Foi – qual a supresa? – entre um e outro copo de cerveja que o engenheiro de produção Bruno Salman, o administrador Rodrigo Moreira e seu pai, o economista e “professor Pardal” Djalma Moreira selaram o acordo: estava criado, naquela tarde de setembro de 2015, o conselho da startup ChoppUp.
A solução que o empreendimento ofereceria, a bem da verdade, ainda estava em desenvolvimento. Djalma e Rodrigo trabalhavam fazia três anos em um equipamento para reduzir o desperdício na extração do barril e no momento de servir o chope e outras bebidas vendidas a granel, que é de 30% a 35% – ou seja, um copo em cada três não é aproveitado. Para reduzir isso a quase zero, eles criaram uma chopeira tecnológica, que serve a bebida de baixo para cima.
Ela faz uso de copos comuns, de plástico ou vidro de qualquer tamanho, que a própria startup adapta para os clientes e têm, em seu fundo, uma válvula unidirecional, por onde o chope entra, mas não sai.
A ChoppUp foi uma das startups selecionadas pelo 1º Programa de Empreendedorismo Colaborativo TheHop Brasil, projeto da cervejaria espanhola Estrella Galicia, que vai acelerar cinco empresas nascentes do país. Ele tem início agora na semana do dia 4 de novembro, quando os empreendedores viajam para um período de 10 dias de imersão e mentoria na cervejaria, e segue até fevereiro do ano que vem.
Djalma Moreira, que passara a maior parte de sua carreira como executivo de empresas como Pão de Açúcar, tem nos trabalhos manuais um hobby. “Ele adora pensar e desenvolver novas soluções. Já Rodrigo tem a visão do consumidor e percebeu que, como seu pai conseguia transformar qualquer coisa em produto, eles poderiam criar algo que reduzisse o desperdício do chope. Com esse desafio, começaram a fazer testes”, diz Bruno, cuja amizade com os Moreira era antiga e nasceu da proximidade física: todos são vizinhos de condomínio em Alphaville, em Barueri, na Grande São Paulo.
Pai e filho tinham conhecimento de uma máquina japonesa com essa finalidade, mas acharam que a tecnologia poderia ser mais bem adaptada às nossas necessidades. “Até porque, no Japão, como tudo é muito mais escasso, há menos desperdício: na cadeia de bebidas ele gira em torno de 10% a 15%”, afirma Bruno.
O primeiro protótipo, criado em 2014, era, segundo Bruno, uma “bugiganga”. “Tinha um inalador, uns canudinhos, um copo furado, algo bem caseiro. Mas era mais para testar o conceito.” Em 2015, Rodrigo e Djalma viram que de fato era possível desenvolver um sistema e chamaram o amigo, que unia habilidades técnicas e gerenciais e tinha experiência em governança e busca de investidores, para participar do projeto.
“Foi ali, bebendo cerveja, que surgiu o nosso CNPJ”, diz ele, que se manteve, a princípio, parte do tempo dedicado ao negócio, já que tinha uma carreira em uma grande empresa de embalagens. O conselho formado, que trazia Bruno como CFO, começou os debates para desenhar o modelo de negócios e trazia também Gil Neto, amigo de faculdade de Rodrigo como CCO e cofundador – ele acompanhava a turma desde 2013, época dos estudos preliminares.
Havia diversas formas de explorar o equipamento, desde vendê-lo para o consumidor final, comercializá-lo para estabelecimentos comerciais ou mesmo apenas explorar eventos. Decidiu-se que vender a máquina não seria uma opção.
Os sócios perceberam que havia no mercado brasileiro potencial para trabalhar também com digitalização total do processo. “Isso quer dizer: a gente conseguir medir tudo o que está acontecendo no ponto de venda, copo a copo, gota a gota”, explica Bruno.
A tecnologia do enchimento do copo por baixo também foi definida aí. “Só com isso é possível reduzir quase 20% daqueles 35% de desperdício. Na queda livre, a bebida carbonatada solta muita espuma. Por isso aquela cena famosa do garçom jogando fora parte do colarinho do chope para chegar ao nível certo da bebida”, afirma. “Enchendo de baixo para cima, o copo vira, de fato, uma extensão do tubo por onde o chope sobe.”
Equipar a máquina com sensores e dispositivos para medir a quantidade de mililitros servidos, a temperatura e a pressão da bebida é o que garante a eliminação dos demais 10% a 15% de desperdício.
No fim, a bebida que não é consumida chega a quase nada: de 1% a 2%
O modelo de negócios com o qual a ChoppUp trabalha foi definido depois que os sócios consultaram alguns pontos de venda e ouviram suas queixas. Descobriram que os bares e restaurantes reclamam do atendimento das empresas de máquinas de chope e refrigerante, que apresentavam muitas falhas. “Um deles nos disse que a máquina ficava disponível apenas 65% do tempo”, conta Bruno.
