A leitura aparece só em 10º lugar entre as atividades preferidas dos brasileiros, atrás de assistir televisão, ouvir música ou passar tempo no Facebook. Para transformar este cenário apurado pela pesquisa do Ibope feita em 2018, nasceu a Casinha de Livros, projeto que espalha mini bibliotecas por escolas públicas do Brasil. “São espaços lúdicos, feitos para fomentar o interesse pela leitura fora da sala de aula em crianças e adolescentes de seis a 14 anos”, conta Kátia Rocha, CEO da Rede Educare, empresa que trabalha com o fomento de projetos de impacto social e criou o conceito da Casinha de Livros em 2015.
“Entendemos que a leitura é uma questão social no Brasil. A pesquisa do Ibope mostra que 30% das pessoas nunca compraram um livro. Estamos 260 anos atrás dos países mais ricos quando se trata do hábito de ler e muitas escolas não contam nem com biblioteca”, diz. O conceito do projeto é simples e, segundo ela, eficaz: levar livros legais às escolas, coisas que despertam o interesse e não chegariam por outro meio, como a viciante série do Harry Potter ou o Diário de um Banana. Kátia fala a respeito:
“Muitas crianças já pensaram em ter uma casinha de boneca. Aproveitamos isso, mas recheamos ela de livros”
Cada unidade tem mil edições sobre os mais variados temas. Além dos campeões de leitura, há obras que levantam discussões necessárias à sociedade como o respeito às diferenças, empoderamento feminino, meio ambiente, culturas tradicionais indígenas e africanas e questões de gênero. Tudo sem polêmica desnecessária, apenas com informação e conhecimento, diz a fundadora do projeto. “Há também jogos de tabuleiro, livros em braile e áudio books. A ideia é instigar os alunos e atender aos interesses da escola”, complementa.
Ao receber o espaço, cada instituição passa por uma capacitação para entender o potencial de uso. Mas a ideia é que as escolas desenvolvam suas próprias atividades, façam as ativações que considerarem mais interessantes e, no fim das contas, alcancem os próprios objetivos pedagógicos e culturais. Do outro lado, os alunos ganham carteirinha de sócios para usufruir da Casinha.
ENGAJAMENTO E IMPACTO POSITIVO EM ÁREAS DE RISCO
Kátia entende que a Casinha de Livros é uma das formas de atacar uma questão séria no Brasil. “A falta de interesse pela leitura no país é uma questão endêmica e muito grave. As coisas ainda pioram quando pensamos no campo, em regiões mais afastadas dos centros urbanos”, diz. Até pelo tamanho do desafio, o projeto é um trabalho de formiga que ganha corpo devagar.
Kátia estima que cada unidade gere impacto direto em até 2,4 mil alunos, dependendo do tamanho da escola. O ciclo positivo também inclui professores. Questionada sobre o interesse das crianças e adolescentes, ela garante que os efeitos da iniciativa são os melhores possíveis:
“Funciona muito bem porque é lúdico. É um espaço de leitura em princípio, mas pode se transformar em um espaço de brincadeiras, em um teatro de fantoche. Todas as escolas que recebem a Casinha conseguem aumentar seu número de leitores”
Para dar um incentivo adicional, em 2019 o plano da Rede Educare é premiar de alguma forma o aluno que mais ler dentro do projeto. “Entendemos onde termina o nosso trabalho e não queremos invadir o espaço das escolas. Neste caso, no entanto, sentimos que o reconhecimento pode ser um bom incentivo”, diz.
PARA MUDAR O MUNDO, COMECE PEQUENO
Com quatro anos de projeto focado principalmente em escolas localizadas em áreas mais críticas, de risco, Kátia diz ter aprendido que incentivar a leitura entre os mais jovens de fato funciona. Outra lição importante, enumera: “É essencial desenvolver parcerias para manter a iniciativa de pé, em expansão”. O projeto opera com o apoio das prefeituras e o fomento da iniciativa privada. A 3M, por exemplo, já patrocina desde 2015 a realização do projeto em nove escolas via lei de incentivo à cultura. Em 2019, serão mais duas unidades.
Ao todo hoje há 15 Casinhas de Livros em atividade, espalhadas pelo Amazonas, Pernambuco, São Paulo e Santa Catarina. “Cada unidade custa de 55 mil a 70 mil reais, dependendo da região e das condições logísticas. Sem apoio não temos como ir em frente”, diz. Kátia sabe que a iniciativa não conseguirá por si só resolver o problema da falta de leitura, tão enraizado no Brasil. Por isso mesmo, o sucesso neste caso está em dar algum passo, ainda que seja pequeno.
“Não temos a pretensão de mudar tudo sozinhos e sei que a conjuntura para falar do assunto é difícil, mas precisamos trazer para a pauta. Temos um trabalho de 260 anos pela frente”
O plano, diz Kátia, é ampliar o projeto e fomentar a leitura em mais escolas brasileiras. Segundo ela, em tempos de transformação digital, ler é a atividade essencial para entender o caminho das mudanças, ter esclarecimento e gerar novas soluções. “As pessoas têm o hábito de focar sempre no aspecto tecnológico da revolução. É importante lembrar que leitura é o caminho essencial para que a gente chegue a qualquer nova tecnologia”, resume, sem deixar margem para dúvidas: ainda que demore 260 anos, o trabalho precisa começar.
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