Mesmo sem experiência prévia no mercado de arquitetura, Raphael Tristão e Anna Rafhaela Bonifácio decidiram empreender levando inovação ao setor. Eles são os fundadores da Archademy, que se anuncia como a primeira aceleradora para escritórios de arquitetura e design.
Raphael, que estudou Engenharia Ambiental mas não chegou a concluir o curso, cuida da área comercial e novos negócios. Anna Rafhaela, formada em Direito, responde por comunicação e pela gestão de pessoas. E conta:
“No começo fazíamos ‘tudo de tudo’. Com o tempo, nos dividimos intuitivamente. Sempre fui comunicativa. Na empresa, mais importante do que a formação são as habilidades e a capacidade de aprender”
Capixabas, eles se conheceram em Vitória, onde nasceram e estudaram juntos. Foram se reencontrar depois, no Rio de Janeiro, onde ele cursou a faculdade e estava trabalhando. Mas foi na capital paulista, após anos de amizade, que finalmente embarcaram no projeto em conjunto.
Com escritórios em São Paulo, Santos, Brasília e Floripa, a Archademy já acelerou mais de 150 pequenas e médias firmas de arquitetura do país. Em 2019, o faturamento foi de 2,3 milhões de reais, 30% a mais do que no primeiro ano.
UM MERCADO CARENTE DE INOVAÇÃO NAS RELAÇÕES COMERCIAIS
O insight que deu origem ao negócio começou a se formar quando Raphael trabalhava numa startup acelerada pela Wayra, da Telefônica. A experiência lhe emprestou uma expertise no universo das aceleradoras que seria útil mais tarde.
Quando o Grupo Abril comprou a Casacor, grande mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo do país, ele foi convidado para ajudar numa consultoria. Acabou se interessando pelo mercado da arquitetura:
“A oportunidade da consultoria se transformou em algo maior. Esse mercado tinha particularidades interessantes: era volumoso, influente e bem desenvolvido — porém desvalorizado”
Esse mercado, diz Raphael, é pulverizado e composto por um grande número de pequenos e médios escritórios: 75% das empresas não possuem mais de cinco funcionários.
Seu poder de influência, porém, é grande: 50% das vendas do segmento de alto padrão são especificados por Arquitetos ou Designers de Interiores, diz o empreendedor.
“Tínhamos a certeza de que, com essa assincronia de informações, estávamos diante de um mercado carente de inovação nas relações comerciais. E foi o que nos propusemos a fazer.”
UM HACKATON PARA DESAFIAR PEQUENOS ESCRITÓRIOS DE ARQUITETURA
Para construir uma comunidade que valorizasse esses pequenos escritórios, os sócios recorreram ao conceito de hackaton.
“Gostamos de escritórios pequenos”, diz Raphael. “Quando percebemos que eles eram o nosso target, entendemos que um hackathon seria a saída.”
A ideia, conta, era “promover e otimizar a relação comercial entre as marcas e os profissionais, e inverter a lógica comercial do mercado”: em vez da marca fornecedora “empurrar” o seu catálogo, o profissional tinha que entender a proposta dela e utilizá-la no projeto. “O processo era mais importante do que o resultado.”
Em maio de 2016, a Archademy lançou a primeira edição do Archaton, desafiando participantes a projetar um ambiente em 12 horas.
“Desde o primeiro evento, estimulamos a relação entre as duas frentes: arquitetos e empresas. Os eventos nos deram base para entendermos as dores do mercado. Por essa característica de pulverização, não encontramos muitos dados [sobre o setor]”
Vendido inicialmente como um projeto consultoria para Casacor capixaba, hoje os Archathons já acumulam mais de 40 edições realizadas em 12 cidades. Além de apoiar financeiramente, as marcas participantes ajudam na promoção.
ELES ENTREVISTARAM 100 ESCRITÓRIOS ANTES DE CRIAR A ACELERADORA
Para otimizar a relação comercial entre essas marcas e os profissionais de arquitetura, os sócios entrevistaram mais de 100 escritórios e criaram um banco de dados de problemas e oportunidades de negócio para resolver.
Assim, e com a bagagem de Raphael dos tempos de Wayra, concluíram que a solução para a maioria das dores das firmas do setor poderiam ser “atacadas” por meio de aceleração.
A aceleradora Archademy foi criada por eles 2018 com foco em quatro atores do setor: indústria, escritórios, lojistas e clientes (corporativos e comerciais). “Para cada um deles, temos um produto”, diz o empreendedor. “E cada produto é uma ‘ponta do iceberg’ que se sustenta junto.”
Num espaço de coworking em São Paulo, a aceleradora oferece mentoria, treinamentos, workshops, eventos e assessoria na gestão de orçamentos, por exemplo.
Para integrar a Archademy é preciso se inscrever pelo site e passar por uma entrevista. O plano é anual; cada estação de trabalho custa entre 499 reais e 999 reais.
TRANSFORMANDO CONCORRENTES EM UMA COMUNIDADE
Logo perceberam que, assim como o Archathon, o espaço do coworking promovia novos negócios, onde concorrentes se tornaram comunidade, trabalhando num ambiente colaborativo. Anna Rafhaela explica:
“O espaço físico nos ajudou a entender problemas e demandas. Fomentamos um ambiente orgânico de novos negócios. O raciocínio não é de ‘realizar um produto,’ mas sim otimizar as relações. As soluções foram sendo encontradas naturalmente”
Um exemplo de como a dinâmica funciona é o case do escritório da Lufthansa no Brasil, originado na Archademy. Seis firmas se juntaram para formar o grupo que ganhou a concorrência para a criação do projeto..
Criado pela AFGR Arquitetos, formada por Fabio Frutuoso, Aiê Tombolato, Glauco Vitor Dias e Renato Mendonça, todos acelerados pela Archademy, o projeto engajou seis escritórios, três mantenedores e um fornecedor oficial.
“Sozinhos, talvez eles não conseguissem”, diz Anna Rafhaela. “Mas, se unindo, venceram [a concorrência]. E este encontro aconteceu graças à Archademy.”
UMA PLATAFORMA DIGITAL ABASTECE A INDÚSTRIA COM DADOS DO SETOR
Hoje, a Archademy tem duas unidades em São Paulo (uma na Avenida Nove de Julho e outra na Alameda Gabriel Monteiro da Silva) e escritórios em Santos, Florianópolis e Brasília.
Grandes fornecedoras de insumos, como Suvinil, Kohler, Hunter Douglas e Portobello, se tornaram mantenedoras da startup e têm acesso a uma plataforma digital criada pela Archademy para abastecer a indústria com dados de mercado, que orientam a produção e novos lançamentos do setor.
“A indústria confiou muito nos dados de consumo que a gente trouxe. Levantar dados e promover relacionamento comercial eram o nosso objetivo desde o início. Isso nos deu credibilidade com a indústria. Hoje o mercado aposta no que a gente lança”
Falando em lançamentos, um dos mais recentes, já em tempos de Covid-19, é o Archabox, uma plataforma digital exclusiva para gestão de orçamentos.
“Começamos no offline e agora vamos para o digital”, diz Raphael. “Queremos unir tudo, mapear o comportamento do consumo e oferecer soluções para o mercado.”
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