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Como ele fundou negócios que desmistificam uma doença: conheça as marcas Vida de Diabético e Máfia da Insulina

Tatiany Carvalho - 12 nov 2018 Fred Prado conta que, após ser diagnosticado com diabetes tipo 1, resolveu apoiar outras pessoas com o mesmo problema, fornecendo informações sobre o tema. Acabou transformando os projetos pessoais no seu ganha-pão.
Fred Prado conta que, após ser diagnosticado com diabetes tipo 1, resolveu apoiar outras pessoas com o mesmo problema, fornecendo informações sobre o tema. Acabou transformando os projetos pessoais no seu ganha-pão.
Tatiany Carvalho - 12 nov 2018
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Fred Prado, 30, soteropolitano, adora bobó de camarão e sua sobremesa preferida é o pudim de leite, daqueles de derreter na boca. Ama atividades físicas, em especial, a musculação, quase tanto quanto o empreendedorismo: é gestor de uma academia de ginástica, administra um buffet e cuida de um projeto nas redes sociais que já percorreu mais de 15 cidades brasileiras. A verdade é que a vida de empreendedor meio que se mistura ao seu novo estilo de vida, desde que foi diagnosticado, aos 21 anos, com diabetes mellitus tipo 1 (DM1). A doença foi a inspiração para criar, há três anos, o projeto Vida de Diabético, um perfil no Instagram e no Facebook que busca motivar pessoas com diabetes a se cuidarem.

No início, ele era apenas mais um dos cerca de 14 milhões de brasileiros que convivem com a doença, sendo que apenas cerca de 10% dos pacientes apresentam o tipo 1 do diabetes (os portadores têm insuficiência absoluta na secreção de insulina e dependem da administração deste hormônio por fontes externas para que a glicose seja absorvida pelo organismo). Os pacientes precisam realizar terapias com múltiplas doses de insulina durante todo o dia, sendo necessárias algumas furadinhas no dedo para a dosagem do hormônio, seguidas do uso de medicamentos, que variam de acordo com o tratamento em curso.

O projeto surgiu quando ele percebeu que havia pouca informação de qualidade sobre a doença de forma acessível e muitos mitos a serem vencidos. Sim, Fred come doce quase que diariamente, porém mantém em equilíbrio quatro pilares: alimentação saudável, atividade física regular, saúde (emocional, mental, espiritual) e medicação correta. Ele diz: “Não existe comida para diabético. Existe comida que todo mundo deve comer”.

O OBJETIVO É MOSTRAR QUE A DOENÇA NÃO É IMPEDIMENTO PARA NADA

Entre as muitas dúvidas que aparecem entre os seguidores da Vida de Diabético, destacam-se questões sobre alimentação, taxas de glicemia, restrições quanto à atividade física etc. “São muitas dúvidas de ordem prática. As pessoas costumam estudar o mínimo sobre o assunto e assumir como verdades o pouco que sabem.” Atualmente, Fred responde entre cinco a dez mensagens por dia enviadas por seus seguidores. Seu objetivo:

“Quero provar que é possível ter uma vida muito boa mesmo tendo diabetes tipo 1. É preciso enxergar a doença sem julgamentos e vitimização”

Até encontrar o que seria o seu propósito profissional, Fred experimentou situações turbulentas ao longo de sua vida empreendedora pregressa — participou de sete empresas nos segmentos de gastronomia, eventos, consultoria empresarial, venda de colchões, roupas, academia e buffet. Os negócios chegaram a faturar mais de 3 milhões de reais por ano, mas aos poucos, a perda de liquidez e a separação conjugal, que o afastou do convívio diário com seu filho Pedro, atualmente com dois anos, fez com que Fred descuidasse da saúde.

“Cheguei ao fundo do poço e precisei ser muito forte, ter muita resiliência e força para me reerguer e dar uma guinada na vida”, diz o empreendedor sobre o período crítico. “Foi um momento muito sozinho, de cuidar de mim, de muita meditação, de me conhecer mesmo, o que me deu clareza de propósito e do que eu queria”, prossegue Fred. Durante o que acredita ter sido a fase mais difícil de sua vida, muitas vezes deixava de almoçar e de praticar atividade física — o que é prejudicial ao tratamento das pessoas com diabetes. “Eu me sabotava o tempo todo. Foi aí que decidi vender a maior parte dos negócios para me dedicar apenas aos relacionados com o diabetes.”

