Dimas Timmers, 32, levou 20 anos para ser diagnosticado com distonia mioclônica, uma síndrome rara que afeta o Sistema Nervoso Central e provoca espasmos com os quais ele precisa conviver diariamente. A demora no diagnóstico teve um grande impacto na sua vida, tanto pelo estresse da busca como pela vontade de fazer algo que ajudasse os médicos a acelerar o diagnóstico de doenças mais complicadas. Foi com esse intuito que ele começou a trabalhar com Inteligência Artificial e tornou-se o empreendedor por trás da Nindoo, startup que desenvolveu uma plataforma digital que permite a qualquer pessoa ter acesso e até criar sua própria IA. A empresa está em operação desde dezembro de 2017 e, além de Dimas, tem como sócios Rodrigo Hernandez, 29 e Gian Franco Rocchiccioli, 46.
A Nindoo é uma plataforma digital que se colocar entre desenvolvedores e usuários. Os desenvolvedores podem disponibilizar suas aplicações na biblioteca de modelo e, do outro lado, qualquer pessoa pode acessar a plataforma e buscar, nessa biblioteca, algum modelo – ou combinação de modelos – que ajude a resolver seu problema.
“São pequenos blocos de tecnologia que vão se juntando. A plataforma tem uma IA que organiza esse processo de informação e modula o desenvolvimento da solução”, explica Gian, que exemplifica: “Se um médico precisa ler um documento muito grande, ele pode subir o documento para a plataforma, acessar um bot e começar a fazer perguntas que esse bot vai respondendo de acordo com o que tem no documento. A pessoa consegue fazer isso sem precisar interagir com um profissional de tecnologia”.
Como a própria plataforma é uma IA, os usuários podem perguntar para ela como resolver a sua demanda e o sistema vai em busca do melhor modelo disponível para aquela finalidade. Se o que o usuário precisa não puder ser atendido pela plataforma, vai se tornar uma demanda para os desenvolvedores. Dimas fala a respeito:
“O que fazemos é interpretar o problema do usuário e achar o melhor modelo possível para resolvê-lo. Sem que ele precise entender de desenvolvimento de software”
Ele prossegue: “A gente abstrai a parte complexa da AI e deixa de uma forma bem natural para o usuário”. Essa plataforma que ele descreve estará em funcionamento em fevereiro. A forma de pagamento (dos usuários) e remuneração (dos desenvolvedores) ainda não está totalmente definida.
A ideia é que funcione como uma loja de aplicativos para celular e os usuários paguem pela aplicação que forem utilizar. Os desenvolvedores poderão subir seus modelos gratuitamente, mas a Nindoo ficará com uma porcentagem, ainda não definida, sobre as vendas. A ideia, segundo Gian, é deixar a lei de mercado reger o valor que cada um vai cobrar por aplicação. “O que temos são dois modelos de negócios e o desafio duplo de atrair consumidores e desenvolvedores”, diz Gian.
Em 2018, a Nindoo foi uma das startups selecionadas para estar na aceleradora Estação Hack, programa desenvolvido pelo Facebook e Artemisia que potencializa empreendedores que querem gerar mudanças positivas na sociedade.
A expectativa dos sócios é faturar, em 2019, um milhão de reais. Em 2018, o faturamento da Nindoo foi de 590 mil reais com o trabalho de consultoria de IA para empresas, serviço que continuará sendo oferecido, porém tendo a plataforma como ferramenta. “Nosso foco nessa parte de consultoria é chegar em uma solução mais barata para que pequenas e médias empresas possam usar”, conta Dimas.
Em vez de criar projetos personalizados, eles querem usar a plataforma como uma ferramenta educacional, de capacitação das empresas para que possam aprender a fazer seus projetos usando os recursos da plataforma. “Queremos fomentar o ecossistema para que não dependam da gente. O ideal é que a implantação em pequenos negócios seja feita por empresas terceiras porque o nosso foco é ser fabricante de tecnologia”, diz Dimas.
