Jornalista com mestrado em Mídias Digitais, Diana Assennato Botello já estampou capas de revistas e em 2014 foi eleita inovadora do ano pela revista Proxxima. Mas como acontece com todo mundo, a vida deu voltas, seu negócio não evoluiu como esperado, ela se reinventou e recomeçou. Agora, mais experiente e madura, ela criou o Ada, veículo que fala sobre tecnologia, internet e cultura digital para mulheres, e está pronta para fazer seu negócio crescer e prosperar.
Como surgiu a ideia de empreender e criar a Arco?
Morei em Londres durante dois anos. Enquanto eu estava lá fiz mestrado em mídias digitais e comecei a trabalhar em um instituto de pesquisa que faz progressões para o futuro, baseando-se em tecnologias que a gente já tem hoje em dia. Durante essa fase eu fiz uma pesquisa intensa sobre o futuro do e-commerce e descobri várias iniciativas, produtos e serviços que combinavam muito com o mercado brasileiro, pelo fato de sermos mais sociáveis e gostarmos de interagir. Aí voltei para o Brasil com a ideia de criar uma ferramenta de pagamento que funcionasse para compras no Instagram. Convidei uma empresa de tecnologia para ser minha parceira, conseguimos que o Instagram liberasse algumas licenças necessárias e em 2012 começamos a Arco, uma plataforma de e-commerce que, através do uso de hashtags e do PayPal (uma ferramenta de pagamento online), conectava lojas e consumidores.
E como a empresa se saiu?
Em 2016 precisamos fechar, foi bem frustrante, mas eu aprendi muito neste processo. A Arco tinha sido eleita a Startup do ano, saia em capa de revista, mas na hora de colocar a mão no bolso, os investidores tiveram medo por se tratar de algo que não havia sido testado antes. Mas durante a Arco percebemos que alguns dos nossos clientes precisavam de ajuda para falar melhor, como postar, e começamos a dar consultoria de forma gratuita. Vimos que isso tinha um valor e, quando a Arco fechou, criamos a Cobalto, uma consultoria de narrativas digitais para pequenos negócios. Porém consultoria é algo difícil de escalar e de dar dinheiro, e este projeto, no momento, está dormente. E aí, acabei seguindo para outro projeto, o Ada.
Com surgiu o Ada?
Nasceu em 2014 como um projeto paralelo, um blog no qual falávamos do uso crítico da tecnologia, mas acabamos desanimando, deixando de lado. Aí no final de 2017 a Emily Canto Nunes, com quem trabalhei e que durante muito tempo foi uma das únicas jornalistas a cobrir tecnologia nos chamou para conversar e mostrou que as empresas de tecnologia não tinham espaço para falar com as mulheres e que o Ada poderia ser muito relevante neste sentido. Ela entrou como sócia, deixei meu emprego (na época eu trabalhava em uma agência de branded content) e mergulhei no projeto para fazer o Ada acontecer. Por enquanto só eu estou totalmente dedicada ao negócio. A Natasha Madov mora em Nova Iorque e trabalha com gadgets, a Emily tem seu emprego como especialista em conteúdo na Oracle, mas a ideia é que um dia todas estejam voltadas exclusivamente para o Ada. Nossa estrutura é enxuta, temos uma repórter fixa e um time de colaboradores que acionamos conforme a demanda.
Do que se trata o Ada?
Temos dois braços: o principal é o editorial, veículo de informação que fala de tecnologia, cultura digital e internet com uma ótica feminina. E em segundo temos o Estúdio Ada, que produz conteúdo para marcas que querem se comunicar melhor com mulheres, conectá-las para falar sobre tecnologia. Me considero uma nerd e o Ada nasceu desse meu gosto por falar de tecnologia. Eu via que outras mulheres, apesar de serem usuárias, tinham um bloqueio e um receio para se aprofundar e conhecer mais sobre o tema. Parte da culpa disso é que a mídia não conversa sobre tecnologia usando a língua da mulher. Nosso desejo era diversificar esse universo, trazer essa mulher para perto, ouvi-la mais, entender suas necessidades e explicar como a tecnologia muda a sua vida e pode torna-la mais autônoma. Isso é uma coisa que os veículos tradicionais não fazem. Além disso, começamos recentemente a criar um banco de dados de mulheres que já trabalham com tecnologia, porque existe uma grande demanda, diversas empresas querem diversificar seus times e nos pedem indicações. Há várias comunidades femininas que já atuam nessa área e que estão nos ajudando a criar esse banco de talentos.
