Já é mais do que unanimidade que praticar exercícios físicos faz bem à saúde, mas também pode ser bom para as ideias de negócio. Gustavo Diniz, 31, é a prova disso. Formado em Ciência da Computação, ele trabalhava em uma multinacional em Belo Horizonte e, nas horas vagas, frequentava academias de musculação. Entre uma série de levantamento de peso e outra, observou que os professores gastavam muito tempo preenchendo, no papel, as fichas de exercícios dos alunos. Resolveu, então, usar as horas livres para criar um software de gestão para academias, o Pro-Treino.
A plataforma reúne funções como controle da circulação de pessoas via catracas, pagamentos e planilhas financeiras com indicadores em tempo real, um aplicativo para os alunos acompanharem seus treinos e se comunicarem diretamente com os professores. E o principal: geração automática de treinos, economizando, segundo Gustavo, até 96% do tempo antes gasto nesta função.
Em uma conta por alto, Gustavo calculou que uma academia de médio a grande porte tem cerca de 600 alunos. Cada um deles troca de ficha de treino a cada dois meses. Com um professor e um estagiário por turno, seriam cerca de dez fichas por dia por profissional, que gastariam até seis horas diárias na função. Isso acaba reduzindo a atenção que dão aos alunos, o que não é bom nem para os praticantes nem para a academia. Gustavo conta:
“Criei um modelo de cadastro de ficha de treino para ser preenchida e impressa em A4, coloquei online e as pessoas passaram a usar, mesmo antes de ter o aplicativo”
Com o interesse do público, especialmente personal trainers, ele resolveu ir mais a fundo na ideia. Matriculou-se em várias academias na cidade — frequentou quase todas que havia perto de casa e do trabalho, para ver se a morosidade na criação dos treinos era generalizada. E era: “O que eu mais via era professor debruçado no balcão o dia inteiro fazendo ficha”.
TREINOS CRIADOS PELA AI, MAS COM A SUPERVISÃO DE UM PROFESSOR
Foi após um programa de pré-aceleração da Lemonade que o negócio deu um grande passo: Gustavo arranjou um sócio da área de Educação Física, Camilo Oliveira Geraldi, 38, que tinha um estúdio na área e já era cliente do Pro-Treino. Ele deu toda a assistência técnica necessária para criar a base de exercícios da plataforma e o fundador foi atrás de desenvolver os algoritmos para criar treinos automáticos.
A Inteligência Artificial aplicada à musculação funciona assim: o professor faz a avaliação física do aluno e coloca no sistema os dados — como peso, idade, altura, percentual de gordura e massa magra, capacidade cardiorrespiratória, flexibilidade e desvios posturais. Os algoritmos geram uma ficha com exercícios de acordo com as características dadas, que passa pela revisão do professor. “O treino é criado em cinco segundos, o professor faz as alterações manualmente, se julgar necessário, em cerca de cinco minutos”, afirma Gustavo.
Esse tempo deve ser ainda mais reduzido, Gustavo acredita que será mesmo eliminado, quando o sistema de machine learning, atualmente em desenvolvimento, for colocado em uso. O empreendedor afirma:
“À medida que o sistema for coletando dados, como quantas vezes você treinou, quantos quilos de carga aumentou, vai analisar ainda melhor qual o próximo exercício a oferecer”
Atualmente, os treinos podem ser programados para um período de até um ano, com troca automática. O gerador oferece, ainda, exercícios para ajudar a corrigir 90% dos problemas posturais que as pessoas normalmente têm, como ombro protuso, joelho rodado e braço caído. Se o objetivo da pessoa é emagrecer ou ficar mais forte também é gerado um treino específico. “O uso da machine learning vai aumentar as combinações de exercícios porque levará em conta não só os dados pessoais, como também os de treinos de várias pessoas com o mesmo perfil dentro da plataforma”, diz Gustavo que, para chegar até aqui, precisou de disciplina de atleta.