QUANDO PIVOTAR É PARTE DO PLANO INICIAL DO SEU NEGÓCIO
Pivotar o negócio — de uma consultoria para uma plataforma online — está na estratégia da Nindoo desde 2017, quando começou a parceria entre Dimas e Gian. Publicitário e empresário, ele é um dos sócios da Tismoo, startup de biotecnologia focada em autismo e transtornos neurológicos, e se apaixonou pela ideia e pela paixão de Dimas por IA.
Antes da Nindoo, Dimas era sócio da H-Science, focada no desenvolvimento de IA para o diagnóstico de doenças raras, e da Zurve, que oferecia consultoria em IA para empresas na área de educação. Para resgatar um sonho antigo, de criar algo grande e de alto impacto, ele deixou essas empresas para começar a Nindoo quase do zero. Quase porque, no acordo feito com o ex-sócio, ele ficou com os clientes de saúde e educação. Por isso, não houve investimento inicial no negócio, já que ele começou com clientes ativos. Ele fala do sonho:
“A minha paixão sempre foi criar algo grande e de impacto. Acreditamos que a tecnologia deve ser transparente: não deve haver nada entre o usuário e a resolução de problema dele”
E prossegue: “Na época a gente tinha um sistema operacional inteligente, mas o propósito de atingir mais pessoas não estava acontecendo. Foi quando convidei o Gian porque ele entende muito bem a minha visão. E começamos a Nindoo com esse propósito de desenvolver uma inteligência que é uma tecnologia para as pessoas”.
TODO SONHO ENCONTRA OBSTÁCULOS NO MUNDO REAL
Em um ano de empresa, eles entenderam que para não perder o foco do propósito (democratizar e descentralizar a IA), precisam ter uma equipe que esteja alinhada a esse mesmo objetivo. Um dos erros que cometeram, eles dizem, foi contratar pessoas que não estavam nesse caminho. “Contratação é um dos processos mais difíceis porque é preciso ir atrás de pessoas que tenham afinidade com o propósito. Nós três estamos muito alinhados e temos o desafio de encontrar gente que entenda e consiga visualizar aquilo que a gente quer”, diz Dimas.
Hoje, a Nindoo tem quatro funcionários e a meta é fazer novas contratações ainda neste começo de 2019. Para isso, eles estão fazendo uma rodada de investimento. O desafio é construir uma cultura de trabalho que esteja alinhada com uma das principais premissas da empresa, que é a descentralização. Gian explica: “Estamos tentando construir um modelo descentralizado de gestão, com autonomia para as pessoas. Não quero que a cultura desrespeite a premissa do nosso modelo de existência. Já erramos ao trazer gente que gosta da ideia mas está alinhada ao modelo tradicional. Não funcionou”.
Atrair consumidores para a plataforma será um grande desafio para a Nindoo, creem os sócios, pois ainda que a AI esteja presente no nosso dia a dia sem a gente perceber e as pessoas gostem de usá-la, a Inteligência Artificial ainda causa repulsa em muita gente.
Um dos tabus que precisam ser derrubados é o de que a IA vai substituir o homem, aumentar o desemprego e causar mais sofrimento para as pessoas. “Tudo que se fala pra provar o valor da inteligência artificial hoje em dia está relacionado com comparações com a inteligência humana. Isso cria nas pessoas o medo de substituição. Essa comparação só é possível porque as pessoas fazem muita coisa que uma máquina deveria fazer enquanto elas fazem bom uso de suas vidas”, diz Gian. Para ele, a AI vem para potencializar as habilidades e a inteligência do ser humano.
Dimas, que com a Nindoo resgatou um sonho antigo que estava guardado, acredita que a IA pode ajudar as pessoas a serem mais realizadas. “Podemos ajudar as pessoas a serem mais criativas e desenvolver aqueles potenciais que estavam guardados. Às vezes as pessoas vivem uma vida frustrada porque fazem um trabalho repetitivo e cansativo”. O caminho vai ser longo, mas com uma ajuda da inteligência artificial, pode ajudar muita gente!
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