Em 2003, a PUCRS, considerada a melhor universidade privada da região Sul (ranking da Folha de S.Paulo), inaugurava um parque tecnológico dentro do campus da cidade de Porto Alegre, batizado de TECNOPUC – Parque Científico e Tecnológico da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. O objetivo era transformar conhecimento em negócios. A missão já foi ampliada para proporcionar um ambiente favorável para alunos, empresas, pesquisadores e empreendedores desenvolverem e escalarem projetos em conjunto.
Os parques tecnológicos, em geral, concentram instituições de ensino, empresas, incubadoras e aceleradoras de negócios, centros de pesquisa e laboratórios – um conjunto predisposto à inovação. O TECNOPUC não é diferente. Em uma área de 90 000 metros quadrados, com 12 estruturas de pesquisa – entre elas o CriaLab, laboratório de Criatividade e o Smart City Innovation Center, idealizado em parceria com a chinesa Huawei –, o parque gesta, atualmente, cerca de 150 projetos nas áreas de Tecnologia da Informação, Ciências da Vida, Indústria Criativa e Energia & Meio Ambiente.
Os projetos têm os mais diversos formatos: pesquisa básica ou aplicada, tanto independente quanto em parceria com empresas; programas de formação complementar em graduação ou bolsas de estudo para pós-graduação; capacitação profissional e estímulo ao empreendedorismo, que engloba um programa de desenvolvimento de startups. São 6 500 pessoas trabalhando em prol de novas soluções que pretendem chegar, em breve, ao mercado, como conta o professor Rafael Prikladnicki, 39, diretor do TECNOPUC desde 2013:
“O fato de estar em um ecossistema de inovação faz a empresa acelerar seus processos e, consequentemente, seu amadurecimento”
O maior volume de projetos, um pouco mais de 50%, são de TI. O restante está dividido entre as demais linhas de prospecção de pesquisa. “O legal é que quando começamos o parque, 100% dos projetos eram na área de TI. Com o tempo, diversificamos. Agora, há projetos em quatro áreas, como por exemplo, Neuromarketing & Varejo e Sequestro de Carbono & Exploração de Pré-sal”, diz o professor.
COMO ATRAIR E ENVOLVER EMPRESAS, PROFESSORES E ALUNOS
O modelo de funcionamento do TECNOPUC sempre previu atração de empresas para transformar oportunidades em projetos. E mais: estando ali, as empresas teriam que desenvolver algo com a PUCRS e, possivelmente, entre elas também. Rafael afirma: “Não tem exceção. O conceito que trabalhamos é de relacionamento qualificado com as empresas e a gama de oportunidades é muito ampla”.
Essa exigência vem com uma contrapartida instigante. Quem se instala no TECNOPUC, seja uma grande ou pequena organização, pode utilizar a estrutura e o capital humano da universidade (que tem mais de 20 mil estudantes, professores e pesquisadores).
Desse caldeirão de ideias já saíram várias iniciativas. A Getnet – empresa de pagamentos eletrônicos que credencia lojistas para a captura de transações com cartões – começou no TECNOPUC em 2003. Saiu de lá, cresceu, foi comprada pelo banco Santander, em 2013, e acaba de voltar para “casa”. Fixou-se em uma área de 500 metros quadrados do parque para trabalhar inovação internamente.
Já a Cliever – empresa que fabrica e vende impressoras 3D – foi criada por um ex-aluno do curso de Engenharia da PUCRS. Hoje, tem 500 clientes espalhados pelo Brasil e recebeu aporte de capital semente do Fundo Criatec. Outro destaque é a Zero-Defect, criada em 2004, uma das pioneiras no Brasil na realização de testes e homologação de softwares. Ela foi uma spin-off de um aluno de graduação, estagiário em um projeto com a HP, que veio a ser o primeiro cliente.
TODA A HISTÓRIA COMEÇOU COM A FORMAÇÃO DE MIL DOUTORES
Antes que você se pergunte por que as demais PUCs no país não têm a mesma estrutura, saiba que as Pontifícias Universidades Católicas são independentes em sua estrutura e gestão e que, não necessariamente, seguem a mesma congregação. Elas têm o título concedido pelo Vaticano e são mantidas por diferentes correntes e filosofias. Por exemplo, a PUC-Rio é jesuíta, as PUCRS e PUCPR são maristas.
O TECNOPUC surgiu como uma visão de Norberto Rauch, reitor da PUCRS, entre 1978 e 2003, motivado por uma ação do governo municipal: o Programa Porto Alegre Tecnópole (PAT). Era o final dos anos 1990 e o reitor já havia idealizado a campanha “Mil para o ano 2000”, que incentivou e promoveu a formação de mil mestres e doutores dentro da universidade, em uma época em que isso não era obrigatório. “Ele defendia que a PUCRS, como instituição privada sem fins lucrativos, poderia ter muitos desafios futuros se não pensasse em projetos que colocassem a universidade em um nível diferente”, diz Rafael.
