Em abril, a Pequenas Empresas & Grandes Negócios lançou um ranking com as 100 “startups mais quentes” do país. Apenas cinco representantes do Nordeste emplacaram na lista (montada, segundo a revista, a partir de 1,3 mil inscrições). Uma delas é a Agenda Edu, uma startup de educação que integra alunos, pais e escolas por meio de um app e de uma plataforma online. Fundada em Fortaleza, a edtech fincou sua bandeira em São Paulo e é uma das residentes do Civi-co, o polo de negócios de impacto instalado em Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista.
A Agenda Edu nasceu (então com o nome de Agenda Kids) em 2014, a partir de um encontro fortuito durante a edição cearense do Startup Weekend. O quarteto de cofundadores – Anderson Morais, Carlos Alan, Fernanda Catunda e Pietro Occiuzzi – se conheceu no evento e foi incumbido de apresentar o projeto de uma startup. Alan já tinha a ideia de uma solução digital para resolver uma “dor de pai”: sua dificuldade em acompanhar o dia a dia escolar da filha pela agenda de papel.
“Acho que tivemos um despertar no momento do pitch do Alan: passou um filme na cabeça de cada um de nós”, diz Anderson, hoje com 27 anos. “Ele contou que tinha perdido um baile de Carnaval da filha na escola por não conseguir acompanhar a comunicação por meio de um bilhetinho na agenda. Ficamos todos tocados e decidimos embarcar nesse sonho de tentar fazer alguma coisa diferente em educação.”
Daquele primeiro encontro, a startup deslanchou: conquistou o prêmio de inovação na Campus Party 2015, apoio da Fundação Lemann e uma vaga na turma do programa Start-Ed Lab 2015 – participação que ajudou a consolidar a metamorfose em empresa de educação com viés tech.
Conquistou, também, uma base cada vez mais sólida de clientes. A Agenda Edu hoje contabiliza 600 mil usuários, entre pais, alunos e educadores, e está presente em 1.280 escolas de todos os estados do Brasil.
“Brincamos que a Agenda já nasceu nacional: a primeira escola foi no Ceará, a segunda em Campinas, a terceira em Manaus…”, diz Anderson. “Nunca tivemos um centro de atuação regional ou uma estratégia de ganhar primeiro o estado, depois o Nordeste, depois o Brasil… Educação é uma pauta universalizante, e a nossa base é bem democrática e diversificada.”
O produto da edtech cearense transcende o escopo de uma simples “agenda digital”. Tem diversas funcionalidades, desde informar a lição de casa e os eventos do calendário escolar até “dedurar” as faltas e permitir aos pais o acompanhamento (com lupa de aumento) do desempenho de seus filhos ao longo do ano letivo. No caso das crianças menores, os responsáveis ficam sabendo se seus pimpolhos lancharam bem, se dormiram à tarde e quantas foram as trocas de fralda.
Há uma função de mensagem instantânea, para agilizar a comunicação entre os pais e a escola (personalizando o fluxo que hoje é feito de forma meio desordenada, via WhatsApp). Os professores, por sua vez, usam a Agenda Edu para organizar planos de aula. E a instituição pode conectar seu sistema de gestão – segundo Anderson, há diversos softwares de ERP escolares que se acoplam à plataforma.
A experiência da Agenda Edu é diferente dependendo do tipo de usuário. “Família, escola e aluno… Cada um encontra uma plataforma web diferenciada, com indicadores e funções disponíveis para cada tipo de perfil, cada nível hierárquico dentro da instituição. O mantenedor da escola vê dashboards de uma forma, o educador vê de outra, idem o pai, o aluno.”
O modelo de negócio prioritário é o B2B. As escolas contratam o serviço da Agenda Edu por valores proporcionais à quantidade de usuários (o tíquete médio varia de R$ 1,25 a R$ 5 por aluno/mês; o custo unitário cai inversamente ao número de estudantes).
