Dois exemplares de mogno brasileiro erguem-se altivos no pátio da casa de Gilberto Derze, em Brasília. Alguns anos atrás, o até então analista de sistemas não tinha ideia de que espécie de árvore era aquela. Mas um visitante sabia — e comentou que, com aquelas duas ali no quintal, a aposentadoria de Gilberto estava garantida.
“Meu sogro é pecuarista. Fui pesquisar e comecei a achar que plantar árvore talvez fosse mais interessante que criar gado”, conta Gilberto, 43, sócio da Radix Florestal, uma empresa que planta mogno africano e vende títulos florestais.
Por meio do sistema de equity crowdfunding, qualquer pessoa pode ser sócia das florestas da Radix. A cota mínima é de cerca de R$ 450.
“Queremos democratizar o investimento florestal e disseminar a cultura ambiental, mostrando que é possível ganhar dinheiro investindo em verde”
Funciona assim: a Radix implementa uma área, planta as árvores, abre chamada para investimento e vende os títulos florestais. O valor do título é uma composição entre o preço do mogno no mercado e o tempo de maturação (tamanho das árvores) da floresta já plantada, no momento do lançamento.
O MOGNO AFRICANO RESISTE A UMA PRAGA QUE ATACA O MOGNO BRASILEIRO
O mogno africano (Khaya ssp.) é bem adaptado ao Brasil e resistente a uma praga que ataca o mogno brasileiro (Swietenia macrophylla, aquele do quintal de Gilberto): a broca-do-ponteiro. Além disso, a extração do mogno brasileiro é proibida, pois é uma espécie ameaçada de extinção.
A demanda por este tipo de material começou a aumentar há cerca de cinco anos, afirma Gilberto. E, junto com ela, a extração ilegal.
“Enquanto houver demanda, a ilegalidade vai existir. Nossa ideia é criar um mercado positivo de produção dessa madeira. Plantada, e não nativa. Quando eu tirar essa madeira eu vou fornecer ao mercado e evitar que a nativa seja retirada”
Segundo o empreendedor, o investimento florestal no Brasil é concentrado em pinus e eucalipto, que são madeiras mais leves, com o ciclo mais rápido. “Mas o mogno, madeira dura, tem um valor muito maior e garante um retorno bem mais alto.”
OS SÓCIOS BUSCARAM APOIO DE UM AGRÔNOMO ESPECIALISTA EM MOGNO
Gilberto começou a pesquisar o cultivo de mogno africano em 2014. Chamou o amigo Thiago Luiz Silva Campos, 30, do mercado financeiro, para ser sócio. Como nenhum deles é agrônomo, foram atrás de conhecimento especializado. “No início, tivemos o acompanhamento do Instituto Brasil de Florestas. Hoje contamos com Rodrigo Machado, agrônomo especialista em mogno africano.”
O investimento inicial dos sócios foi de cerca de R$ 500 mil. Em 2015, plantaram dez hectares na fazenda do sogro de Gilberto, em Unaí (MG). Depois, compraram uma terra em Roraima, para os módulos dois e três do cultivo, que somam 40 hectares. O módulo quatro foi plantado em agosto de 2018, numa área de 20 hectares arrendada por 25 anos, também em Roraima — totalizando 70 hectares de plantio.
Cada hectare de plantio tem 200 cotas. Na oferta mais recente, entre fim de agosto e a primeira quinzena de setembro de 2019, cada cota valia R$ 450 (os sócios, porém, mantêm algumas cotas consigo, e dão desconto em outras).
Ao todo, foram captados R$ 594 870, com 197 investidores. De cada rodada, a Radix investe 30% no manejo da floresta, 65% no fundo de custeio e expansão, e 5% vão para um fundo sócio-ambiental.