Pouco depois, houve a oportunidade de adquirir, por meio de uma licitação pública, o terreno ao lado do campus da universidade, que pertencia ao Exército Brasileiro. Como não havia clareza do que fariam no terreno, criou-se um grupo de estudos. Foi decidido que seguiriam um caminho similar ao Porto Digital em Recife e ao Parque Tecnológico da UFRJ. “Na época, queríamos atrair empresas para, de alguma forma, fazer projetos em parceira e contribuir com a sustentabilidade da pós-graduação. Acabamos criando um grande ecossistema de inovação.”
Rafael conta também que o parque está vinculado à Superintendência de Inovação e Desenvolvimento da Universidade, ligada diretamente à reitoria da PUCRS. Portanto, ele e a equipe de 40 pessoas gerenciam o ambiente e os projetos, mas a gestão financeira é feita pela pró-reitoria administrativo-financeira da universidade.
Esta é, aliás, uma das razões pelas quais Rafael não pode precisar o orçamento do TECNOPUC. “Além de gerenciarmos muitos projetos, com formatos diversos, ainda há os projetos pessoais dos pesquisadores, para os quais eles captam recursos como pessoa física, em agências de fomento como CNPq e FAPERGS. Eu diria que, em média, são 30 milhões de reais por ano.”
As fontes de receita direta do parque são duas: cobrança de aluguel (51 reais o metro quadrado) e de condomínio das empresas ali instaladas, o que ajuda na manutenção da estrutura; e recursos advindos da interação com as empresas em projetos. Rafael diz que 25% da receita vem de aluguel e 75% das parcerias com empresas e órgãos de fomento. Só a Globo.com, por exemplo, tem uma área de 500 metros quadrados ali.
AGORA, O DESAFIO É GESTAR MIL NEGÓCIOS
Quando Rafael assumiu o parque não houve ruptura de modelo e, sim, continuidade. A novidade da gestão ficou por conta da reorganização administrativa do parque, que substituiu as estruturas lineares e hierárquicas e opera, desde abril de 2018, em uma rede de sete nodos: Orquestração, Gestão de Infraestrutura, Prospecção e Negociação de Projetos, Gerência de Projetos, Impacto Social, CriaLab e Tecnopuc Startups.
Cada nodo tem um líder e trabalha de forma autônoma, articulada, com responsabilidade e empoderamento. Rafael usou sua expertise como professor PhD em Ciências da Computação e especialista em Gestão de Ambientes de Inovação pela Anprotec e INNOPOLIS Foundation (ligada ao Ministério da Ciência da Coreia do Sul) para liderar a implantação do novo modelo, desenvolvido ao longo de 2017, durante o processo de planejamento estratégico da área de inovação da PUCRS. “Nós diminuímos níveis de decisão para fazer com que a estrutura ficasse mais ágil, leve, rápida, transparente e orgânica”, diz. O TECNOPUC está entre os dez finalistas do programa Inspiring Solutions, promovido pela Associação Internacional de Parques Tecnológicos e Áreas de Inovação –IASP, com esse case.
É preciso dizer que há ótimos pesquisadores sem gana alguma de empreender — e que há empreendedores visionários sem aptidão para pesquisa. No TECNOPUC, às vezes, há um casamento de interesses:
“Para pesquisadores sem perfil de empreender, mas que são inventores de altíssima qualidade, a universidade tem políticas que regulam o ganho de royalties”
O mais recente desafio a que Rafael e sua equipe se propuseram e que marca os 15 anos do parque é um projeto de escalar o surgimento de mil startups em dez anos. O sonho é que boa parte dessas startups surjam do próprio ambiente acadêmico da universidade. Como desde 2015, há no TECNOPUC uma aceleradora, um coworking e processos de incubação, nada impede que um empreendedor de fora da PUC-RS se candidate a abraçar esse convite e ajude o grupo a chegar a essa marca.
Pedro Prates entrou no Itaú como trainee em 2011. Poucos anos depois, estava apresentando (e capitaneando) um projeto ousado: uma plataforma de inovação aberta para gerar conexões e negócios entre grandes empresas e startups. Conheça os bastidores dessa história.
Desde 2017, o centro de inovação incubou 42 empresas (incluindo um app de escala de plantões usado por 2 mil médicos do Einstein), investiu em 15, montou um comitê estratégico e vem apostando em eventos para engajar mais gente interessada em “reinventar a saúde”.
Os irmãos Fernando Santos e Fabiana Schaeffer sentiram que sua agência de publicidade precisava entregar algo novo aos clientes. Assim, tornaram a estrutura interna mais ágil, investiram em outras empresas e querem explorar a conexão entre os negócios.