O roadmap de produto é definido com base em feedbacks, que ajudam a identificar lacunas e pontos de melhoria. Para ajudar no garimpo de gaps na plataforma, a startup dispara pesquisas pontuais por meio do app, engajando os usuários para entender melhor as necessidades que às vezes eles ainda nem sabem que têm.
Foi assim, por exemplo, que a startup começou a desbravar o B2C, disponibilizando a opção de pais usarem o app para realizar “micropagamentos” – quitar o valor de um material escolar ou uma despesa esporádica (atrelada a algum evento, como uma festa de Dia das Mães, por exemplo). Nesse caso, a Agenda Edu cobra uma taxa de conveniência sobre a transação. A funcionalidade foi lançada em maio, na Bett Educar 2018, principal congresso de educação e tecnologia da América Latina.
Abrir novas frentes de negócios, prospectar clientes e, é claro, deixar a ferramenta “redondinha” é tarefa de uma equipe de 60 colaboradores, que se dividem entre Fortaleza e São Paulo. O grupo multidisciplinar reúne profissionais de TI, jornalistas, educadores e pedagogos. “Um dos nossos desafios nesse sentido é consolidar uma cultura interna de inovação e de valor que se enquadre ao nosso propósito, para termos um time forte e uníssono, caminhando em direção ao mesmo resultado.”
Embora a tecnologia esteja no cerne do negócio, Anderson frisa que a Agenda Edu é uma empresa de educação com viés tecnológico – e não o contrário:
“Tem muita gente que diz que constrói edtech, mas na verdade constrói softwares para educação”, diz o empreendedor, ressaltando a importância da empatia: “Um professor, um aluno, um pai, cada um tem necessidades diferentes. Essa vivência em escola, a sensibilidade de entender como uma funcionalidade se relaciona ao sucesso ou insucesso do trabalho daquela pessoa, está no nosso DNA. Queremos ajudá-los a entender o que precisam e ‘traduzir’ com o auxílio da tecnologia. Nunca o caminho contrário, ou seja, fazer a tecnologia e depois ‘obrigá-los’ a usar.”
O grande objetivo no momento é expandir a atuação para englobar de verdade as escolas públicas – hoje, quase a totalidade da base de usuários da Agenda Edu ainda se encontra ainda na rede particular.
“Começamos a focar nesse mercado agora. Precisávamos ganhar sustentabilidade financeira no setor privado para conseguir fazer de forma gratuita no público. Então agora começamos a ter o respiro para atuar da forma que sempre quisemos.”
Dentro dessa estratégia, Anderson aborda os benefícios do Civi-co, onde a startup ocupa uma sala desde fevereiro:
“O Civi-co é um ecossistema vivo”, diz Anderson. “Tem muita gente bacana fazendo muita coisa legal, então você acaba criando bons relacionamentos que te levam a bons horizontes. Procuramos causar impacto, principalmente agora com as escolas públicas. Estar no Civi-co ‘casa’ muito bem com esse movimento da Agenda Edu.”
Incluir a rede pública não é simples, ainda mais em um país notório pela burocracia. Além disso, até fevereiro de 2019, a startup pretende mais do que dobrar o número de alunos cadastrados. A equipe, porém, está habituada a encarar cenários pedregosos:
“Nascemos no Ceará, um ambiente onde inovação é uma pauta muito embrionária, não havia ninguém fazendo nada fora da curva…. Tivemos que ‘correr bastante’ para conseguir o nosso espaço ao sol. E mostramos que dá para ter uma startup de tecnologia no Ceará, mesmo com acesso difícil a recursos e ao capital humano.”
Hoje, a jornada trilhada pela turma da edtech inspira outros empreendedores do Rapadura Valley, a comunidade local de startups. Mirando pelo retrovisor, Anderson destaca o principal motivo de orgulho na trajetória da Agenda Edu:
“O que faz brilhar os nossos olhos é a quantidade de escolas que já atingimos. Esse é um mercado extremamente tradicional, entrar com tecnologia demanda esforço e é difícil ganhar escala, são organizações que se movem de forma muito devagar…. Então o nosso case de alavancagem é o que temos de mais gratificante: ver o quanto crescemos ao longo desses anos.”