No início de março, a prefeitura do Rio de Janeiro regulamentou a profissão de mototaxista, aprovada em uma lei municipal no ano passado. Mas o serviço não é novidade e é utilizado há anos, principalmente, nas comunidades das periferias — uma lei federal de 2009, inclusive, autoriza o exercício da profissão — e, muito antes da legislação carioca, a venture builder Brave percebeu a oportunidade de negócio e criou o Garupa App, uma espécie de “Uber” para mototáxi. “Sempre existiu uma oferta grande de mototáxis no Rio, mas era muito desorganizada. Para conseguir usar, era preciso ter o telefone de um mototaxista”, diz João Zecchin, 30, sócio-fundador da Brave. Ele prossegue: “Com o avanço de aplicativos de táxi, pensamos em criar algo para motos”.
O trabalho para desenvolver o app começou em 2015. João nunca foi usuário de mototáxis, mas observava de perto o mercado de motos. Ele foi um dos investidores da Loggi, uma plataforma de entrega que conecta usuários a motoboys, apontada como uma das empresas brasileiras com potencial para se tornar um unicórnio. No caos pré-Olimpíada de 2016, que colocava o Rio entre as cidades com pior mobilidade urbana no mundo, ele viu que muitos amigos começaram a usar mototáxi para driblar o trânsito. Da curiosidade sobre o mercado e do desejo de criar algo relacionado à mobilidade surgiu a ideia do negócio.
Durante os seis meses seguintes, a equipe da Brave, liderada por Suellen de Aguiar Rodrigues, 29, contratada para ser CEO do Garupa App, se dedicou a estudar a viabilidade do projeto. Ela fala das barreiras que precisaram superar para ganhar adesão:
“Vimos que o Rio tinha mais de 5 000 mototaxistas, mas o serviço era muito marginalizado, precisaríamos trabalhar para desmistificá-lo”
Com um investimento inicial de 200 mil reais, o processo resultou em um piloto para testar a usabilidade e a demanda do produto. Lançado durante os Jogos Olímpicos, teve muitas falhas técnicas e tecnológicas, mas acabou funcionando — e trouxe uma informação inesperada: 90% dos usuários eram mulheres. “Isso foi importante para adaptarmos a forma como falamos com o público”, afirma João.
UM EMPURRÃZINHO DAS CELEBRIDADES
Coincidência ou não, ganharam um sócio que, nas palavras do próprio João, “caiu como uma luva”: o ator Bruno Gagliasso. Amigo de outro sócio da Brave, Bruno abraçou a ideia da empresa e, como faz com outros negócios dos quais é investidor, tornou-se um “embaixador” do Garupa nas redes sociais. Em outubro de 2016, quando o app ainda estava em fase de testes, o ator publicou um vídeo em seu Instagram na garupa de uma moto. Recebeu mais de 70 mil visualizações e, como em algumas outras vezes que o ator publicou algo em suas redes, o servidor do app chegou até a cair pelo número de acessos.
Ajustes feitos, o Garupa foi lançado oficialmente no carnaval do ano passado. Desde a estreia, outros artistas como Tatá Werneck e Giovanna Lancellotti usaram e compartilharam suas experiências com o app nas redes sociais.
Segundo Suellen, andar dez quilômetros em uma moto do Garupa sai aproximadamente 15 reais, cerca de 45% mais barato que um táxi e sem as variações de tarifa conforme a demanda que acontecem, por exemplo, no próprio Uber.
O combo propaganda de famosos e preço acessível parece ter dado certo e, além da capital fluminense, o Garupa começou a operar também em Ribeirão Preto (SP) e Uberaba (MG). Ao todo, são mais de 50 mil usuários cadastrados e um faturamento de 20 mil reais por mês, em média.
O envolvimento das celebridades foi importante não só para atrair clientes, mas também para aumentar a rede de mototaxistas credenciados. Ataíde da Silva Furtado, 32, é um deles. “Nunca gostei da ideia de ser mototaxista em comunidades, mas há uns dois anos vi uma propaganda com o Bruno Gagliasso na internet e gostei da ideia”, conta ele, que mora em Madureira (subúrbio do Rio) e afirma ganhar pelo menos 150 reais por dia, trabalhando cerca de oito horas, com o Garupa. Ao todo, 80% do valor de cada corrida é repassado aos motoristas, 12% ficam com a equipe do app e o restante vai para encargos, como o seguro para os passageiros.
EXIGÊNCIAS IMPORTANTES PARA RODAR
Atualmente, são cerca de 1 600 mototaxistas cadastrados nas três cidades em que o app está presente. Para se tornar motorista do Garupa é necessário preencher um formulário com documentos no site e seguir alguns pré-requisitos: ter mais de 21 anos, dois de carteira, não possuir antecedentes criminais e ter uma motocicleta com no máximo nove anos de uso e, no mínimo, 125 cilindradas.
No dia a dia, além do capacete para o passageiro são exigidas também toucas descartáveis para proteção higiênica. “Tem gente que tem medo de segurar em mim, mas logo fica tranquilo” diz Ataíde. “Também já peguei muito passageiro que nunca havia andado de moto e depois viciou, viu que é o melhor meio de transporte para o dia a dia.” Daqui para a frente, os planos são de expandir usando um modelo de franquias, como fala João:
“Nós queremos chegar a outras cidades, mas as distâncias e o tamanho da operação dificultam o corpo a corpo necessário para a manutenção do negócio. Por isso, pensamos em franquias”
Ele ainda diz: “É interessante porque implantar o sistema é barato, o custo é competitivo com outras franquias e nós ganhamos junto com a pessoa em royalties”. Segundo Suellen, há pessoas em cidades, principalmente, do Norte e Nordeste do país, como Belém e Salvador, interessadas na proposta. Ainda não há nada definido mas, se depender dos sócios e dos mototaxistas do Garupa, os dias de fila no trânsito estão contados.
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