DOS CONSELHOS NAS REDES SOCIAIS A PALESTRAS PELO BRASIL

Do mundo virtual, a Vida de Diabético se materializou e começou a gerar receita através de um braço, o Papo de Diabético, que teve início em Recife em 2017. “Foi incrível. Tive uma participante que era do interior do estado e percorreu mais de 500 Km para vir me ouvir. Aí, percebi o quanto este trabalho poderia ser bonito e ganhar força”, afirma Fred.

Um dos encontros do Papo de Diabético em Brasília. O evento já ocorreu em 15 capitais do país.

O evento de imersão em diabetes tem em média três horas de duração e já passou por mais de 15 capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Salvador, Vitória, Aracaju e Brasília. Em média, Fred realiza dois Papo de Diabético por mês e diz que já fechou uma agenda de trabalho com, pelo menos, um evento mensal em 2019.

Ele reúne cerca de 40 participantes por encontro — a maioria mulheres com diabetes tipo 1 ou tipo 2 e cuidadores, que em geral são familiares. Os ingressos são vendidos a 40 reais, sendo que uma parceria comercial com a indústria farmacêutica Roche Brasil, fabricante de produtos e serviços de cuidados do diabetes, ajuda no custeio de parte das despesas operacionais dos eventos.

ELE QUER PROVAR QUE DIABETES NÃO TEM CARA

Como o propósito do empreendedor baiano também é desmistificar a doença, ele decidiu criar uma página no Instagram e no Facebook, a Máfia da Insulina. A pegada é se transformar em uma comunidade de diabéticos, na qual a maioria das postagens são fotos pessoais compartilhadas por quem tem a doença. Fred fala mais a respeito:

“A marca foi criada para quebrar mitos de que não existe diabético nem gordo, nem magro, mulher ou homem, menino ou menina, enfim, vários estereótipos”

O que era apenas uma comunidade, no entanto, também começou a ganhar contornos de negócio. O pontapé inicial foi a comercialização de camisetas com frases que geram identidade entre a “tribo” como “Diabete life style”, “Doces pela própria natureza”, “Docinha pela própria natureza” e a “Insulina, Endorfina e Disciplina”.

As camisetas da Máfia da Insulina tem frases inspiracionais. Custam de 49,90 a 79,90 reais e podem ser comprada online.

O investimento inicial para criar o projeto foi de cerca de 5 mil reais. As camisetas só são produzidas após a efetivação da venda. Não há estoque em larga escala. Através da loja virtual, cada camisa é comercializada a valores entre 49,90 e 79,90 reais, com entregas em todo o país.

Na Máfia, Fred tem sociedade com o empresário José Mendes, dono de uma farmácia no bairro da Pituba, em Salvador, onde os dois mantêm um ponto de venda físico dos produtos. Em média, cerca de 80 camisetas são comercializadas por mês.

Com o negócio, Fred fatura cerca de 1,5 mil reais mensais, considerando-se 50% de participação na sociedade. Atualmente as três empreitadas, a Vida de Diabético, o Papo de Diabético e a Máfia da Insulina, geram ao empreendedor um faturamento mensal em torno de 5 mil reais, contando com o aporte financeiro de patrocinadores.

QUANDO A META É SE DESFAZER DOS NEGÓCIOS (APENAS OS FÍSICOS)

Com objetivo de se desfazer, até 2019, de todos os seus negócios físicos, Fred abriu uma nova frente na área de coaching. Em setembro deste ano, concluiu sua formação pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC). Isso o capacitou  como o primeiro coach diabético do país, com um programa desenhado especificamente para quem tem a doença.

Cada atendimento dura aproximadamente uma hora e é realizado por Skype. O pacote com dez sessões custa, atualmente, 2 mil reais. Nesta travessia por águas turbulentas, Fred acabou por transformar o diabetes em um estilo de vida e em negócios. O próximo projeto contempla, ainda, o lançamento de um livro sobre a temática.

O empreendedor serial, que já esteve à frente de academia de ginástica à loja de colchões, hoje busca uma vida mais simples e com menos dores de cabeça. O propósito maior é ajudar quem tem a doença a seguir o dia a dia de forma tranquila, assim como ele que, após nove anos de diagnóstico, orgulha-se de não ter parado no hospital uma vez sequer.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Vida de Diabético e Máfia da Insulina
  • O que faz: Perfis em redes sociais com informação e consultoria para diabéticos
  • Sócio(s): José Mendes (na Máfia da Insulina)
  • Funcionários: Apenas o fundador
  • Sede: Salvador
  • Início das atividades: 2015
  • Investimento inicial: R$ 5.000
  • Faturamento: R$ 78.000 (em 2017)
  • Contato: [email protected]
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