Imagine um creme que reconheça as necessidades específicas de cada pele a um nível molecular: se sua pele está com elasticidade ruim, o cosmético faz com que se aumente a produção de elastina; se está envelhecida, estimula a ação dos fibroblastos, responsáveis pela formação do colágeno; se está inflamada, entram ação moléculas com grande capacidade anti-inflamatória, estimulando o tecido conjuntivo.
Não é magia. É tecnologia: o princípio ativo que realiza esses “milagres” já existe e é produzido no Brasil a partir de ingredientes 100% orgânicos.
O Absollue Plénitude, da marca paranaense Biodiversité, possui o que é conhecido como Intui-Moléculaire Technology, ou tecnologia molecular intuitiva, e faz parte da nova era “smart skincare” (cuidado inteligente com a pele, em tradução livre). Desenvolvido numa parceria com o SENAI e com a francesa Sedna-Paris, o produto anti-idade é recomendado pelos dermatologistas mais antenados em suas fórmulas de manipulação.
Com sede em Londrina, a Biodiversité surgiu do desejo de Joyce Cuenca, farmacêutica especializada em cosmetologia, de criar uma linha de insumos para dermocosméticos focada nos biomas brasileiros.
“Quando se fala nisso, se pensa logo na Amazônia. Mas o Brasil tem muito mais a oferecer. Tem o cerrado, por exemplo, com suas plantas que armazenam muitos nutrientes para sobreviver em períodos mais secos. Eu quis explorar”, diz Joyce, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa, que busca aliar a biodiversidade tupiniquim à tecnologia francesa.
Em sociedade com seu irmão, Renan, diretor comercial da empresa, e seu pai, Otacílio, diretor financeiro, Joyce começou em 2009 a pesquisar o mercado para tentar entender o que as pessoas queriam. Bem no início, eles pensavam em produtos para as unhas. Aos poucos, perceberam que havia uma demanda crescente da indústria cosmética por matéria-prima de ponta, sustentável e inovadora.
No ano seguinte, lançaram seu primeiro insumo: os Brazilians Nuts Crystals, cristais esfoliantes de castanha do pará, produzidos com a casca da castanheira, que geralmente é descartada.
“Nós transformamos o lixo em luxo, num beneficiador orgânico para a pele, que nos rendeu nosso primeiro prêmio Finep de Inovação, em 2013”, lembra Joyce.
Na sequência, vieram mais dois prêmios Finep (em 2014 e 2016), um prêmio SENAI de Inovação Tecnológica em 2015 e um lugar entre os finalistas do Vogue Ecoera 2016. A partir daí, novos frutos e plantas brasileiros entraram no cardápio da Biodiversité, como o baru, uma castanha do cerrado.
No caso do Absollue Plénitude, uniram-se as propriedades da proteína molecular do trigo de Champanhe, região francesa, com as dos extratos de baru e de castanha do pará. “Essa combinação ativa mais de cem genes da pele e estimula a produção da sirtuína 1, enzima que estimula os genes da longevidade das células”, diz Joyce.
A mistura perfeita foi produzida com a ajuda financeira e da estrutura dos Institutos de Inovação e Tecnologia do SENAI. A parceria deu tão certo que vai se repetir em 2019, uma vez que a Biodiversité acaba de ser selecionada (pelo Edital de Inovação para a Indústria) para desenvolver um projeto de fotoproteção infantil, com um tecido hipoalergênico e sustentável.
Não é a única novidade para 2019. No segundo semestre, a empresa vai lançar uma linha completa de maquiagem. Serão seus primeiros produtos finais, pois até agora a Biodiversité trabalha apenas com insumos, matéria-prima para dermocosméticos, usados principalmente no mercado de farmácias de manipulação. Em sintonia com a proposta de inovação, o princípio ativo do Absollue estará presente em todos os itens de maquiagem.
“Será uma maquiagem especial, que vai tratar a pele ao mesmo tempo”, conta Joyce, ressaltando que seus produtos, além de orgânicos e sustentáveis, são testados apenas em culturas de células in vitro e, posteriormente, em voluntários humanos. “Não fazemos testes em animais, a não ser o animal humano. E todo o resultado que a gente vê in vitro a gente também vê no organismo vivo.”
O portfólio hoje abrange desde o Green Brush, um produto para escova progressiva de cabelo que usa taninos da castanha e do baru, até o Acnulight, que aplica propriedades antibacterianas, antioxidantes e anti-inflamatórias da casca da árvore do mangostim (fruto oriundo do Sudeste asiático e cultivado no Brasil) para inibir a acne. Da francesa Borgonha vêm as uvas que fornecem o princípio ativo para tratamento de pele encontrado em outro item, o Beautifiqué:
“Nós comercializamos produtos próprios e produtos das empresas francesa Sedna e japonesa ITO. Essa parceria faz com que exportemos também para França e Japão, além de Coreia do Sul e Tailândia”, conta Joyce.
A aposta na “cosmetologia do bem”, conceito que alia tecnologia, beleza, saúde e sustentabilidade, rendeu à Biodiversité o selo Cosmos Ecocert, uma certificação europeia de cosméticos naturais e orgânicos. Joyce acredita que um dos segredos da empresa é o seu olhar para fora dos limites do laboratório.
“Claro que o cuidado na pesquisa e desenvolvimento dos produtos é fundamental, mas não adianta produzir o que o mercado não quer consumir. Eu viajo muito, converso muito com as pessoas. Porque preciso entender o que as pessoas desejam e o que precisam.”
Prestes a completar sua primeira década, a Biodiversité está em crescimento, esbanjando saúde. Inovar faz bem para a pele, como provam os produtos da marca, que ajudam a combater as manchas, rugas e outros sinais do tempo.