Mais da metade da população brasileira é negra. Mas será que essas pessoas estão sendo visto pelas empresas como potenciais consumidoras de produtos e serviços?
A resposta é não. E Luanna Teofillo sempre soube disso durante sua vida profissional. Essa inquietação ganhou ainda mais força depois que ela mesma sofreu discriminação racial no ambiente de trabalho. Leia abaixo a história dela, que culminou na criação do Painel BAP.
“Cresci com mais oportunidades do que a maioria das pessoas que são parecidas comigo no Brasil. Estudei e me profissionalizei até me tornar executiva, algo raro entre pessoas pretas. Mas em 2016, mesmo trabalhando em um cargo alto em uma multinacional, fui vítima de discriminação racial. Um dia, a diretora da empresa viu minhas tranças e, na frente de todos os meus colegas, disse: ’Eu não aguento mais. Tira isso!’ Na época, direcionei a minha dor para uma página de Facebook chamada Tira Isso, que começou a crescer depois que passei a reproduzir histórias de quem havia sofrido racismo em situações parecidas, o chamado racismo corporativo.
Eu já havia trabalhado em uma startup de pesquisa de mercado no passado e também havia descoberto uma lacuna nesse cenário: ninguém conhecia o perfil do consumidor afrobrasileiro.
Nossas demandas não são atendidas, embora a gente represente um grande mercado consumidor. Ainda há muita segregação no mercado de trabalho. Por isso, a visibilidade que ganhei com a situação de racismo me deu forças para criar o Painel BAP, o primeiro painel afrobrasileiro de consumidores. A ideia é convidar essas pessoas a participar de pesquisas de mercado remuneradas e aumentar a representatividade da população preta junto a empresas e instituições.
A partir daí, há dois resultados positivos: o primeiro é que, com o dinheiro, os participantes podem usar a nossa loja, a BAP Store, para consumir produtos feitos por parceiros nossos, que são afroempreendedores e profissionais, o que cria um ciclo de prosperidade e um sistema de black money, que é a circulação de bens e produtos entre pessoas pretas, fortalecendo o mercado afrodescendente; e o segundo é a criação de uma inteligência de mercado que pode ser levada para as empresas para que elas conheçam melhor o consumidor brasileiro – que é majoritariamente negro mas é subrepresentado.
Atualmente, contamos com uma rede de mais de 30 mil participantes, recrutados principalmente pelo Facebook. São pessoas que já entendem que responder a uma pesquisa nossa gera impacto social e reinventa a economia. Também, é no meu Perfil de Facebook e na Página do Painel BAP que minha fala se torna um produto de acesso amplo, que mostra que pessoas como eu não estão sozinhas em seus desejos, pontos de vista e demandas.
Hoje, uso a discriminação que sofri para me tornar representante de um movimento e dar voz a pessoas que não conseguem falar.
Sou o principal produto da minha empresa e criei uma oportunidade para falar de representatividade e me conectar com mais gente para gerar mobilização e fazer diferença.”
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