Fechar uma empresa é frustrante. Quais aprendizados você tirou dessa experiência?
Entendi a importância de estudar muito bem o mercado. É preciso pesquisar, conversar e ouvir mais as pessoas. Outro aprendizado: escolher muito bem nossos parceiros. A sociedade é uma loteria, mas é importante identificar no parceiro ou no sócio coisas que você não tem, para que a relação seja complementar e rica. Aprendi, também, que para prosperar é preciso se dedicar demais. Como empreendedora a gente trabalha muito mais do que imaginava.
E como tem sido os medos e desafios neste primeiro ano do Ada?
Os medos são sempre os mesmos, a questão é que a gente aprende a lidar com eles. Tenho procurado entender quanto tempo e quanta energia cada atividade merece. Quando a gente começa a empreender, tudo é urgente, mas com a experiência começamos a identificar o que é ou não prioridade. Eu sofro de depressão bipolar, e sei que o estresse é um dos principais gatilhos para as crises. Tenho consciência que preciso ter cuidado, já que empreender é viver na insegurança. Então para mim o equilíbrio de corpo e mente é fundamental. Com relação ao negócio em si, um desafio que venho superando é aprender finanças. Antes eu delegava para um sócio ou contratava alguém para fazer, não me interessava pelo assunto, mas agora sei que cuidar da saúde financeira da empresa é parte integrante da gestão, não tem como deixar de lado. E isso também me ajuda a identificar o que é prioridade ou não.
Qual sua maior conquista?
“Para mim a vida é uma eterna subida de montanha. Chego lá em cima e pergunto: Qual a próxima escalada? Mas acredito que minha maior conquista é saber que o que eu faço chega até as pessoas, saber que o que eu produzo é útil para alguém. Outra conquista importante é conseguir equilibrar minha vida pessoal e profissional”.
Qual seu sonho? O que ainda falta realizar?
Eu quero que o Ada seja uma ferramenta para conectar todas as mulheres que trabalham com tecnologia no Brasil, que a gente possa ajudar, divulgar e potencializar todas essas pequenas iniciativas que acontecem pelo país, e são milhares. E eu gostaria que a indústria e as empresas de tecnologia começassem a nos chamar para ouvir o que a gente tem a dizer. Isso já está acontecendo de uma forma indireta, mas seria ótimo que acontecesse de uma maneira mais organizada.
Se você pudesse voltar no tempo e refazer uma decisão, o que seria?
“Eu acho que na Arco cometemos erros de vaidade. Como logo no início ganhamos muita visibilidade e prêmios, ao negociar com investidores fomos muito audaciosos e oferecemos uma porcentagem muito pequena para um valor muito alto. Sabíamos que a ideia era genial, mas ideias geniais, por si só, não se sustentam. Hoje penso que eu deveria ter estudado mais, tido mais embasamento sobre investimentos para poder negociar. Faltou humildade”.
Se você pudesse dar uma dica para as empreendedoras, qual seria?
Tenha consciência do trabalho que você terá pela frente. Não menospreze o desgaste que você vai ter. Cuide do equilíbrio mental, físico, profissional e pessoal, porque é isso que garantirá a longevidade do empreendedor. E converse com as pessoas, procure ouvir, mais do que falar, pesquise, peça opinião, tenha humildade de pedir feedback e inteligência para interpretá-lo
Quais seus planos para o futuro?
Quero que o Ada vire um organismo bem organizado, que funcione por conta própria. Meu sonho é começar um novo empreendimento, quero desenvolver um algoritmo. Já tenho uma visão do que eu quero desenvolver, venho conversando com algumas pessoas, mas ainda preciso estudar muito.
Para saber mais:
O que faz: Um veículo que fala sobre tecnologia, internet e cultura digital para mulheres.
Sócios: 3
Funcionários: 2
Sede: São Paulo
Início das atividades: março de 2014
Contato: [email protected]
Esta matéria pode ser encontrada no Itaú Mulher Empreendedora, uma plataforma feita para mulheres que acreditam nos seus sonhos. Não deixe de conferir (e se inspirar)!
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