária a construção de 1 bilhão de casas no mundo até 2025 – o que deve custar cerca de 650 bilhões de dólares por ano. “Além disso, a carência de qualidade é muito maior que a de quantidade”, menciona o relatório.

Por ser descentralizada e transparente, a Ehab escolheu usar criptomoedas para captar recursos para financiar moradias populares.

A Ehab usa criptomoedas para captar recursos, de forma auditável e global, para financiar moradias populares.

O negócio da Ehab, que passou recentemente por transformações no modelo, tem três etapas. A primeira é um portal para crowdfunding de investimento imobiliário. “Uma incorporadora colocará no ar um projeto e, como no financiamento coletivo comum, diversas pessoas contribuirão para que ele se torne realidade. No caso da Ehab, no entanto, a contrapartida para quem apoiar será se tornar investidor do projeto e a captação será feita com criptomoedas”, conta Filipe. A empresa cobrará uma taxa sobre cada transação, e daí tirará sua receita.

Para contribuir com um projeto imobiliário listado na Ehab, é necessário possuir ethers (a criptomoeda da plataforma Ethereum, uma das mais populares atualmente, ao lado da Bitcoin) e trocá-los na plataforma por criptomoedas da própria Ehab. Então, com essas criptomoedas específicas, é possível comprar partes de um ou mais projetos. “Um ether equivale a 20 000 criptomoedas da Ehab”, explica Filipe.

Os investidores são de três perfis: quem pretende morar numa das casas, quem investe em habitação e quem tem criptomoedas. “Para os investidores em criptomoedas faz sentido porque eles conseguem diluir o risco, linkar esses ativos a algo físico”, afirma Filipe. Já para a Ehab, as criptomedas permitem captar dinheiro em qualquer lugar do mundo, pois a tecnologia das moedas digitais é global.

COMO AS MOEDAS DIGITAIS PODEM REINVENTAR O MERCADO DA HABITAÇÃO

Quem investe num projeto porque quer morar numa das casas paga a Ehab como pagaria um financiamento bancário. “Dentro da plataforma, será possível comprar a parte que falta da casa, aos poucos ou de uma vez”, afirma Filipe. “A diferença entre a plataforma e um banco é que ofereceremos taxas mais baixas, acessíveis para a população de baixa renda.”

O segundo passo será a interação entre os investidores e a incorporadora, que também acontecerá no site. “A comunidade poderá opinar no desenvolvimento dos projetos”, conta Filipe. Finalmente, a última etapa será a gestão financeira:

“Com a blockchain, todas as despesas ficam registradas, as transações são transparentes. O dinheiro dos investidores só pagará o que for aprovado. Isso evita, por exemplo, o superfaturamento”

O tempo verbal das etapas está no futuro porque o modelo de negócio é novo (mudou no ano passado). Atualmente, a Ehab está arrecadando fundos para criar a própria plataforma – também por meio de um crowdfunding. “Pretendemos captar 35 milhões de dólares até maio deste ano. A plataforma completa, com todas as funcionalidades, será lançada em novembro”, diz o empreendedor. O levantamento de fundos com criptomoedas é chamado de Initial Coin Offering (já falamos sobre neste Verbete Draft) e se assemelha a um Initial Public Offering (IPO), o momento em que as ações de uma empresa são vendidas numa bolsa de valores pela primeira vez.

Por enquanto, a Ehab já tem dois projetos fechados: um da empresa social de habitação acessível Bromford, que prevê a construção de 5 300 casas na Inglaterra, e outro do cluster de tecnologia Cambridge Norwich Tech Corridor, que planeja construir 20 000 moradias também na Inglaterra. Juntos, eles devem gerar o capital necessário para os próximos quatro anos de atuação da empresa, segundo o site da Ehab.

Antes da mudança no modelo de negócio, a Ehab chamava Ehabitation e era uma plataforma de modelagem de casas sustentáveis. “A ideia era cobrar comissões pelas indicações de arquitetos e construtoras aos usuários. Eu achava que isso só funcionaria se tivesse muito volume. Então, pouco tempo depois de entrar na empresa, sugeri mudar o modelo para usar a blockchain”, diz Filipe.

EMPREENDER, LÁ FORA, EM UM NEGÓCIO SOCIAL QUE PODE SE TORNAR GLOBAL

O paulistano se juntou à empresa fundada pelos ingleses Josh Graham e Adam Vaughan em agosto de 2016, como sócio. Hoje, apenas Filipe e Josh estão na sociedade – Adam saiu. “Conheci o Josh no centro de empreendedorismo da Universidade de East Anglia, onde a Ehab estava incubada e eu era mentor”, conta Filipe. Na época, ele trabalhava como gerente de tecnologia na rede para mobilização social Avaaz e fazia voluntariado de mentoria na universidade.

A Ehab nasceu e foi incubada no centro de empreendedorismo da Universidade de East Anglia, na Inglaterra.

A Ehab nasceu e foi incubada no centro de empreendedorismo da Universidade de East Anglia, na Inglaterra.

Ele já tinha tido uma experiência como empreendedor. Dois anos antes de se mudar para Norwich, em 2012, Filipe cofundou a Metamáquina, fabricante de impressoras 3D de baixo custo, em São Paulo. A decisão de sair do Brasil, diz, foi pessoal e não primordialmente profissional: “Vim morar na Inglaterra para acompanhar a minha esposa, a Kathleen, que é inglesa e veio fazer um mestrado, que acabou virando um doutorado”.

Atualmente, a Ehab está em fase de captação de novos investimentos. A empresa já recebeu mais de 40 000 libras da Universidade de East Anglia e do banco Santander, há dois anos. O modelo de negócio é tão novo que, até agora, a Ehab só foi notícia em sites específicos sobre criptomoedas, como o inglês NewsBTC (cuja matéria foi replicada pelo portal americano Business Insider).

Para o futuro próximo, a empresa deve fechar novas parcerias com incorporadoras da Inglaterra e de outros países, como Brasil, Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos. “Abriremos filiais nos países em que fecharmos parcerias. Já até contratamos um escritório de advocacia em São Paulo para trabalhar na parte legal”, afirma Filipe. Além dos planos com a própria startup, ele não tem dúvida de que soluções baseadas em blockchain, como a Ehab, serão cada vez mais populares em todo o mundo. E Filipe é, ele próprio, um exemplo de como às vezes é possível começar, longe do país, a empreender em algo que pode ter impacto social global.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Ehab
  • O que faz: Plataforma colaborativa de criação e financiamento de moradias acessíveis e sustentáveis
  • Sócio(s): Filipe Moura e Josh Graham
  • Funcionários: 13 (incluindo os sócios)
  • Sede: Norwich, Inglaterra
  • Início das atividades: 2015
  • Investimento inicial: £ 40 000
  • Faturamento: ainda não fatura
  • Contato: [email protected]
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