Thiago Lima começou a programar aos 12 e, dois anos depois, passou a trabalhar na área. Aos 17 anos, já era sócio de uma empresa de desenvolvimento de software. Mas, aos 19, entrou em uma crise existencial e resolveu largar tudo para se dedicar a outra paixão — ser lutador profissional de MMA. Após cinco lutas e uma fratura exposta, voltou ao mundo da programação e se reencontrou. Fez uma pós, no mínimo curiosa, em Filosofia Aplicada ao Mundo dos Negócios e se tornou empreendedor. Hoje, aos 28, é CEO da LinkApi, uma desenvolvedora de soluções de integração de software na nuvem no modelo SaaS (Software as a Service).
Fundada oficialmente no início de 2018, mas “rodando” desde agosto de 2017, a startup cresce a 12% ao mês, fatura cerca de 400 mil reais mensais e acaba de receber um aporte de 5 milhões de reais. O dinheiro vem de Jander Martins, do fundo de investimento Cassis Capital; da Wayra, aceleradora da Telefonica; e de Daniel Mendez, fundador da Sapore, empresa de restaurantes corporativos, e vai impulsionar a internacionalização do negócio. “Estamos com 52 funcionários e de mudança para um escritório maior, com capacidade para 150 pessoas. Esperamos chegar aos 100 funcionários e crescer 300% até o fim do ano”, afirma Thiago. Nascido em uma família da periferia de São Paulo, ele fala sobre a própria trajetória:
“Minha mãe era professora e eu estudava em escola particular, com bolsa. Via vários amigos comprando coisas que eu não podia, e comecei a trabalhar com programação para poder comprar eletrônicos”
Isso porque os colegas diziam que o ramo dava dinheiro. “Nem se falava de transformação digital na época e, sim, de informatização. Por curiosidade, comecei a estudar e, automaticamente, a ajudar eles com o que tinham de trabalho freelancer.” Após dois anos, o jovem começou a pesquisar vagas de programador em empresas. “Não tinha quase nada para a minha idade, até pela legislação, mas fui falar com uma consultoria e acabei entrando quase como um menor aprendiz. Comecei a ter ideias e saí de lá para empreender, com 17 anos”, conta. A oportunidade era no mercado de ERP (Enterprise Resource Planning), na esteira da informatização das empresas. Pegou alguns clientes que já atendia como consultor e a empresa ia bem. Mas, após dois anos, bateu a crise pessoal.
DO MUNDO DA PROGRAMAÇÃO PARA O MMA, ELE GANHOU UMA FRATURA EXPOSTA
“Comecei a ter muitos problemas de saúde, desavenças com sócios… Acho que eu era muito jovem para já ter construído aquilo e comecei a ter alguns dilemas entre o ser e ter”, fala Thiago, sobre o primeiro negócio. Ele decidiu, então, vender a empresa e mudou completamente o foco. “Botei na cabeça que não queria mais trabalhar em escritório, com tecnologia, fiquei com uma série de traumas deste mundo, e fui para o esporte.”
O programador se profissionalizou como lutador de MMA, até sofrer um acidente na sua quinta luta (fratura exposta em dois ossos da perna). Neste momento, precisou reviver todo o processo de saber exatamente por qual caminho seguir: “Decidi dar uma oportunidade de novo para a área de tecnologia. Seria um atalho para voltar a atuar em alguma coisa, já que estava sem poder nem andar”.
Thiago entrou em uma empresa já consolidada no mercado de e-commerce com a ideia de ficar um ano e meio e, depois, voltar a lutar. Era o tempo de recuperar o estrago na perna. A empresa, FCamara, tinha uma cultura de incentivo à formação e ao empreendedorismo interno que fez com que ele se reencontrasse no mercado de tecnologia. “Acho que o momento era diferente, minha consciência já era diferente, tinha mais inteligência emocional. Consegui fazer uma trajetória dentro dessa empresa até virar sócio, tendo a oportunidade de montar outras iniciativas lá dentro.” Foi aí que a LinkApi surgiu.
UMA SOLUÇÃO PARA PROBLEMAS QUE AS EMPRESAS NEM SABEM QUE POSSUEM
Ele lembra que integração era uma necessidade em vários projetos da FCamara, mas não havia ferramentas eficientes. “Fazer uma plataforma de integração era uma ideia muito antiga. Com 17 anos, eu já fazia algumas coisas relacionadas à área, mas não havia o produto, eu tinha que usar tecnologias de fora que não funcionavam bem, e não existiam profissionais para mexer. O tempo passou e o que me provocou muito a fazer alguma coisa foi ver a transformação digital entrando para valer no mercado. As empresas passaram a contratar muito mais software. Antes, um ERP resolvia tudo, agora as empresas precisavam de um software de logística, de um CRM, de um ERP e o problema de integração ficou muito maior”, diz.
