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O trabalho está deixando as pessoas doentes. Como mudar este cenário?

Giovanna Riato - 18 jul 2019
Cláudia Rizzo, da Sodexo, defende que empresas assumam o protagonismo de uma transformação que envolve moderar a cultura da competição e estimular o bem-estar entre os colaboradores.
Giovanna Riato - 18 jul 2019
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Ansiedade, depressão, síndrome do pânico, burnout, gastrite, hipertensão… Quantas pessoas você conhece que enfrentam algum transtorno físico ou mental relacionado ao trabalho? Caso vários nomes tenham surgido na cabeça, saiba que esta não é exclusividade da sua rede de contatos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2020, a depressão deve ser a maior causa para que colaboradores se afastem do trabalho.

No Brasil, estudo elaborado pelo Ministério da Saúde a partir da dados de 2012 a 2016, mostrou que transtornos mentais e comportamentais representaram a terceira principal razão para a licença médica dos trabalhadores, atrás apenas de lesões e doenças do sistema osteomuscular. É quase uma epidemia, conforme aponta Cláudia Rizzo, gerente de produtos Saúde da Sodexo Benefícios e Incentivos e pós-doutoranda com uma pesquisa relacionada à felicidade no trabalho.

“A verdade é que vivemos em uma cultura que favorece o surgimento destas doenças. No ambiente profissional, é mais fácil receber acolhimento por estar triste do que por ser feliz”

CUSTO ALTO PARA AS EMPRESAS

O avanço do número de transtornos físicos e mentais não pesa apenas na vida das pessoas que convivem com estas doenças, mas também no bolso das empresas e da sociedade. Estudo conduzido pela OMS estima que a economia global perca US$ 1 trilhão anualmente em decorrência da redução da produtividade causada pelos problemas psicológicos.

Em países desenvolvidos, a estimativa é de que os custos com estas doenças já correspondam a 3% a 4% do Produto Interno Bruto (PIB). Cláudia aponta que este quadro já custa caro no Brasil: “Com tanta gente precisando de afastamento, a conta do seguro saúde já é a segunda maior de muitas empresas, perdendo só para a folha de pagamentos”, lembra.

“Quando falamos da situação oposta, que é a felicidade no trabalho, a tendência é de aumento da produtividade”, diz, citando estudo da Universidade de Warwick, no Reino Unido, que mostrou incremento de 12% na performance quando o colaborador se sente realizado com a vida profissional.

A OMS calcula que a depressão já acometa mais de 300 milhões de pessoas no mundo e os transtornos de ansiedade fazem parte da vida de 260 milhões de pessoas. Recentemente, a Organização incluiu a Síndrome de Burnout, o esgotamento profissional, na Classificação Internacional de Doenças (CID), lista que reúne as causas e sintomas para diversas questões de saúde.

AS EMPRESAS PRECISAM ASSUMIR O PROTAGONISMO

Cláudia percebe que, enquanto as entidades mundiais da área da saúde voltam o olhar para entender como reduzir a presença dos transtornos mentais e fisicos na sociedade, uma série de empresas vai na contramão do combate a estas doenças no ambiente corporativo. “Há um movimento muito claro de organizações que oferecem ambiente mais informal, em que as pessoas podem ir de chinelo e levar cachorro, mas isso não resolve a questão. Estamos falando de algo muito mais profundo”, diz.

Ela entende que, para fomentar a felicidade e afastar doenças, as empresas precisam promover mudanças culturais que estimulem os colaboradores a cuidarem de si próprios.

“Hoje, vemos uma série de empresas que oferecem ioga ou meditação para os colaboradores. O problema é que, na maioria delas, pega mal a pessoa dar uma pausa de meia hora e se dedicar a uma destas práticas ao longo do dia”

Assim, Cláudia defende que as organizações protagonizem uma transformação para promover a felicidade entre as pessoas, readequando a cultura da competição, da pressão extrema por resultados e evitando a normatização de ambientes corporativos que sejam mais acolhedores às pessoas infelizes do que àquelas que buscam sentir-se bem. “Este clima tenso que faz com que as pessoas estejam sempre correndo atrás de algo que sequer sabem o que é tem extremo potencial nocivo”, diz a executiva. E complementa:

“As empresas são essenciais para ajudar as pessoas a construírem um novo modo de viver. Pode vir delas o incentivo ao aumento da capacidade de ser feliz”

Cláudia diz já notar algum movimento neste sentido. “Aumentou consideravelmente o número de empresas que procuram a Sodexo em busca de serviços de assistência psicológica para oferecer aos funcionários”, conta. No fim das contas, lembra a executiva, não há corporação de sucesso sem um ambiente em que as pessoas estejam bem e saudáveis.

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