Os sócios sabiam que o equipamento, por si só, era um chamariz de cliente. Mas, depois do encantamento inicial, qual seria a vantagem para o dono do estabelecimento? “A vantagem é a economia, que se traduz em maior rentabilidade para a bebida que ele está vendendo. No caso do chope, reflete-se em mais copos que ele pode comercializar por barril. E essa economia é maior quanto mais chope ele vende. Ela vem ao longo do tempo”, diz Bruno. “A dúvida foi: como então cobraríamos pelo serviço de uma forma correlacionada à entrega de economia que oferecemos?”
Assim eles chegaram no modelo de assinatura. O dono do estabelecimento não precisa fazer investimento inicial. “Afastamos esse fantasma, que seria alto. Nós mesmos bancamos a produção do equipamento e ele nos paga com parte de economia que tem. No fundo, não gasta nada. Em média, para cada R$ 2,20 que economiza, ele nos paga R$ 1.”
A mensalidade varia de acordo com o tamanho do equipamento, produzido on demand – a menor operação tem um só bico, a maior em uso hoje tem 10. A ChoppUp teve que criar uma linha de produção, que funciona num galpão de 1.300 metros quadrados em Jandira, em São Paulo, de onde saem suas máquinas. Para chegar neste modelo atual, que é capaz de encher qualquer tipo de copo com colarinho variável em até 15 níveis, eles registraram nove patentes.
Os copos também não representam investimento para o estabelecimento. A ChoppUp cobra apenas pela adaptação da louça do próprio cliente e, em sua fábrica, faz um furo no fundo e acopla a válvula, por onde entra o líquido. “Não queríamos que o copo fosse o cartucho da impressora, sabe? Que o cliente nos olhasse e pensasse: ah, é aí que eles ganham”, diz Bruno.
Até hoje, a ChoppUp já recebeu duas rodadas de investimento, com valorização de 50% entre as duas, e levantou R$ 3,5 milhões, o que comprometeu 15% da participação na sociedade. O investimento inicial, de R$ 900 mil, foi feito pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), do Ministério da Ciência e Tecnologia, por meio do programa Inovacred e com recursos repassados pela Desenvolve SP. Esse montante foi usado para a linha de montagem e para, de fato, desenvolver os produtos.
Antes de começar a trabalhar com bares, restaurantes, hotéis e afins, eles testaram o produto em diversos eventos. Essa divisão da empresa mantém-se firme e forte até hoje, e representa 20% da receita da ChoppUp – o sucesso nos eventos se dá também pela redução das filas para pegar um chope, já que é possível servir até 12 copos por minuto com cada máquina. No ano passado, o faturamento foi de R$ 2,5 milhões e a startup cresce 30% a cada trimestre.
Para o programa de aceleração TheHop Brasil, da cervejaria Estrella Galicia, a ChoppUp quer criar novas soluções de software que, somadas aos dispositivos IoT (internet das coisas) instalados nos pontos de vendas de bebidas, culminarão na completa transformação digital da operação logística da indústria. Os dados coletados pela tecnologia dos equipamentos da ChoppUp serão capazes, assim, de integrar e automatizar a cadeia de distribuição, desde a produção até o consumidor final.
O controle gota a gota que a máquina propicia é uma ferramenta poderosa de business intelligence que está sendo bem aproveitada no ponto de venda, mas que conta com dados que a própria indústria cervejeira não tem
“Um barril de chope, por exemplo, vence em sete dias e hoje não há muito controle por parte do fornecedor sobre a hora certa de trocar. Nossa ideia é usar os dados para isso”, afirma Bruno. Eles precisavam de uma cervejaria parceira para começar o processo – o TheHop Brasil veio bem a calhar.
O programa também pode significar uma porta de entrada para uma operação no exterior. “É um importante marco para estabelecermos uma relação duradoura com a marca espanhola aqui e na Europa”, afirma Bruno. No retorno dos empreendedores ao Brasil, a aceleração segue até fevereiro de 2020 e contará com forte interação com os executivos da Estrella Galicia e mentores do mercado. A base de operação do TheHop é o coworking Spaces Vila Madalena-Pinheiros, em São Paulo.
Startup que fatura R$ 2,5 milhões ao ano e está sendo acelerada pelo programa TheHop Brasil, da Estrella Galicia, acaba de abrir rodada de equity crowdfunding para investimento a partir de R$ 100.
Para a startup, uma das selecionadas no programa de aceleração da Estrella Galicia, mais do que economia para seus clientes, seu maior benefício é imensurável: redução de riscos para o negócio.
O empreendimento, um dos cinco selecionados para o programa de aceleração TheHop Brasil, da Estrella Galicia, propõe-se a resolver um problema que pode custar até 9% da receita de uma empresa.