Com um toque na tela de um celular – ou no “rosto” de uma simpática robô batizada de Ju –, o consumidor pode selecionar que tipo de obra vai fazer (construir ou reformar), em qual ambiente vai mexer (banheiro, cozinha, quarto etc.), que piso ou revestimento prefere, o modelo, a marca e a cor dos acessórios que vai usar e até escolher o profissional que vai executar o serviço. Se ele estiver pensando em comprar um carro novo, pode receber, também por meio de um aplicativo depois de responder a algumas perguntas, as sugestões que mais têm a ver com seu perfil ou com seu momento atual de vida. Enquanto decide isso tudo, a pessoa come um saboroso hambúrguer que, em vez da gordura usada em sua formulação, é feito com fibras de laranja capazes de garantir sua suculência, mas que o tornam muito mais saudável.
Essas e várias outras soluções foram apresentadas nos últimos dias 14 e 15 de maio no Votorantim.hub, evento de inovação promovido em São Paulo pela holding Votorantim S.A. para que todas as empresas nas quais investe – que transitam pelas mais diferentes áreas, de mineração a suco de laranja, de banco a energia – mostrassem como pensam o futuro. A mensagem para as cerca de 5 mil pessoas que estiveram por lá era clara: pensar no futuro não é apenas tarefa de startups do Vale do Silício. É, também, incumbência das grandes corporações.
O espaço escolhido para o Votorantim.hub é emblemático. Localizada na Vila Leopoldina, a Arca é um galpão de 9 mil metros quadrados, em que funcionava uma antiga metalúrgica, e que hoje está revitalizado para receber grandes ações.
Duas das inovações citadas lá em cima – o hambúrguer da Citrosuco, e o e-commerce e o robô para lojas físicas da Votorantim Cimentos, parte do projeto chamado Juntos Somos Mais – são soluções que devem ser lançadas em breve. Já o aplicativo Qual Carro, desenvolvido pelo Banco Votorantim, foi até premiado (no Agile Trends, evento de tendências, técnicas e projetos relacionados à agilidade) e está disponível em versão beta para as plataformas iOS e Android. As estrelas do Votorantim.hub foram essas e outras soluções, já existentes ou não, das empresas que formam o portfólio da holding.
A programação contou ainda com 78 palestras, no palco central e em cinco outros, com temas tão diversos quanto o futuro da nutrição, novas formas de trabalhar, realidade virtual aplicada aos negócios, criação de startups dentro de empresas, educação de qualidade, cultura maker, agricultura 4.0, cultura não-violenta, empoderamento feminino, responsabilidade social, democracia e cidadania e negócios de impacto na habitação para a população de baixa renda. Convidados como o chef Felipe Bronze – que apresentou um “cooking show” usando a base do purê de laranja para fazer receitas como catchup e sorvete – e o ex-judoca e apresentador Flávio Canto e a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, que participaram de um debate sobre a transformação social através do esporte promovido pela BV, a marca de varejo do Banco Votorantim, disputavam os flashes das câmeras dos celulares dos convidados.
“Inovação não tem a ver apenas com a tecnologia”, afirma Mirella Ugolini, gerente de desenvolvimento humano e organizacional da Votorantim S.A. e uma das organizadoras do Votorantim.hub. “Ela tem a ver com pessoas. É um processo, uma mudança de mindset”
Nos estandes, era isso que as empresas que compõem do portfólio da Votorantim queriam mostrar. Na CBA, por exemplo, a transformação começou em 2014, com a crise mundial pela qual o setor de alumínio passou. Lá, a empresa lançou o Projeto Horizontes, começou a trabalhar a cultura interna e mudou o jeito de fazer negócios, que envolve agora um processo de cocriação com o cliente, da prototipagem à solução final. Isso não quer dizer que a empresa não faça uso da tecnologia também: entre outras, a CBA adotou treinamento com realidade virtual para equipamentos como o desbastador e drones para monitorar barragens e fornecer informações topográficas.
A Nexa quis mostrar seu caminho rumo à mineração 4.0, que já resultou em pelo menos dois programas: o Mining Lab, para operar soluções e minas, em que robôs são usados para fazer a topografia delas, e o Digital Mining, para automatizar todas as operações da empresa no Brasil e no Peru – para isso, tecnologias como realidade virtual e operações remotas são utilizadas. Além disso, sistemas de wifi estão sendo introduzidos em minas para que as rotas internas possam ser calculadas, aumentando a segurança – uma espécie de Waze subterrâneo. Outro projeto inovador da Nexa é a comercialização de rejeitos de sua barragem de Morro Agudo, em Minas Gerais, para o agronegócio: o subproduto da atividade da empresa serve para enriquecimento do solo e correção do pH. A vantagem extra: a barragem não cresce mais, portanto não oferece perigo de rompimento.
Para ser inovadora, é melhor uma empresa trabalhar com startups ou fomentar o intraempreendedorismo? O Votorantim.hub mostrou que nas empresas investidas há espaço para as duas opções. O Centro de Excelência (CoE), um fornecedor de soluções para as empresas da holding e para o mercado, apresentou o resultado do trabalho de uma startup interna, o Avaliei. Um grupo de seis funcionários percebeu que um processo já usado por eles para fazer avaliação de imóveis do grupo poderia ter uma outra aplicação. Eles criaram então uma solução que pretende modificar a forma como os bancos fazem avaliação de imóveis para oferecer crédito para seus clientes. Em um modelo de “uberização”, um aplicativo seleciona engenheiros ou arquitetos que estejam mais perto do imóvel a ser vistoriado, que serve como garantia do crédito. Sem nenhum contrato com ninguém envolvido no sistema, o que reduz possíveis fraudes, esses profissionais podem fazer a vistoria e o laudo – e ainda ganham uma fonte de renda extra. Depois, um algoritmo que mistura vários dados, do IBGE ao Google Maps, abastece o sistema com informações sobre o imóvel. Hoje, o Avaliei já está funcionando em São Paulo e a expectativa é de que se espalhe pelo Brasil todo em dois anos.
Se o empreendedorismo interno dá frutos, as parcerias com startups também tiveram seu espaço nos estandes, como no da Votorantim Energia. Lá, o Portal Solar expôs seus painéis solares, que podem ser impressos em diversas superfícies, de fachadas de prédio a teto de carros. Outro parceiro, o Litro de Luz, mostrava como fazer um lampião solar. Feitos com objetos simples como garrafas PET, canos de PVC, luz de led, bateria e uma placa solar, os lampiões levam iluminação a comunidades do país todo que não têm acesso adequado, ou mesmo acesso nenhum, a fontes de energia. O objetivo da empresa, que trabalha com energia renovável (hidráulica, eólica e começa agora com a solar), era trazer à tona a discussão sobre o ciclo de energia.
“De que vale nós andarmos de patinete elétrico por aí se não sabemos se a energia que abastece aquele aparelho vem de uma fonte sustentável?”, provocou um funcionário da Votorantim Energia
O objetivo do Votorantim.hub não era mostrar que o futuro dos negócios é um território conhecido. A holding quis, sim, comprovar que algumas certezas já estão incorporadas em sua rotina e na das empresas de seu portfólio – e que, portanto, elas não devem ficar para trás.