Shows, simuladores de realidade virtual, cultura maker, diversidade e duas dezenas de palestras e bate-papos sobre inovação, arte e tecnologia: essa seria uma descrição-relâmpago do que foi o 1º Tech Art Festival, realizado no último dia 23, um sábado, em Porto Alegre. O evento atraiu palestrantes brasileiros e internacionais, além de mais de 2 000 visitantes. O Draft foi Media Partner do festival e viu de perto tudo o que aconteceu por lá.
A primeira edição do Tech Art Festival marcou a inauguração da Fábrica do Futuro, no 4ᵒ Distrito (bairro que vem reforçando sua fama de “Distrito Criativo” pela presença de jovens empresas, ateliês e projetos diversos ligados à economia criativa). Com 4.000 metros quadrados, esse novo coworking multifuncional — criado para abrigar startups e scale-ups, além de eventos culturais, auditórios, salas de aula, food corner, área infantil e espaço zen — nasce com a proposta de ser e gerar um ecossistema capaz de consolidar a capital gaúcha no mapa da inovação mundial.
ALIAR ARTE E TECNOLOGIA PARA IMAGINAR FUTUROS POSSÍVEIS
A fusão de arte e tecnologia permeou o evento de ponta a ponta. Na cerimônia de abertura, antes mesmo da apresentação da Camerata Jovem da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, o palco recebeu Fabulous, ou apenas “Fab”, uma robô social avançada que fará parte do novo ecossistema, interagindo com os visitantes. Francisco Hauck, CEO da Fábrica do Futuro, falou da importância de se aliar arte e tecnologia em prol do humanismo:
“A arte está presente neste local para que a tecnologia nunca esqueça que o ser humano é seu objetivo maior”
Ao longo do dia, o público pôde conhecer as criações da Aerolito, um laboratório porto-alegrense de exploração de cenários futuros que viabiliza a conexão de pessoas e empresas com novas tecnologias. Com apoio da Realidade Virtual, as instalações imersivas permitiam mergulhar na meditação (Dharma VR) e embarcar numa “viagem sinestésica” (LS4D) que simula os efeitos de uma experiência com ácido lisérgico.
Um dos autores da obra, Guilherme Novak ajudava cada visitante com os óculos e fones, explicando a experiência sensorial e o trabalho da Aerolito. “Já produzimos experimentos relacionados à educação, saúde, entretenimento e arte com a intenção de demonstrar futuros possíveis nos quais essas tecnologias nos impactam positivamente.”
COMO ENFRENTAR GIGANTES? DISRUPÇÃO!
A potência transformadora da tecnologia reverberava em cada uma das sessões que enfocaram as iniciativas e trajetórias dos palestrantes convidados. Temas como inteligência artificial, análise de dados, fake news, o futuro do mercado de trabalho e os desafios do empreendedorismo foram abordados por Anna Yendo (Arborea Biotech), Gabriel Engel (Rocket.chat), Miguel Andorffy (Mesalva!) e Tito Gusmão (Warren) no painel “Os futuristas – quais as grandes tendências do mercado global?”.
Gabriel fez questão de encorajar os futuros empreendedores, afirmando que a concorrência com corporações estabelecidas não deve ser uma fator inibidor para o surgimento de novas companhias:
“As empresas grandes às vezes estão presas a um modelo de negócio. E, se aquilo que estás fazendo é disruptivo, elas não vão conseguir competir contigo. Teu diferencial é quase uma barreira de entrada para elas”
Há espaço de sobra para surgimento e expansão de empresas novas e disruptivas: essa ideia foi defendida por In Hsieh, speaker do painel “China Innovation. Criando Unicórnios Binacionais”.
Dedicar-se à inovação por si só, porém, não basta: é preciso mirar as demandas do consumidor por um viés 360°. Além de oferecer o produto final, as empresas devem prestar serviços e produzir conteúdos para o cliente.
In estimulou os empreendedores em geral a se dedicar à criação de uma cultura de mentalidade aberta dentro da empresa, conectada com sua comunidade e serviços complementares, criando um ecossistema, como acontece na China.
E como já acontece também no Brasil, a exemplo da Flagcx, uma autodenominada plataforma de disrupção criativa que vem revolucionando silenciosamente o mundo do trabalho. Em sua palestra, a sócia Luisa Martini contou sobre o modus operandi da empresa, compartilhou cases bem-sucedidos e informações de bastidores.
Uma das tônicas de sua fala foi a questão da transformação, elemento que está no DNA do negócio e ganhou ainda mais força com as mudanças estruturais que a Flagcx promoveu nos últimos anos, quando passou a operar exclusivamente com colaboradores trabalhando remotamente.
Ainda que a empresa nunca tenha se limitado a padrões engessados, o processo foi desafiador e exigiu a criação de um estado constante de adaptação, mudando a forma de trabalhar e fortalecendo um perfil empreendedor nas pessoas que formam a empresa. Para Luisa, esse processo intensificou sua concepção de que o empreendimento é “como o movimento de vida, em um estado natural e constante de adaptação à mudança”.
PALAVRAS DE ORDEM: DIVERSIDADE E IGUALDADE DE DIREITOS
O protagonismo feminino na tecnologia e na indústria criativa foi uma das tônicas do Festival. Nomes de peso estiveram em Porto Alegre debatendo suas trajetórias e participação na revolução digital e defendendo novos paradigmas sociais.
Evelyn Mendes, mulher trans programadora, abordou a inclusão em seu painel intitulado “A importância da diversidade no universo tech”. Ela afirmou que o desmantelamento do machismo nas empresas é um primeiro passo fundamental para promover avanços em outras frentes.
Para a programadora, uma pessoa machista normalmente respalda a desigualdade racial e a LGTfobia — é uma questão de tempo e oportunidade para que esses traços apareçam. A diversidade, acredita Evelyn, é um traço fundamental da tecnologia, que ajuda a promover eficiência na resolução de problemas complexos e se traduz em maior rentabilidade para as empresas.
Cynthia Zanoni também bateu na tecla da relevância do tema. Engenheira de software na Microsoft, ela apresentou a palestra “Mulheres na Tecnologia – a hora é agora!”. No seu foco, o gap ainda existente entre a vontade das mulheres de trabalhar na área, de um lado, e as oportunidades e a presença feminina no mercado tech, de outro.
Para mudar essa realidade, Cynthia criou a WoMakersCode, uma comunidade técnica dedicada ao protagonismo feminino na tecnologia, auxiliando mulheres no aprendizado de open source e no aprimoramento de outras habilidades, como conhecimentos de inglês, desenvolvimento pessoal e life hacking.
A opinião unânime do público, ouvido entre uma e outra atividade, era de que o Tech Art Festival e a Fábrica do Futuro chegam em ótima hora. Acostumados a receber, à distância, notícias sobre iniciativas inovadoras em outras metrópoles do país, os porto-alegrenses parecem estar prestes a vivenciar uma transformação radical na forma como sua cidade acolhe e impulsiona a tecnologia e a disrupção.
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O Brasil é um país de leitores? Tainã Bispo acredita que sim. Ela migrou de carreira, criou duas editoras independentes (a Claraboia, que só publica mulheres, e a Paraquedas), um selo editorial e um serviço de apoio a escritores iniciantes.
Allan e Símon Szacher empreendem juntos desde a adolescência. Criadores da Zupi, revista de arte e design, e do festival Pixel Show, os irmãos agora atendem as marcas com curadoria, branding, vídeos e podcasts através do estúdio Zupi Live.