O APOIO DA ESPOSA FOI ESSENCIAL NA TRILHA EMPREENDEDORA
O golpe de sorte de Gustavo foi ter começado pela brecha da concorrência no mercado de softwares para gestão de academia, que ainda não oferecia uma solução para agilizar as fichas de treino. Porém, já com uma cartela de clientes, composta principalmente por personal trainers, em 2015, Gustavo percebeu que para crescer precisaria conquistar as academias — que têm maior potencial de pagamento. “Ou eu abraçava a gestão administrativa, com controle de acesso e finanças no sistema, ou desistia”, conta. “Era fim de ano e minha esposa, Julcele, estudava para concurso. Propus a ela: ‘se eu sair do emprego para tocar o Pro-Treino, você me ajuda na parte administrativa?’ Ela topou.”
Julcele de Souza Oliveira Diniz, 33, era formada em Direito e não tinha experiência com departamento comercial. Ela começou a fazer cursos de venda no YouTube. A meta era ter até o final do ano seguinte, 2016, dez academias como cliente.
Dezembro se aproximava e o Pro-Treino estava com apenas quatro. Foi quando venceram uma licitação do Sesc de Brasília, que buscava um sistema de gestão de treino para oito de suas unidades. E a meta foi ultrapassada.
Não antes de passar por apuros. “Já tínhamos participado de uma licitação do Sesc de Porto Alegre. Compramos passagem para a noite anterior à apresentação presencial. O voo foi cancelado. Partimos no dia seguinte pela manhã, mas chegamos alguns minutos atrasados e fomos desclassificados”, lembra Gustavo, sem rancores. “Faz parte. Em Brasilia deu certo e eu não precisei mudar uma vírgula do produto, queriam exatamente o que eu já tinha pronto”, afirma.
ELE SUOU PARA ATINGIR O QUE FOI CONQUISTADO ATÉ AQUI
O salto olímpico do Pro-Treino, no entanto, veio apenas em 2017, quando a startup recebeu seu primeiro e único investimento financeiro, de 80 mil reais, além de uma aceleração, ambos do Seed (Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development), programa de aceleração de startups do governo mineiro. “Durante o programa de aceleração, fechamos melhor nossos processos comercial, de produto e marketing”, diz Gustavo.
O sistema de vendas é o de assinatura, com pacotes que variam de 98,90 a 395,90 reais por mês, de acordo com funcionalidades e número de usuários.
O marketing é focado em feiras especializadas, quando a equipe vai para apresentar o software. “Se o dono da academia não estiver procurando, dificilmente vai comprar o produto”, afirma Gustavo, justificando porque não aposta em anúncios em mídias sociais.
O ano de 2018 fechou com mais dois desenvolvedores na equipe e 34 academias como clientes. “Eram 12 no início de 2017”, fala Gustavo. Como um bom esportista, ele gosta de desafios e até agora alcançou todos propostos a cada ano. O atual é chegar ao fim de 2019 dando lucro. Para atingir seu objetivo, o Pro-Treino focará na ampliação da cartela de academias parceiras, que já conta com estabelecimentos em Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Ceará e Rio Grande do Sul. “Com minha atual estrutura, consigo dobrar a base de clientes”, conta. O faturamento é de cerca de 20 mil reais mensais, em média.
Fazendo um balanço geral da história da startup, Gustavo diz que poderia ter procurado um programa de aceleração antes, mas que é possível um negócio crescer sem dinheiro externo (levando em conta, claro, que ele é cientista da computação e colocou seu próprio trabalho no negócio, enquanto gastava suas economias para viver). “Dá para fazer uma empresa do zero, sem investimento? Dá. Mas tem que ter muita disciplina e persistência, não é em um mês. Muita gente fala: ‘minhas coisas não dão certo, não tem investimento’. Não tive nos três primeiros anos da empresa e ela está aí”, conta. É como a meta de emagrecer ou ganhar massa muscular: tem que seguir firme dia a dia, colhendo os louros uma série por vez.
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