O PRAZO LONGO DE RETORNO É UM DESAFIO PARA CONVENCER INVESTIDORES
Atualmente a Radix tem 470 investidores. O ticket médio é de R$ 2 800; segundo Gilberto, “mais de 50% fazem o investimento mínimo”. A emissão dos títulos acontece por meio do Basement, uma plataforma de crowdfunding de investimentos com registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A expectativa de rentabilidade dos títulos florestais da Radix é de 12% ao ano, mais inflação, sobre a produção esperada, tendo como base o valor da madeira no momento do lançamento da chamada. É um investimento de longuíssimo prazo: o primeiro desbaste das árvores ocorre em cerca de oito a dez anos, e a colheita final leva de 18 a 20 anos para ocorrer.
“Muitos de nossos investidores são pessoas que estão tendo filhos agora e estão pensando lá na frente. Mas o prazo realmente assusta muita gente. Essa foi a principal dificuldade que encontramos no início. É difícil convencer as pessoas”
Além disso, é um investimento com baixa liquidez. Os títulos florestais só podem ser negociados se houver um comprador interessado, e não há uma plataforma para essa negociação.
A vantagem é que o risco, segundo Gilberto, é mínimo; uma eventual perda dos ativos por incêndios é mitigada por ações preventivas e um seguro florestal. “O risco de perda em investimento florestal é de menos de 1%. É quase mais seguro do que a poupança.”
OS DADOS DA RADIX SERÃO COMPARTILHADOS COM AGRICULTORES DE RORAIMA
Por enquanto, a Radix planta em sistema de monocultura, o que às vezes gera críticas de especialistas e ambientalistas — afinal, uma floresta nunca é uma monocultura. “Eu digo que pelo menos eu estou fazendo alguma coisa. Pego uma área degradada, onde antes só tinha pasto, e ‘boto’ uma floresta.”
Hoje, explica Gilberto, ainda não se faz agrofloresta (cultivo consorciado de várias espécies, mais parecido com uma floresta de fato) em larga escala porque não existe um modelo estabelecido. Para o monocultivo, há dados econômicos prontos e é possível gerar uma expectativa de retorno mais precisa. “No momento que tivermos dados sobre as agroflorestas, passamos para isso.”
Os dados estão sendo produzidos. O fundo sócio-ambiental da Radix banca a pesquisa de um cultivo agroflorestal que será, também, compartilhado com os agricultores de Roraima.
“Quando começarem as chuvas, em maio, entraremos com as outras espécies nas áreas de teste. Irrigação é um negócio caro. Queremos trabalhar com a realidade, desenvolver um modelo que as pessoas realmente consigam reproduzir”
Por enquanto, o módulo dois já incluiu o cacau nas entrelinhas do mogno. “Nos módulos três e quatro iniciamos um teste com plantas de serviço, como sorgo e milheto, para reposição de nitrogênio e produção de biomassa.”
A RADIX ESPERA ELIMINAR 7 MIL TONELADAS DE CO2 DA ATMOSFERA
Em 2020, a Radix pretende quase dobrar sua área plantada, dos atuais 70 hectares para 130. Os terrenos de plantio são sempre pastagens ou cultivos abandonados: segundo Gilberto, a empresa só trabalha em terras que já foram desmatadas.
“A gente não derruba árvores. Não faz sentido tirar mata virgem para plantar mogno. Mesmo as árvores que existem no meio do pasto não são derrubadas”
Com base em um estudo do Instituto Totum e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, os sócios calculam que o plantio tem potencial para eliminar cerca de 7 341 toneladas de gás carbônico da atmosfera.
“Essa é a expectativa de retenção de CO2 do plantio de madeira durante o ciclo total, de cerca de 20 anos”, explica Gilberto. Após o ciclo completo do cultivo, as árvores são arrancadas, mas o empreendedor afirma que a Radix já tem estudos para minimizar o impacto — e o plano de plantar outra floresta no lugar.
“Ernst Götsch [sistematizador da agricultura sintrópica, que popularizou o sistema agroflorestal] diz que a floresta não é egoísta. Aceita ser cortada, podada e se renovar. Vou tirar, mas vou deixar crescer de novo.”
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