Ciência é assunto chato. É coisa de quem atua na área de exatas. É difícil, para poucos. Estes são alguns dos mitos que o Instituto 3M decidiu derrubar com a criação da Formação para a Prática da Ciência na Educação Básica, o Desafio de Inovação, um curso gratuito oferecido em parceria com a USP anualmente para profissionais da rede pública. Na prática, lá eles aprendem como orientar projetos de ciência de alunos do ensino fundamental e médio. Não tem espaço para molecagem: são 110 horas de aulas, 28 delas presenciais, além de uma série de atividades ao longo da formação. Em 2018, em sua sexta edição, o curso aconteceu entre março e novembro e garantiu a nova aptidão a 30 professores.
“Promover a ciência e a tecnologia é a missão global da 3M, por isso investimos em educação nessa área. Queremos que os professores de escolas públicas sintam-se seguros para estimular os alunos”, conta Liliane Rodrigues, 35, coordenadora de projetos sociais do Instituto 3M. Para ter um impacto tão relevante, o curso é gratuito, para profissionais da rede pública, e feito com a autorização da Secretaria Estadual da Educação, que ajuda na divulgação para os professores sempre que as inscrições são abertas. Ao investir tempo na formação, os profissionais ganham pontos para progredir na carreira, conta Liliane.
“Queremos fomentar o desenvolvimento da chamada STEM, que inclui Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. O ponto-chave é que, com o curso, não investimos só na molecada, mas fomentamos este olhar nos professores. As coisas ganham mais força assim”, conta Paulo Gandolfi, vice-presidente do Instituto 3M e, a partir de janeiro de 2019, novo diretor de pesquisa e desenvolvimento da companhia.
AFINAL, QUEM PODE FAZER CIÊNCIA?
Se é para derrubar mitos, um dos primeiros é o de que os projetos científicos só podem ser desenvolvidos na área de exatas ou biológicas, como conta Liliane:
“Mostramos para o professor que é possível fazer pesquisa em qualquer área. O ideal é estimular o aluno a encontrar um problema que o incomode e a desenvolver um projeto de pesquisa para resolvê-lo”
Ela cita o exemplo de um professor de Educação Física que foi procurado para orientar o projeto de alguns alunos e ficou absolutamente perdido. Os estudantes queriam a ajuda dele para desenvolver um dispositivo que ajudasse pessoas cegas a praticar corrida sem precisar de um acompanhante do lado, já que nem sempre o ritmo das duas pessoas é o mesmo. Liliane conta que a coordenação pedagógica da escola recomendou que ele se inscrevesse na formação do Instituto 3M. “No fim ele ajudou o grupo a desenvolver um sensor que fica no ouvido de quem tem deficiência visual e alerta para evitar que o atleta queime a faixa”, lembra Liliane.
O CAMINHO PARA INSTIGAR ALUNOS A INVESTIR NA CIÊNCIA
Para a formação ter mais sentido, o Instituto 3M arremata o projeto com a Mostra 3M de Ciência e Tecnologia, um evento anual que exibe e premia os projetos de estudantes de 35 cidades do interior de São Paulo, da macrorregião de Campinas e de Ribeirão Preto. Os projetos passam por uma pré-seleção para estar lá. A edição de 2018 aconteceu no fim de novembro e teve recorde de inscritos, com 525 projetos para 102 vagas.
O Instituto 3M aponta que o a iniciativa coroa todo o trabalho para fomentar a ciência no ensino fundamental e médio. “É a ponta do iceberg, algo que só acontece com essa qualidade depois de todo o trabalho que fazemos com o curso para professores”, diz Paulo. Assim, de um lado a companhia investe na formação dos profissionais e, do outro, cria um pretexto para que os alunos trabalhem no desenvolvimento de projetos e peçam orientação. “A Mostra de Ciência e Tecnologia é a cenourinha que todo mundo sai correndo atrás”, brinca o executivo.
Enquanto a formação é oferecida apenas para quem dá aula na rede estadual, o evento é aberto a todos e coloca alunos de instituições públicas para competir com os que estudam em escolas particulares sem nenhuma desvantagem, assegura a coordenadora. O evento abrange projetos em sete áreas de conhecimento científico: agrárias, biológicas, ciências exatas e da terra, humanas, saúde, sociais e engenharia.
Ali não tem essa de que quem é de humanas só faz miçanga: todo mundo se adéqua aos parâmetros científicos, independentemente da natureza do projeto. Os pré-requisitos da mostra acompanham os do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), instituição que atua na pesquisa e desenvolvimento para diversos setores. Assim, conta Liliane, o estudante pode aplicar novamente e dar continuidade à pesquisa quando entrar na faculdade.
