Continuamos a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é…
BIOTECNOLOGIA
O que acham que é: Tecnologia que aproxima os humanos dos robôs.
O que realmente é: Biotecnologia é o uso de sistemas biológicos encontrados em organismos vivos, ou dos próprios organismos em si, para o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais avançadas e precisas. É direcionada por métodos científicos e integra diversas áreas do conhecimento como genética, bioquímica, química, biologia celular e molecular, embriologia, além de tecnologia da informação, robótica, bioética e direito, entre outras.
Professora do Insper, CTO e fundadora da MasterTech, Camila Achutti diz que, em termos práticos, Biotecnologia é uma área multidisciplinar entre a biologia que estuda os seres vivos e a tecnologia. “Dessa forma, o maior objetivo da área é desenvolver métodos e técnicas que possam contribuir em solucionar problemas associados aos seres vivos.”
Embora seja milenar e esteja desde sempre presente em campos como saúde, alimentação, agricultura, meio ambiente, indústria etc, a Biotecnologia parece ter ares de ciência nova. Isso acontece em função da exponencialidade, ou seja, da velocidade ultra acelerada com que as tecnologias têm evoluído nas últimas décadas e o efeito que causam na sociedade.
Segundo Maria Cristina da Silva Pranchevicius, coordenadora do Curso de Biotecnologia do Departamento de Genética e Evolução da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar-DGE), a Biotecnologia tem se tornado um componente essencial na vida humana e a lista de seus benefícios é interminável. “Ela é uma tecnologia complexa, que emprega recursos biológicos e possui um potencial capaz de mudar profundamente o curso da humanidade. Esses fatores levantam muitos questionamentos, opiniões diferentes e discussões em termos éticos e de aceitação pública.”
Quem inventou: O termo Biotecnologia foi cunhado pelo engenheiro agrônomo húngaro Karl Erkey em um experimento com êxito que envolvia alimentar em larga escala porcos com beterrabas cultivadas com microorganismos.
Muito antes disso, porém, ainda na antiguidade, já aconteciam processos biotecnológicos como fermentação para produção de queijos e vinhos. Dessa forma, mesmo que ainda não nomeada, a Biotecnologia já existia há milhares de anos e não é possível dizer quem é seu inventor.
Quando foi inventado: O termo foi cunhado em 1919.
Para que serve: Para fornecer produtos, processos e tecnologias inovadoras que possam beneficiar (e até transformar) a humanidade.
Na área da saúde, por exemplo, é possível falar tanto de medicamentos para doenças raras ou ainda sem cura e do desenvolvimento de vacinas como também em mudanças de sequências de DNA que resultam em edições genéticas que podem ser herdadas por futuras gerações, alterando espécies para sempre. Essa última inovação foi apresentada em um TED pela jornalista especializada em ciências Jennifer Khan.
Na agricultura, a Biotecnologia pode tornar a lavoura mais produtiva, sustentável, e economicamente viável, o que gera menos impacto no meio ambiente. Para isso, segundo Pranchevicius, usa-se engenharia genética, que permite a produção de plantas geneticamente modificadas com maior valor nutritivo, resistentes a pragas e capazes de diminuir o uso de pesticidas sintéticos. “Essas opções podem ajudar os países com demandas por alimentos e, ao mesmo tempo, reduzir a fome e os custos de produção”, diz.
Por meio da Biotecnologia é possível produzir energia limpa através do uso dos chamados biocombustíveis, cuja fonte é biomassa renovável (matéria de origem vegetal como bagaço de cana-de-açúcar, algas, lixo biodegradável, óleos vegetais etc).
Quem usa: De um lado, os centros de estudos, laboratórios, startups, cientistas, empreendedores e indústrias interessadas em criar e produzir novas tecnologias aliadas à biologia e, do outro, o consumidor final. A variedade de campos e subcampos de aplicação, como já dito, é enorme.
O tópico Biotech, da página do TED, tem 73 talks sobre o tema em áreas e com abordagens completamente diversas.
Efeitos colaterais: Questões éticas, legais, culturais, sociais, religiosas e morais, além de riscos em relação aos impactos das práticas.
Achutti diz que há muitas discussões éticas relacionadas a assuntos como clonagem e produção de células-tronco: “A Biotecnologia esbarra em vários aspectos legais e culturais, com isso muitos vieses passam a ser questionados”.
Pranchevicius, por sua vez, afirma que a Biotecnologia tem uma promessa significativa para o futuro, mas como em qualquer área, existem especulações sobre os riscos associados como, por exemplo, questionamentos sobre superprodução de safras, que podem resultar em instabilidade no mercado econômico, com diminuição nas receitas de exportação. “Por outro lado, outros argumentam que essa superprodução poderá atender a demanda do crescimento populacional mundial.”
Quem é contra: É possível haver grupos contra em vários dos segmentos em que a Biotecnologia atua. Para citar dois: no da genética humana, há oposições religiosas; na agricultura dos transgênicos, ativistas verdes.
Achutti diz que há muitas linhas de discussão que levantam questionamentos sobre até onde vai o direito do ser humano de mudar a natureza e a química. “Elas questionam, por exemplo, a possibilidade de alimentos geneticamente modificados anularem efeitos e antibióticos e os impactos que podem causar em toda a biodiversidade. Estamos falando até de eliminação de algumas espécies e exposição de indivíduos a doenças antes inexistentes.”
Para saber mais:
1) Assista ao TED Gene editing can now change an entire species — forever, da jornalista especializada em ciências Jennifer Khan.
2) Leia, na Aeon, Prometheus Inc. Reflexivo, o texto questiona se devemos nos preocupar com a promessa da Biotecnologia de transformar nossa saúde, identidade e até mesmo nossos cérebros.