Em 2015, Thiago foi fazer um curso de Filosofia Aplicada ao Mundo dos Negócios, e lá criou a tese que gerou a LinkApi. “Não fui bem no curso, acho que era tão técnico que ninguém me entendia, mas fiquei com os slides da época e, em 2017, quando a gente montou essa iniciativa de inovação dentro da FCamara, a LinkApi acabou bombando no mercado muito rápido”, afirma.
O projeto saiu do papel em agosto de 2017, quando, já com um grupo inicial de clientes trazido da empresa-mãe, eles montaram um time 100% dedicado à startup, liderado por Thiago, com um aporte inicial de 1,5 milhão de reais do fundo de venture builder Orange Founders, dos fundadores da FCamara.
Mas o que, afinal, faz o sistema da startup? Thiago tenta traduzir, para quem é leigo no assunto, como funciona a plataforma de integração que criou:
“A LinkApi acaba virando uma linguagem universal. Quebra toda a complexidade técnica no processo de comunicação dos sistemas, de uma maneira muito simples e eficiente”
Com um exemplo, usando a Internet das Coisas e os dispositivos conectados em casa, fica mais fácil entender. “Existe uma geladeira nova da Samsung que tem câmeras que mostram o que tem dentro dela. Com a LinkApi, o cliente olha lá se está faltando leite e já faz, automaticamente, uma compra no e-commerce. É possível fazer uma série de inteligências e mecanismos de automação desse tipo pela plataforma”, diz.
Apesar do crescimento consistente, a LinkApi enfrentou desafios neste pouco mais de um ano de atividade. O maior deles é provar que o produto é realmente inovador. Thiago conta que as próprias empresas têm dificuldade de entender o quanto ele pode simplificar os processos. “Trata-se de algo que ninguém ainda conhece. A educação do mercado, hoje, é o maior desafio”, afirma. E prossegue: “Falo de um termo como IPaaS (Integration Platform as a Service) e nenhum cara técnico sabe muito bem o que é isso, pois é algo que existe há no máximo três anos no mundo. No Brasil nem chegou, estamos sendo pioneiros”.
Ele diz que a aproximação com potenciais clientes se dá por meio de contato direto com os CTOs (Chief Technology Officers) das empresas e, até o momento, a maioria dos clientes são de grande porte e em plena transformação digital. Atualmente, a LinkApi tem capacidade de integrar cerca de 150 aplicações, entre plataformas de e-commerce, CRM, ERP, sistemas financeiros e logística, entre outros. As mais de 80 empresas contratantes, como Leroy Merlin, Glovo e Chilli Beans, pagam uma mensalidade a partir de 2.500 reais pelo uso da plataforma, a depender do número de aplicações que serão utilizadas e para quantos clientes a integração será distribuída.
O QUE A IDADE ENSINA: MENOS PRESSA, MAIS RESULTADO
Aos 28 anos de idade e 16 de experiência com o mercado de software, já tendo passado por várias fases na carreira — funcionário, consultor, sócio e CEO — Thiago já se sente à vontade para dar alguns conselhos para jovens que, como ele, entram no mercado cedo, com ambição e vontade de aprender e ganhar dinheiro rápido.
“A principal dica para quem quer trabalhar com tecnologia é a curiosidade. Se você não for naturalmente curioso, dificilmente consegue acompanhar o ritmo de atualização desse mercado”
Ele complementa: “Desde os 12 anos, qualquer coisa que eu via lançando, me atualizava rapidamente, analisava se aquilo fazia sentido para mim ou não, e hoje vejo muitos jovens desatentos a isso. Eles ficam tão focados em ter as informações prontas nas redes sociais e acabam não processando”.
O empreendedor também fala do perigo de se iludir com o crescimento muito rápido. “Acho que esse foi o meu principal ponto de queda emocional. Me via tendo coisas muito rápido, como comprar meu primeiro carro importado com 18 anos e passar no meu bairro achando que era um superstar”, diz:
“Ouvir tantos elogios e essa ilusão temporária de ganhar dinheiro rápido me estragaram. Se eu tivesse mantido a consciência, talvez estivesse muito melhor do que estou hoje”
A paixão pelo MMA continua apenas como hobby e o jovem da periferia de São Paulo e CEO de uma startup bem-sucedida já consegue balancear melhor o tempo, a vida pessoal e as tentações de consumo. “Hoje tenho mais noção do que funciona ou não para mim. Sou muito calculista, não só porque sou programador, mas racionalizo tudo, a ponto de saber se estou desperdiçando meu tempo ou não.” Afinal, tempo não é só dinheiro. Tem muito aprendizado em jogo (ou no ringue, se Thiago preferir).
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