Os projetos, diz, têm sempre que partir do aluno. “Vemos muitos trabalhos relacionados com questões ambientais e de melhoria da qualidade de vida das pessoas”, conta a coordenadora. Na edição de 2018 da Mostra foram reconhecidos 21 projetos, três em cada área de conhecimento. Os vencedores impressionaram pela qualidade elevada. Nada ali parecia trabalho de escola, com pesquisas sobre educação financeira, racismo e, ainda, projeto de alternativa aos poluentes canudinhos plásticos.
Os alunos reconhecidos receberam medalha, troféu e prêmio em dinheiro (R$1.100 reais para o primeiro lugar). Os três projetos com melhor nota de toda a Mostra também garantiram vaga na Febrace, Feira Brasileira de Ciência e Engenharia, que acontece em março de 2019. A pesquisa que se destacar no evento conquista uma vaga para concorrer na feira de ciências internacional, nos Estados Unidos.
PROFESSOR COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO
Em todo o processo, a busca do Instituto 3M é por reforçar o papel do professor como agente de transformação. “Os profissionais que realmente abraçam o projeto fazem muita diferença”, diz Paulo. Ele lembra que a coisa toda só funciona com muita paixão. Liliane conta:
“É muito legal ver professores que não se conformam com as dificuldades, com a falta de estrutura. É um esforço coletivo, com muito trabalho fora de hora, nos fins de semana, e mesmo assim eles vão em frente”
Gislaine Aparecida Barana Delbianco, 56, professora da Etec Trajano Camargo em Limeira (SP), sabe bem dos desafios envolvidos, mas diante dos potenciais bons resultados, sempre acaba topando orientar uma série de projetos. “Ela é conhecida por ser rigorosa, por cobrar demais. Os alunos muitas vezes se assustam, mas depois entendem quando alcançam bons resultados”, conta Liliane. Gislaine admite que não facilita para ninguém: “Nós não podemos passar a mão na cabeça. Temos que preparar os estudantes para os desafios que eles vão enfrentar na vida.”
Em 2017 a postura exigente da educadora fez um grupo de alunos reclamar. Em seguida, no entanto, o trabalho deles se destacou na Mostra 3M, foi para a Febrace e, depois de ganhar reconhecimento na feira nacional, acabou escolhido para representar o Brasil na feira de ciências dos Estados Unidos. “Eles voltaram da viagem agradecendo a ela”, conta Liliane, rindo da firmeza e da paixão com que Gislaine trabalha. ”Sou professora há 30 anos e hoje não consigo mais dar aula sem estimular o desenvolvimento de projetos científicos”, conta ela, que sabe muito bem o que é estar na posição dos alunos, já que nunca parou de estudar: é formada em Química, fez mestrado, doutorado e o curso do Instituto 3M.
“Temos muitas histórias legais de profissionais que passaram pela formação”, conta Liliane. Ela cita também o caso de Carol Fernandes, professora de história, mulher negra, que é mãezona dos alunos, sempre procurada para orientar projetos científicos, ainda que atue na área de humanas. “Ela pega uma série de projetos relacionados principalmente com diversidade e inclusão”, conta.
PARA MUDAR O MUNDO, COMECE PEQUENO
Com as duas frentes – o curso e a Mostra, o Instituto 3M busca empoderar professores e alunos, conta Liliane. “Damos mecanismo para que as pessoas se desenvolvam. Todo mundo sente que pode fazer alguma coisa, pesquisar, levantar um tema capaz de mudar o mundo, ainda que seja devagar.” Ela diz que mesmo os estudantes que torcem o nariz para a escola tradicional acabam se engajando quando precisam trabalhar em projetos em que têm interesse genuíno. Segundo ela, eles superam os mais diversos obstáculos para fazer uma boa entrega. “São histórias de transformação mesmo”, diz.
Os resultados são claros para quem visita a Mostra de Ciência e Tecnologia: um monte de adolescentes com a pesquisa na ponta da língua, prontos para apresentar seus projetos. O Instituto 3M fez recentemente uma pesquisa com estudantes, professores e pais que já se envolveram com a iniciativa nestes seis anos. Entre os 985 alunos entrevistados, 90% disseram que o programa ajudou no rendimento escolar e 96% acreditam que o projeto contribuiu para a escolha da profissão. “Além disso, tanto pais quanto professores concordaram que os estudantes ficaram mais confiantes e comunicativos para expor seus projetos”, conta Liliane.
Segundo ela, a iniciativa tem um efeito multiplicador. Alguns jovens que participam entram na faculdade e, mais tarde, eles mesmos passam a orientar projetos científicos em escolas. Por enquanto, não há nenhum colaborador da 3M que tenha passado pela Mostra, mas o objetivo é mudar isso em breve. “Quero ter a alegria de contratar alguém que começou sua atuação científica por lá”, diz Paulo. Assim, contrariando o senso comum, ele reforça um dos pilares da companhia: a ciência é para todos.
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